A Igreja, a Revolução e a Ciência

Postado em 27-03-2012

João Carlos Cabral Mendonça

O caso Galileu constitui um dos realejos da história paralela, ou seja, da que é ensinada geralmente nas escolas por professores mesmo católicos e difundida pelos meios de comunicação, mas não corresponde à realidade dos fatos.

O dr. George Salet, professor de mecânica dos sólidos deformáveis de diversos institutos de ciência e de engenharia da França, é autor de um excelente e bem documentado trabalho “O processo de Galileu”, no qual prova: 1) Galileu não foi de modo algum mártir da ciência, porque os seus argumentos não eram apodíticos; 2) as provas realmente cientificas vieram um século depois; 3) Galileu mostrou várias vezes má fé e detraiu de cientistas de reconhecido mérito, como Kepler e Tycho Brahe; 4) quem acertou na questão foi o papa Urbano VIII, o qual, embora tivesse antes aprovado o cientista de Pisa, não podia aceitar como tese o que, na época, não passava de simples hipótese. Ora, a ciência não se funda em hipóteses; 5) Galileu intrometeu-se indevidamente no campo da teologia e da exegese, no qual não possuía competência. Sustentava ainda erroneamente que o sol era o centro do universo.

Pouquíssimos sabem que antes dele e de Copérnico, o movimento da Terra foi proposto por um sacerdote do século XIV: Oresmes. Um padre medieval! O fato não lhe valeu nenhuma condenação da Santa Sé. Pelo contrário, Oresmes foi elevado a bispo de Lisieux.

Copérnico, cônego da Igreja, foi solicitado instantemente por Nicolau Schönberg, cardeal de Cápua, a editar o seu De Revolutionibus Orbium Caelestium, dedicado ao papa Paulo III. Quem se insurgiu contra o grande astrônomo, em nome da Bíblia, foram principalmente Lutero e Melanchton, corifeus da revolução protestante. A Revolução Francesa, filha desta, além de ser ruinosa à política, à economia, ao progresso social, à educação e à religião, obstou ao progresso científico, guilhotinando Lavoisier por um motivo odioso – era proprietário rural rendeiro – e em circunstâncias mais odiosas ainda. Quando o grande luminar da química pediu que lhe fosse adiada a execução, a fim de concluir um trabalho cientifico, responderam-lhe: “A república não precisa de sábios.”

Contudo, não é de admirar que os revolucionários e a turba de idiotas por eles dopada estejam volta e meia acionando o realejo de Galileu. Põem em prática o lema do pai Voltaire: “Menti, menti, que alguma coisa há de ficar.”

Estranho e lamentável é que o tenha feito, e nada menos que quatro vezes o sucessor de Urbano VIII, João Paulo II contra a verdade e contra a Igreja em que nasceu.

Fontes deste artigo: O processo de Galileu, do autor supracitado, traduzido e publicado pela revista Permanência, Nov-dez 1982; Copérnico, de Afonso H. de Guimaraens Neto, Editora Três, 1973; Joaquim Silva, História Geral, 1948.