Arquivo de janeiro de 2017

Tratado da Castidade

Postado por Admin.Capela em 25/jan/2017 - Sem Comentários

Santo Afonso Maria de Ligório

Acesse o Tratado aqui.

A descoberta da Outra

Postado por Admin.Capela em 22/jan/2017 - Sem Comentários

Um leitor que se diz assíduo, numa longa conversa telefônica, estranhou o pós-conciliar. O leitor entende o termo como se significasse a mesma Igreja Católica, na era pós-conciliar. Bem sei que nesse período conturbado continua a existir, na terra, a Igreja Católica dita militante. Ora, minha sofrida e firme convicção, tantas vezes sustentada aqui, ali e acolá é que existe, entre a Religião Católica professada em todo o mundo católico até poucos anos atrás e a religião ostensivamente  apresentada como “nova”, “progressista”, “evoluída”, uma diferença de espécie ou diferença por alteridade. São portanto duas as Igrejas atualmente governadas e servidas pela mesma hierarquia: a Igreja Católica de sempre, e a Outra. E note bem, leitor: quando acaso der a essa outra o nome de Igreja pós-conciliar não quero de modo algum insinuar a infeliz idéia de que, após o Concílio, a Igreja de Cristo se teria transformado a ponto de tornar-se irreconhecível, devendo os fiéis de bem forma­da doutrina católica acreditar nessa nova forma visível da Igreja, por pura disciplina, ainda que a maioria das pregações e dos novos ensinamentos sejam ostensivamente diversos e as vezes opostos à doutrina católica. Não! A Igreja Católica e Apostólica continua a existir na era pós-conciliar, submetida a duras provações, mas sempre permanente e fiel guardiã do depósito sagrado.

Se o leitor me perguntasse agora quais são as essenciais diferenças que separam as duas religiões, eu responde­ria: diferença de espírito, diferença de doutrina, diferença de culto e diferença moral. Como terei chegado a tão assustadora convicção? Com muito sofrimento e muito trabalho, são milhares os católicos que chegaram à mesma convicção.

Começamos por confrontar os novos textos, as novas alocuções, as novas publicações pastorais com a doutrina ensinada até anteontem. A começar pelos textos emanados dos mais altos escalões, citemos alguns daqueles que mais dolorosamente e mais irresistivelmente nos levaram à conclusão de que se inspiram em outro espírito e se firmam em outra doutrina. Entre os textos conciliares, citamos os seguintes: Constituição Pastoral sobre a Igreja e o Mundo Atual (Gaudium et Spes); Decreto sobre o Ecumenismo (Unitatis Redintegratio); Declaração sobre a Liberdade Religiosa (Dignitatis Humanae); Discurso de Encerramento do Concílio, 7 de Dezembro de 1965; Institutio Generalis do Novus Ordo Missae: Ponto 7 (na primeira redação, de 1967, e principalmente a segunda redação de 1970). Além desses documentos dos mais altos escalões, poderíamos encher as páginas deste jornal com obras e pronunciamentos de cardeais, arcebispos, bispos e padres que eram bisonhos, retraídos e discretos quando tinham vaga consciência de suas deficiências filosóficas e teológicas e que subitamente descobrem que na “nova Igreja” podem dizer tudo o que lhes vem à boca que fala ou à mão que escreve. O que menos se conhece é a Teologia, mas o que mais abunda na Nova Igreja são os “teólogos da libertação”. 

Devemos dar especial atenção aos pronunciamentos das Conferências Episcopais que rarissimamente dizem coisa parecida com a Santa Religião ensinada por Jesus Cristo. Basta prestar atenção, ler, e comparar toda a prodigiosa logorréia dos reformadores com o que já lemos dos santos doutores, dos santos Papas, e de toda a Tradição católica. Eles não falam a mesma língua de nossa Mãe Igreja, não usam o mesmo léxico, não seguem o mesmo espírito. Evidencia-se com brutalidade dolorosa o fato de ter sido a Igreja invadida, ou de ter se deixado seduzir pelos mesmos inimigos que combatia. Uma das notas mais características do novo espírito é a da tolerância erigida em máxima virtude, e o correlato horror por qualquer espécie de luta ou combate. Os novos levitas corrompem a juventude, destroem as famílias, mas quando alguém ergue a voz pedindo punição severíssima para os seqüestradores e para os traficantes de drogas, logo começam a esganiçar gritinhos: Violência, não! Violência, não!

E aqui encerro a concisa resposta que dou ao leitor escandalizado: foi a atenta observação desses fatos, foi a paciente leitura de himalaias de mediocridade e foi a comparação gritante entre o que ensinam e o que ensinaram os santos, e creio que foi principalmente a graça de Deus certa­mente pedida cada dia, cada hora, nessa especial e gravíssima intenção, que nos levaram a essas conclusões. Se é preciso usar o recurso dos gritos que tanto usam hoje, gritarei eu também, e não esconderei a reação que tive em 1965 após a primeira leitura da Constituição sobre a Sagrada Liturgia: corri ao telefone do amigo mais próximo já chorando, já engasgado de soluços que me sacudiam o corpo todo. E gritei: eles estão loucos! Eles estão loucos! E mais não digo.

Vejo em seguida nos meios católicos um dilúvio de calamidades pavorosas. Nas melhores famílias católicas, tradicionalmente católicas, os jovens, pervertidos pelos professores de colégios católicos, se transformam em anormais, comunistas, criminosos seqüestradores, ou em inutilizados toxicômanos. Meu Deus! Como pode? Como pode? Como Pode? O mistério da permissão divina nos traz vertigens quando pensamos em tantos bons pais tão terrivelmente atingidos.

Mas quando pensamos que a crise de costumes que dissolve todos os valores morais de uma civilização é principalmente gerada pela impiedade e pelo orgulho dos homens, que reivindicam todas as liberdades e todos os direitos; e principalmente quando pensamos que é exatamente nessa hora sombria que os homens de Igreja julgam ter feito uma descoberta muito inteligente, e muito oportuna – a de se abrir para o mundo e até a de nele procurar inspirações para o novo humanismo que apregoam – então, com temor e terror, pensamos que a misteriosa permissão divina, já nos foi profeticamente revelada na Sagrada Escritura, e durará até o dia em que os homens descobrirem apavorados que desprezaram Deus, que contrariaram Deus, que se riram de Deus. E, nesse dia de espantosa desolação descobrirão “que não passam de homens” e que só Deus é o Senhor.

Neste ponto da entrevista, o leitor me faz uma pergunta muito séria e de importância capital:

 Qual é, na sua convicção, o traço principal, o conteúdo essencial dessa Outra religião que o senhor vê nos re­cintos da Igreja Católica?

 Mais uma vez insistido neste ponto: a desordem que se observa nos meios eclesiásticos e que produz tais malefícios, não pode  ser apenas uma pura desordem. A desfiguração da Igreja do Verbo Encarnado, isto é, da religião do Deus que se fez homem, tem uma figura: a da religião do homem que se faz Deus. Essa é a figura da desfiguração.

 Não foi o próprio Papa Paulo VI quem disse no discurso de encerramento do Concílio que “a Igreja de Deus que se fez homem encontrou-se no Concílio com a religião do homem que se faz Deus“?

 Exatamente. E se o amigo continuar a atenta leitura desse documento, se convencerá de que não exagero nem me perco em fantasias se lhe disser que a figura essencial da Outra é a de um humanismo que se torna uma nova religião que difere do cristianismo por seu desolado naturalismo, isto é, pela ausência da mais bela de todas as obras de Deus – a ordem da graça e da salvação.

Eles tentam disfarçar a chatice e a tristeza sinistra e feia, com retalhos de cristianismo sem vida  mas a anemia profunda do corpo sem sangue está na visibilidade da Outra que só serve para eclipsar a Santa Visibilidade da Igreja de Cristo.

 E como poderá a Igreja Católica desembaraçar-se desses equívocos e voltar a ser  visível, dourada, um pouco mais hoje, um pouco menos amanhã, mas sempre anunciando aos homens, aprisionados no efêmero, um Reino que não é deste mundo?

 O senhor espera ainda ver neste mundo a Igreja Militante em todo o seu esplendor?

 Não. A desordem é profunda demais e chegou aos vasos capilares dos membros da Igreja. Se ela não fosse obra sobrenatural de Deus eu diria, em termos usados pelos físicos, que a desordem é sempre prodigiosamente irreversível.

E, no caso, a improbabilidade de tal recuperação seria ex­pressa por números espantosos como dez elevado a menos mil (10-1000) que, na verdade, não exprimem nada. Não são números concretos nem entes de razão; quando muito diríamos que só são entes de giz no quadro negro. Emile Borel dizia francamente que, diante de tais improbabilidades, é melhor dizer simplesmente que são impossíveis. Mas nós aqui estamos  falando da mais maravilhosa das obras de Deus: 

Deus qui humanae substantiae dignitatem mirabiliter condidisti, et mirabilius reformasti” 

E o que a nós parece impossível, é possível para Deus. Mas nossa esperança teologal não nos obriga a esperar acontecimentos neste mundo. No ponto da vida em que me acho, só posso esperar, pela misericórdia de Deus e pelo Sangue de Cristo, a felicidade de ver brevemente a Igreja do Céu em toda a sua beleza eterna e fora do alcance dos flagelos humanos.

E é a alegria dessa esperança teologal que, nestes dias de transição desejo aos meus leitores e companheiros de trabalho.

Gustavo Corção

(O Globo, 29/12/1977)

A nova Inquisição contra os cardeais “rebeldes”

Postado por Admin.Capela em 17/jan/2017 - Sem Comentários

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Finalmente, chegou ao conhecimento do grande público a vergonhosa divergência doutrinária entre um grupo de cardeais ditos “conservadores” e o papa Francisco sobre a exortação pós-sinodal Amoris laetitia. Uma divergência doutrinária vergonhosa e descabida por vários motivos. Vergonhosa porque já se pôde notar, ao longo da contenda, mudança de posições adotadas por ao menos um dos críticos de Amoris laetitia, como o sr. cardeal Muller, da Congregação para a Doutrina da Fé, que antes se declarava contrário às inovações da referida exortação, e agora se bandeou para o lado do papa, censurando publicamente os cardeais que interpelam Francisco I. Vergonhosa também porque em seus desdobramentos essa contenda começa a ferir os direitos da Soberana Ordem de Malta unicamente com o escopo de atingir seu patrono, o cardeal Burke, um dos principais signatários da interpelação do pontífice, mais conhecida como dubia. E descabida porque versa sobre um ponto doutrinário sobre o qual não paira a menor dúvida: um casamento rato e consumado não pode ser dissolvido nem sequer pelo papa, de modo que quem contrai segunda união após um casamento legítimo comete pecado de adultério e, por conseguinte, não pode receber absolvição enquanto não se desligar da união ilegítima e não pode receber a sagrada comunhão.

Agora os cardeais interpelantes estão sendo censurados pelo cardeal Muller por terem tido a coragem de tornar pública a correspondência dirigida ao papa como se fosse um desacato à autoridade do pontífice, uma intimidação contra o santo padre. Mas o pior é que se começa a esboçar um verdadeiro processo atrabiliário contra os cardeais, já ameaçados de degradação do cardinalato pelo presidente da Rota Romana. Com efeito, dir-se-ia que se estabelece uma inquisição bem ao gosto dos tempos modernos, bem adaptada à mentalidade do homem de hoje e aos recursos disponíveis. Em vez de um tribunal que julga os delitos contra a fé à luz da doutrina perene, à luz do dogma, em vez de um tribunal que conta com o trabalho sereno de teólogos que instruam um processo, apela-se logo aos meios de comunicação para conceder entrevistas que conquistem a simpatia da opinião pública, em vez de tratar o assunto em seu âmbito próprio e com os critérios legítimos. E a imprensa, que historicamente sempre se posicionou contra a Igreja e promoveu todas heresias e revoluções anticristãs, agora se mostra solidária com o papa e vilipendia os cardeais “conservadores” rotulados de rigoristas, homens rígidos, legalistas, desumanos, completamente alheios à realidade, incapazes de perceber a complexidade da vida humana que não se pode engessar dentro de esquemas teológicos ou ideológicos, como gosta de dizer Francisco I.

Quer dizer, a nova Inquisição entrega os cardeais acusados de cisma ao novo braço secular da Igreja pós-conciliar, a mídia. E esta se encarrega de executar a sentença de morte, condenando à execração pública os cismáticos que teimam em defender a moral familiar tradicional. Realmente, foi isto que se pôde verificar na edição do último domingo do jornal “O Estado de S. Paulo”, numa matéria de página inteira em defesa de Bergoglio e contra os cardeais “conservadores”, sob o título A revolução e a reação a Francisco dentro do Vaticano.

É pasmoso que um jornal de tradição maçônica, secular, cientificista, e não sei que coisa mais, saia em defesa de Francisco. Um jornal que promove o aborto, o casamento gay, o feminismo, o controle demográfico a qualquer custo, publica uma matéria contra os cardeais. E chama a atenção o fato que a matéria entrevista alguns “especialistas” que desenvolvem a defesa de Francisco, não com argumentos teológicos, mas recorrendo apenas a razões sociológicas para justificar a abertura de Francisco, ou melhor, a traição da doutrina católica sobre o casamento: a sociedade mudou, há uma nova cultura, a Igreja tem de adaptar-se, enfim, as bobagens de sempre.

Entretanto, do fim do mundo, quero dizer, da Argentina (assim a chamou Francisco I quando se apresentou ao mundo como o “bispo de Roma”) não vêm apenas sobressaltos. A grande nação platina é berço de grandes intelectuais católicos. É a terra de Cristián Iturralde. autor de La Inquisición – un tribunal de misericordia (Buenos Aires – 2012). Uma obra preciosa, um estudo realmente científico, com uma profusão de informações bem documentadas e concatenadas sobre o tema da Inquisição, o cavalo de batalha de todos os inimigos da Igreja e também dos maus católicos.

Uma das informações bem documentadas da obra de Iturralde, a qual vem bem a calhar com a contenda entre Francisco e os cardeais “rebeldes ou conservadores”, é a que nos diz que todas as religiões, em todos os tempos, inclusive as seitas protestantes apesar do seu proclamado livre-exame, sempre exerceram uma censura contra os seus hereges e aplicaram uma sanção. Sobre o judaísmo, por exemplo, o autor informa, com abundantes documentos, como os judeus apelavam para a Inquisição para que punisse os hebreus acusados de heresia, como o famoso Moisés Maimônides. Cita autores judeus que dizem que os rabinos e doutores da sinagoga tinham ótimas relações com os inquisidores, porque, como não tinham poder coercitivo contra os seus hereges, queriam que os inquisidores os punissem. Mostra que os guetos, as “juderias”, eram organizações queridas pelos próprios judeus para preservarem suas tradições e costumes; que não se tratava absolutamente de uma segregação injusta dos grandes reis católicos. Diz também que a Inquisição espanhola deve sua origem aos hebreus que, à medida que se convertiam ao catolicismo, lhe traziam seus procedimentos.

Iturralde esclarece perfeitamente a lenda da “pureza de sangue”, a infamante acusação de racismo lançada contra os papas e os reis da Espanha, recordando a postura antirracista do rei católico Fernando e citando bulas  dos papas Nicolau V e Sixto IV. Explica que a pureza de sangue significava não ter antecedentes heréticos nem imputação de outros delitos. Pureza de sangue significava, diz, um conjunto de fatores espirituais e morais, como a tradição, a fé, um destino comum, não era uma categoria racial.

Na página 47 da referida obra Iturralde destrói todas as imposturas contra a Inquisição,sustentadas até por pessoas “cultas”:

a) Galileu foi queimado pela Inquisição.

b) Tomás de Torquemada queimou milhares de protestantes.

c) a Inquisição queimou milhares de bruxas.

d) a Espanha, a Igreja e a Inquisição foram racistas.

e) o castigo comum da Inquisição era a fogueira.

f) o primeiro inquisidor São Domingos queimou milhares de hereges com a Inquisição medieval.

Responde Iturralde:

a) Galileu morreu de morte natural, em sua casa, gozando de uma pensão papal.

b)Torquemada morreu em 1498,vinte anos antes da revolução luterana.

c) A Inquisição espanhola nunca se interessou realmente pelas bruxas, as quais tinha por impostoras e loucas. Os protestantes ingleses e alemães,ao contrário, levaram-nas a sério: 150.000 pessoas queimadas, em sua maioria mulheres, só por acusações de bruxaria.

d) Houve milhares de inquisidores, religiosos, oficiais régios de origem judia.

e) A fogueira, empregada por quase todos os tribunais na história, só raramente foi empregada pela Inquisição, por considerá-la um castigo sumamente rigoroso. Os protestantes, ao contrário, empregaram este suplício em abundância.

f) São Domingos não foi o primeiro inquisidor, muito menos fundador do tribunal pontifício, tendo morrido dez anos antes da criação da Inquisição medieval.

Ademais, Iturralde esclarece como se originou a legenda negra contra a Igreja e a Inquisição. Os hereges que odiavam a Espanha e a Igreja usaram e abusaram da imprensa para lançar suas mentiras e calúnias. O espanhol, povo nobre e cavalheiro, cristão que não guarda rancor, não respondeu às difamações. Só tardiamente surgiram os bons apologistas católicos, como Menéndez Pelayo e outros que desmascararam um Llorente, por exemplo, o padre inquisidor, jansenista, que se voltou contra a Inquisição que servira e publicou uma obra infame a respeito do Santo Ofício.

O autor expõe também as garantias processuais da Inquisição, que não cabe aqui reproduzir.

A conclusão a que se chega é que hoje os cardeais submetidos à nova inquisição da Igreja pós-conciliar estariam em situação bem mais vantajosa se fossem conduzidos às barras do tribunal da Santa Inquisição! Que Nossa Senhora das Vitórias os proteja!

Anápolis, 17 de janeiro de 2017.

Festa de Santo Antão Abade