Da idolatria do Vaticano II

Postado em 04-02-2021

O portal Dies Iræ traduziu e publica, em exclusivo para Língua Portuguesa, um novo comentário de S.E.R. Mons. Carlo Maria Viganò sobre as últimas declarações de Jorge Mario Bergoglio. Uma vez mais, Mons. Viganò apresenta-se do lado da Verdade, contrariando, de modo muito claro, aqueles que, actualmente na lama, o acusavam de estar próximo do “sedevacantismo”.

3 de Fevereiro de 2021
Sancti Blasii Episcopi et Martyris

Similes illis fiant qui faciunt ea,
et omnes qui confidunt in eis.
Ps 113, 16

Enquanto as Nações, outrora católicas, introduzem, nas próprias legislações, o aborto e a eutanásia, a ideologia de género e as núpcias sodomitas; enquanto, nos Estados Unidos, um Presidente legitimamente eleito vê a Casa Branca ser usurpada por um “Presidente” corrupto, depravado e abortista, nomeado com gigantesca fraude, com o aplauso cortesão de Bergoglio e dos Bispos progressistas; enquanto a população mundial é refém de conjurados e conspiradores que lucram com a psicopandemia e a imposição de pseudo-vacinas ineficazes e perigosas, a preocupação de Francisco concentra-se na catequese, num monólogo encenado, no passado dia 30 de Janeiro, para o seleccionado público do Escritório Catequético Nacional da CEI [1] (aqui). O espectáculo foi oferecido por ocasião do LX aniversário da fundação do Escritório Catequético, «instrumento indispensável para a renovação catequética depois do Concílio Vaticano II».

Neste monólogo, escrito, com toda a probabilidade, por um qualquer pardo funcionário da CEI, na forma de rascunho, e, depois, desenvolvido, sem preparação, graças à improvisação em que se sobressai o Augusto orador, são, pontualmente, usadas todas as palavras caras aos seguidores da igreja conciliar, em primeiro lugar aquele kerygma que qualquer bom modernista jamais pode omitir nas suas homilias, apesar de quase sempre ignorar o significado do termo grego, que, muito provavelmente, nem sabe declinar sem tropeçar em acentos e desinências. Obviamente, a ignorância de quem repete o refrão do Vaticano II é instrumentum regni desde que ao Clero foi imposto deixar de lado a doutrina católica para privilegiar a abordagem criativa do novo rumo. É claro que usar a palavra anúncio em vez de kerygma banalizaria os discursos dos iniciados, além de revelar a desdenhosa intolerância da casta para com a Missa, obstinadamente agarrada à proibição nocionista pós-tridentina.

Não é por acaso que os Inovadores detestam, com todas as forças, o Catecismo de São Pio X, que, na brevidade e clareza das perguntas e respostas, não deixa espaço à inventiva do catequista. Que deveria ser – e não é há sessenta anos – aquele que transmite o que recebeu e não um fantasmal “memorioso” da história da salvação que, de vez em quando, escolhe quais verdades transmitir e quais deixar de lado para não melindrar os seus interlocutores.

Na misericordiosa igreja bergogliana, herdeira da igreja pós-conciliar (ambas declinações de um espírito que de católico já não tem nada), é legítimo discutir, contestar, rejeitar qualquer dogma, qualquer verdade da Fé, qualquer documento magisterial e qualquer pronunciamento papal anterior a 1958. Visto que, segundo as palavras de Francisco, se pode ser «irmãos e irmãs de todos, independentemente da fé». Qualquer fiel compreende bem as gravíssimas implicações do actual pseudo-magistério, que contradiz, descaradamente, o constante ensinamento da Sagrada Escritura, da divina Tradição, do Magistério apostólico. Todavia, a ingénua vítima de décadas de reprogramação conciliar dos Católicos pode acreditar que, nesta babel composta de hereges, de contestatários e de viciosos, resta, pelo menos, algum espaço também para os ortodoxos, os devotos súbditos do Romano Pontífice e os virtuosos.

Todos irmãos, independentemente da fé? Este princípio de tolerante e indistinto acolhimento não conhece limites, excepto, precisamente, o de ser Católico. Lemos, de facto, no monólogo de Bergoglio, realizado, na Sala Clementina, a 30 de Janeiro: «O Concílio é magistério da Igreja. Ou estás com a Igreja e, portanto, segues o Concílio, e se não segues o Concílio ou o interpretas à tua maneira, à tua própria vontade, não estás com a Igreja. Temos de ser exigentes e rigorosos neste ponto. O Concílio não deve ser negociado para ter mais destes… Não, o Concílio é assim. E este problema que estamos a enfrentar, da selectividade do Concílio, repetiu-se ao longo da história com outros Concílios».

Tenha o leitor a bondade de não se alongar na incerta prosa do Nosso, que, na improvisação, “sem preparação”, une o caos doutrinal ao massacre da sintaxe. A mensagem do discurso aos Catequistas precipita na contradição as misericordiosas palavras de Fratelli tutti, obrigando a uma necessária mudança do título da carta “encíclica” para Todos irmãos, à excepção dos Católicos. E se é muito verdadeiro e partilhável que os Concílios da Igreja Católica são parte do Magistério, o mesmo não se pode dizer do único “concílio” da nova Igreja, que – como já afirmei várias vezes – representa o mais colossal engano feito pelos Pastores ao rebanho do Senhor; um engano – repetita juvant – que se realizou no momento em que um conventículo de especialistas conjurados decidiu usar os instrumentos de governo eclesiástico – autoridade, actos magisteriais, discursos papais, documentos das Congregações, textos da Liturgia – com um propósito oposto ao que o divino Fundador estabeleceu quando instituiu a Santa Igreja. Ao fazê-lo, aos súbditos foi imposta a adesão a uma nova religião, cada vez mais claramente anticatólica e, em definitivo, anticristã, usurpando a sagrada Autoridade da velha, desprezada e depreciada religião pré-conciliar.

Encontramo-nos, portanto, na grotesca situação de ouvir negar a Santíssima Trindade, a divindade de Jesus Cristo, a doutrina dos Sufrágios pelos defuntos, os fins do Santo Sacrifício, a Transubstanciação, a perpétua Virgindade de Maria Santíssima sem incorrer em qualquer sanção canónica (se assim não fosse, quase todos os consultores do Vaticano II e da atcual Cúria Romana já estariam excomungados); mas «se não segues o Concílio ou o interpretas à tua maneira, à tua própria vontade, não estás com a Igreja». O comentário de Bergoglio a esta exigente condenação de qualquer crítica ao Concílio deixa-nos, verdadeiramente, incrédulos: «A mim, faz-me pensar tanto num grupo de bispos que, depois do Vaticano I, foram embora, um grupo de leigos, grupos, para continuar a “verdadeira doutrina” que não era a do Vaticano I. “Nós somos os verdadeiros católicos”. Hoje, ordenam mulheres».

Deve-se notar que «um grupo de bispos, um grupo de leigos, grupos» que se recusaram a aderir à doutrina definida, infalivelmente, pelo Concílio Ecuménico Vaticano I foram condenados e excomungados imediatamente, enquanto, hoje, seriam recebidos de braços abertos «independentemente da fé»; e que os Papas que, então, condenaram os veterocatólicos, condenariam, hoje, o Vaticano II e seriam acusados, ​​por Bergoglio, de «não estar com a Igreja». Por outro lado, as leitoras e as acólitas recém-inventadas não anunciam nada mais senão o «hoje, ordenam mulheres» a que chegam, invariavelmente, aqueles que abandonam o ensinamento de Cristo.

Curiosamente, a abertura ecuménica, o caminho sinodal e a pachamama não impedem de mostrar-se intolerantes para com os Católicos que têm a única culpa de não querer apostatar da Fé. No entanto, quando Bergoglio fala de «nenhuma concessão para aqueles que tentam apresentar uma catequese que não esteja de acordo com o Magistério da Igreja», nega-se a si mesmo e à suposta primazia da pastoral sobre a doutrina, teorizada, em Amoris Lætitia, como conquista de quem constrói pontes e não muros, para usar uma expressão cara aos cortesãos de Santa Marta.

A partir de agora, poderemos actualizar o incipit do Símbolo Atanasiano: «Quicumque vult salvus esse, ante omnia opus est, ut teneat Modernistarum hæresim».

† Carlo Maria Viganò, Arcebispo

[1] CEI – Conferência Episcopal Italiana.

Dies Iræ 04 fevereiro