Dom Bosco e o judaísmo pós-bíblico

Postado em 28-07-2021

Diálogos de um pai de família com os seus filhos

São João Bosco

Diálogo XIV

F. O senhor falou-nos diversas vezes da religião dos hebreus, como aquela de Moisés, única verdadeira religião antes da vinda do Salvador. Mas depois da vinda do Salvador, a religião judaica cessou de ser verdadeira religião?

P. Expliquei-vos já em várias ocasiões como a religião judaica, dada por Deus a Moisés, era uma preparação da religião cristã. Antes, todos aqueles que praticavam a religião judaica podiam somente salvar-se com a esperança no futuro Messias. Vindo, pois, o divino Salvador, pregou uma religião toda ela divina e santa, e quando Ele, morrendo sobre a cruz, consumou o grande mistério da redenção dos homens, teve seu término a religião judaica.

F. A religião que praticam os hebreus de hoje não pode mais salvá-los?

P. Não, meus filhos, a religião judaica pôde salvar os hebreus até a morte do Salvador; mas quando começou a pregar-se o Evangelho nas várias partes do mundo, nenhum dos hebreus mais pôde  salvar-se sem crer em Jesus Cristo e receber o batismo. Quem não é regenerado com as águas do batismo não pode entrar no Reino dos céus: assim está no Evangelho.

F. Os judeus que ouviram a pregação do Evangelho, converteram-se todos?

P. Os judeus que ouviram a pregação do Evangelho do próprio Jesus Cristo e dos seus apóstolos, em parte creram e receberam o batismo; mas a maior parte mostrou-se obstinada, e, seguindo os enganos dos escribas e fariseus, trabalhou de todas as formas para que o Messias fosse condenado à morte: coisas todas essas previstas pelos profetas, como vos fiz observar quando vos referi as profecias concernentes ao Messias e realizadas em Jesus Cristo.

F. Predisseram os profetas tal obstinação dos judeus?

P. Muitos profetas, como vos disse, predisseram tal obstinação dos judeus, e disseram claramente que em pena dessa voluntária cegueira seriam expulsos do país deles, dispersos pelas várias partes do mundo, sem rei, sem templo, sem sacerdócio. Depois no Evangelho lemos que Jesus Cristo à vista da obstinação, com que os judeus se recusavam a reconhecer os milagres extraordinários que ele fazia, à vista do enorme deicídio que aquele povo se preparava para cometer sobre a Pessoa de quem tinha vindo para salvá-lo, predisse que os judeus seriam assediados em Jerusalém, reduzidos a gravíssimos apertos, destruída a cidade, incendiado o templo, todo o povo disperso: e que tais coisas sobreviriam antes que outras sucedessem à presente geração.

F. Terrível profecia é esta! mas tais predições verificaram-se?

P. Todas estas predições cumpriram-se perfeitamente. Vivia ainda um grande número daqueles que se acharam presentes à morte do Salvador, quando os romanos, vindos para sitiar Jerusalém, a reduziram a tal aperto, que um arrebatava da mão do outro as coisas mais sujas para não morrer de fome, e as mão chegaram até a comer as carnes dos seus filhinhos. Um milhão e cem mil judeus foram trucidados, destruída a cidade, queimado o templo, o resto daquele povo desventurado disperso pelas diversas partes do mundo.

F. Uma nação desfeita, um povo disperso, parece incrível! Mas os judeus crêem nestas coisas, têm conhecimento delas?

P. Este fato é tão inaudito, que se a história não o registrasse, com dificuldade se acreditaria. É isto um grande castigo que certamente supõe um grande delito, qual a morte do Salvador.

Os hebreus crêem nesses fatos, e são eles próprios que os escreveram. Flávio Josefo, hebreu doutíssimo, escreveu minuciosamente esse grande acontecimento; ele mesmo teve grande participação no ocorrido; e conta uma longa série de sinais prodigiosos que o precederam.

F. Conte-nos algum desses sinais, e servirão sempre mais para nos fazer conhecer a veracidade do Evangelho.

P. Vou narrar-vos alguns que se acham referidos pelo mencionado autor.

No dia de Pentecostes, diz ele, foi ouvida no templo uma voz que, sem poder saber donde vinha, fortemente ribombava: saiamos daqui, saiamos daqui. Um homem chamado Anano veio do campo e não parava de gritar: ai do templo, ai de Jerusalém, voz do oriente, voz do ocidente, voz dos quatro ventos! ai do templo, ai de Jerusalém! Ele foi encarcerado, açoitado, mas não se deixou intimidar pelas bastonadas, correu pela cidade gritando com voz galharda por três anos, depois do que, exclamando ai de mim mesmo, foi golpeado por uma pedra sobre a cabeça e morreu.

Às nove da noite em torno do templo e do altar brilhou uma luz tão viva, que por meia hora parecia que fosse meio dia. Uma porta do templo, que se abria para o oriente, era de bronze e de um peso tão enorme, que eram necessários vinte homens para fechá-la. Essa porta achou-se por si mesma aberta, sem que nenhum homem a tocasse. Alguns dias depois em todos as regiões vizinhas de Jerusalém viam-se no ar exércitos alinhados, que a cercavam com um estreito assédio. Apareceu um cometa que vomitava chamas à maneira de raios, e uma estrela em forma de espada esteve suspensa por um ano inteiro com a ponta voltada sobre aquela cidade.

Tais são sinais prodigiosos que noite e dia anunciavam àquele povo sua iminente ruína. Depois disso vieram os romanos, os quais sem o saber, feitos instrumentos da ira divina, cooperaram para cumprir quanto estava escrito no Evangelho a respeito da destruição dos hebreus.

F. Os judeus não puderam mais retornar à pátria deles?

P. Os judeus foram de tal maneira dispersos, que doravante, a despeito de todo esforço deles, não puderam mais retornar à pátria, nem quer unir-se para formar um corpo de nação. Aqueles remanescentes que se conservam obstinados em muitos lugares, são para nós um argumento a favor da verdade da nossa religião. Por isso que haver hebreus convertidos à religião cristã, é sinal de que a reconheceram divina: aqueles que não se converteram são outro argumento também convincente, porque neles se verifica a cada dia uma profecia do Evangelho; isto é, que aquele povo vive disperso sem rei, sem templo, sem sacerdote, assinalados com a marca da divina reprovação.

Estado infeliz é esse dos judeus, no qual deverão permanecer até o fim do mundo.

F. Que dizem os hebreus para não abraçar a religião cristã?

P. Dizem que o Messias ainda não veio.

F. Sobre que razões se fundam?

P. Os hebreus ainda esperam o Messias, e fundam-se sobre a convicção de que ele deva vir à maneira de um formidável guerreiro e estabelecerá um reino temporal que se estenderá a todo o mundo. Por este motivo têm o coração apegado às coisas da terra, não chegam a conhecer as verdades do Evangelho, que são realmente espirituais; tampouco querem abrir os olhos para inúmeras  profecias que estão à disposição deles, as quais anunciam claramente que o Messias, apesar de ser Deus onipotente, devia vir sob uma roupagem humilde à maneira de um manso cordeiro, como fez Jesus  Cristo, e fundar um reino, que é a sua Igreja, a qual devia estender-se a todos os lugares da terra e durar eternamente

F. Tendo já vindo o Messias uma vez, como nos explicou o senhor, o qual reconhecemos em Jesus Cristo, certamente ele é esperado em vão; mas supondo que devesse vir ainda, poderiam os hebreus ter sinais certos para conhecê-lo?

P. Não, meus queridos filhos; suposto que os hebreus quisessem conhecer este Messias, não o poderiam mais por muitas razões.

  1. O Messias devia nascer naquela época em que a soberana autoridade da tribo de Judá tinha passado para mãos estrangeiras, coisa que se verificou por ocasião do nascimento de Jesus, e há dezenove séculos esta régia autoridade não existe mais.
  2. O Messias devia nascer da estirpe de Davi. Mas eu dialoguei com os mais doutos hebreus e todos são unânimes em afirmar que a descendência de Davi já se dispersou e misturou com o resto dos hebreus, que não se pode mais achar uma pessoa que possa com certeza fazer ver a sua descendência daquele rei profeta.
  3. Segundo o profeta Ageu, o Messias devia visitar o templo que os hebreus edificaram depois do retorno do cativeiro da Babilônia.

Mas como o Messias poderá visitar o referido templo, quando há dezoito séculos não existe mais?

F. O senhor, Papai, já conversou várias vezes com os hebreus; que dizem eles sobre essa verdade?

P. Realmente, tive oportunidade de falar diversas vezes com os hebreus. e freqüentemente ocorre que o assunto seja matéria religiosa, especialmente a respeito do Messias. Digo-lhes que dá pena ouvi-los discorrer sobre tão importante verdade.

F. Então, que dizem eles?

P. Geralmente os rabinos, isto é os mestres dos hebreus, recusam-se a falar sobre tal assunto. Alguns, poucos, vivem honestamente e estão de boa fé esperando o Messias. Mas a maioria vive na ignorância da própria religião, sem pensar no Messias, esquivando-se de quem quer que seja disposto a instrui-los.

Há, portanto, muitos que vivem no judaísmo só por motivo de interesse. Não há muitos anos que que um hebreu, que se fez instruir na religião cristã, que estava vivamente disposto a tornar-se cristão, contanto que lhe fosse assegurada uma grande soma de dinheiro. Outro disse que se faria cristão, contanto que não fosse obrigado a abrir mão da herança paterna.

Outros comovem as vísceras de um cristão só de ouvi-los falar do Messias. Interrogado um sobre se ele cria no Messias, respondeu: o meu Messias é o ouro, é a prata. Outro, a semelhante pergunta, respondeu que um bom almoço era para ele um Messias. Que se pode mais responder a pessoas de um coração tão corrompido?

Não nos deve causar espanto que a muitos hebreus pouco importe o Messias e a religião, porque o judaísmo de hoje não é mais aquela religião santa anunciada pelos profetas, confirmada pelos milagres; antes aqueles que fizeram profundos estudos sobre a religião atualmente professada pelos hebreus dizem que ela se reduz a um verdadeiro ateísmo, vale dizer, a negar até a existência de Deus.

F. É possível que os judeus neguem a existência de Deus?

P. Se bem que os judeus não neguem abertamente a existência de Deus, todavia professam certos princípios, cuja admissão equivale a negar a existência de Deus implicitamente.

Os hebreus têm um livro intitulado “Talmud”, no qual estão contidas as cerimônias, os ritos, as orações e as coisas mais importantes da religião deles; os hebreus crêem mais no “Talmud” que na própria Bíblia. Ora, ouvi algumas das muitas impiedades contidas nesse livro, e com base nelas podereis tirar uma conclusão.

Deus, está dito no “Talmud”, passa as três primeiras horas do dia na leitura da lei hebraica; depois retira-se a um lugar apartado para chorar a ruína do templo de Jerusalém e a catividade do seu povo. Às vezes Deus recorda-se das calamidades que sofrem os hebreus junto aos gentios, derrama duas lágrimas no Oceano e alivia a sua dor batendo no peito. Estas e muitas outras absurdidades admitem os judeus, coisas que um cristão de sete anos sabe serem incompatíveis com um Deus onipotente, Criador e  Supremo Senhor do céu e da terra.

Igualmente no que concerne à alma dizem coisas as mais ridículas, ouvi algumas. tais como estão registradas no “Talmud”. Quem comer três vezes no dia de sábado, conseguirá a vida eterna. Quem rezar com a face voltada para o meio-dia terá o dom da sabedoria, e quem se voltar para o setentrião terá o dom das riquezas. Quem passar sob o ventre de um camelo não aprenderá mais nada. Fico horrorizado ao descrever semelhantes extravagâncias, menos ainda quero reproduzir as blasfêmias que os doutores hebreus vomitam contra Deus, contra Jesus Cristo e contra os próprios cristãos.

F. Como os judeus vomitam blasfêmias contra os cristãos?

P. Não só blasfêmias, mas também imprecações as mais tremendas, as quais, fazendo-me horror só o referi-las, peço-vos que me dispenseis de as dizer.

F. Contudo, pedimos-lhe que as diga, a fim de que saibamos também nós quais são os pensamentos e as pretensões dessa gente com a qual devemos com freqüência tratar.

P. Já que desejais tanto saber o que dizem os judeus sobre os cristãos, eu vos digo as coisas como estão literalmente escritas no “Talmud” deles. Nele está escrito:

  1. Que todos os judeus devem blasfemar três vezes ao dia os cristãos, suplicando ao Senhor que os confunda e extermine juntamente com os seus príncipes e soberanos, e são obrigados particularmente a fazer isto os rabinos nas sinagogas deles por ódio a Jesus Cristo Nazareno.
  2. Que Deus ordenou aos hebreus que se apropriassem, de algum modo, seja com a usura ou com o furto, as riquezas dos cristãos.
  3. Os judeus deverão considerar os cristãos como outros tantos animais bravos.
  4. O judeu não fará ao gentio nem bem nem mal, mas tratando-se de um cristão deverá empenhar-se em tirar-lhe a vida. Encontrando um cristão à beira de algum precipício,  um judeu tem o dever de empurrá-lo ao fundo.

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Da Igreja de Jesus Cristo

A prodigiosa propagação do Cristianismo

F. Talvez, quando começaram a perseguir o Cristianismo, estava já muito expandido para poder impedi-lo?

P. Absolutamente, não. Disse que  as perseguições movidas contra os cristãos começaram a partir do primeiro instante que os apóstolos pregaram a ressurreição e a fé de Jesus Cristo em Jerusalém.

F. Talvez essas perseguições tenham tido pouca duração?

P. As perseguições movidas contra os cristãos duraram, horrivelmente cruentas, pelo espaço de trezentos anos, até que o imperador Constantino, tendo conhecido a divindade da religião cristã, ordenou que cessassem as violências contra os cristãos.

F. Sem dúvida isto nos parece um grande prodígio; mas não se poderia atribuir isto a alguma astúcia ou a algum meio empregado pelos apóstolos na pregação do Evangelho?

P. Os meios que os apóstolos  e outros colaboradores deles empregaram para propagar o Evangelho, eram realmente, como vos disse, aqueles que parecem os mais contrários à crença humana.

  1. O Evangelho era proibido, e era pregado publicamente.
  2. Deveriam ter recebido quem quer que fosse à fé, mas os apóstolos não admitiam senão os que tinham dado sinal de uma sincera conversão.
  3. Em vez de pregar o Evangelho sob a aparência doce e lisonjeira, em vez de prometer riquezas e felicidade, exigiam que renunciassem aos bens terrenos e se mostrassem prontos para morrer pela religião.

F. Outra dúvida me assalta, e é: não poderia dar-se que a religião não fosse abraçada porque divina, mas pelos milagres que os apóstolos realizavam?

P. Os apóstolos fizeram realmente muitos e numerosos milagres, mas faziam-nos justamente para confirmar a divindade da religião que pregavam. Ora, não podendo realizar-se os milagres de outro modo senão que por Deus só, resulta como legítima conseqüência que divina devia ser aquela religião à qual Deus dava tão esplêndido testemunho com tantos milagres.

F. Deus seja louvado, e muito obrigado ao senhor, meu querido papai. Não tenho mais nada a perguntar acerca da maravilhosa propagação da fé. Estou plenamente convencido dela.

(Fim da presente obra de São João Bosco. Tradução feita a partir do texto publicado pelo periódico  anti-modernista italiano Si Si No No)