Em torno de um bom livro sobre a modéstia cristã

Postado em 22-05-2018

Existe um livreto de 120 páginas, que compila três escritos dos padres Dolindo Ruotolo, Giuseppe Tomaselli e Enzo Boninsegna, intituldado Pudore….se ci sei batti un colpo ! ( Pudor…se existes golpeia! – em tradução livre). Recomenda-se a sua leitura e seguem algumas reflexões baseadas no mesmo.

Pe. Dolindo Ruotolo

O primeiro escrito é de autoria do Pe. Dolindo Ruotolo, datado de 1939 e intitula-se Moda e decoro cristão.

Exibir o corpo

Justamente o autor, já em 1939, notava que “os vestidos mostram muito frequentemente a preocupação de exibir a carne, e, em não poucos casos, tendem mais a despir que a vestir” (p. 8).

O Autor, por isso, advertia contra os vestidos extravagantes, transparentes, curtos, decotados, que evidenciam muito o corpo.

A tática do comunismo na Espanha (1936-39)

Em 1939, era apenas terminada a guerra civil espanhola na qual houvera milhares de mártires, que tinham sacrificado a vida para testemunhar a fé. Ora o comunismo, comenta o Pe. Dolindo, tinha utilizado na Espanha a tática de servir-se da imodéstia e da impureza como cabeça de aríete para abater o cristianismo: “é historicamente certo que o bolchevismo espanhol, antes de iniciar a sua obra de descristianização e destruição, recrutou as mulheres mais atrevidas para que preparassem com sua insolência o caminho para o comunismo” (p. 10)

As mulheres que se vestem mal tornam-se colaboradoras do Maligno

Que dizer, pois, daquelas mulheres que, embora declarando-se cristãs, tornam-se, na prática, com o modo de vestir-se as primeiras colaboradoras de Satanás e do comunismo? Não se pode compreender como possam julgar-se sem culpa grave quando está clara para todos que suas exibições levam ao pecado de desejo” (ivi).

Antes do pecado original o homem, inocente, não tinha necessidade de cobrir o seu corpo porque nele tudo estava ordenado por Deus, mas depois do pecado de Adão Deus misericordiosamente o vestiu. Satanás, ao contrário, tenta, por ódio a Deus, despir a criatura humana, que perdeu a inocência e sente a revolta das paixões, para induzi-la mais facilmente ao pecado e à condenação.

A moda despoja da verdadeira feminilidade

A moda hodierna fez perder às mulheres sua verdadeira feminilidade, que consiste em ser pessoas inteligentes, livrres, feitas à imagem de Deus, mães e esposas, tornando-as puros objetos de concupiscência. Compreende-se, assim, o terrível fenômeno do chamado “feminicídio”, que se tornou hoje quase habitual, justamente quando o feminismo, sob o pretexto de libertar a mulher, degradou-a e tornou-a um objeto a ser possuído como se fosse uma simples coisa que se pode até destruir se não se pode obter.

O respeito humano

Um dos motivos que levam a mulher dita cristã a seguir a moda é o respeito humano ou o temor daquilo que diria a gente caso se vestisse decorosamente e não segundo os ditames da moda imodesta. Pe. Dolindo diz: “Não querem aparecer diferentes, temem ser alvo de troça, não querem parecer de outro tempo” (p. 11)

Que mal há?

Um estribilho repetido pelas mulheres que seguem a moda imodesta e gostariam de conciliar Cristo com o mundo é o seguinte: “Que mal há?”. Pe. Dolindo comenta: “Um carvoeiro, habituado a ter mãos negras, acha normal a sua sujeira (não culpável), enquanto as mulheres que seguem a moda e dizem: “Que mal há?” demonstram ter um coração já corrompido e uma habitual imundície moral” (p. 13).

“Ai de quem dá escândalo”

Dar escândalo, ou seja proceder de modo que o próximo se ache em ocasião de cair em pecado devido ao nosso comportamento, é um pecado grave; de mais a mais os pecados de desejo, se são plenamente advertidos e em matéria grave, são  pecados mortais. Ora, a moda indecente incita os outros ao pecado contra o 9º mandamento: “Não desejar a mulher do próximo”, e a matéria do 6º e do 9º mandamento é sempre grave. Por conseguinte, a moda indecente leva objetivamente os outros ao pecado mortal. No que concerne ao escândalo Jesus disse que seria melhor arrancar o olho ou cortar a mão ou atirar-se ao fundo do mar com uma pedra no pescoço que dar um escândalo (Mc. IX, 42-47). Pe. Dolindo diz: “As mulheres que se exibem com uma moda provocante tornam-se ocasião de muitos pecados de pensamento e isto já é um mal gravíssimo” (p. 14).

Triunfo da matéria sobre o espírito

A moda indecorosa representa também o triunfo da matéria  sobre o espírito, significa uma atenção maior com o corpo do que com a alma, mais ainda, significa quase que negar a alma em favor dos caprichos  do corpo. O cardeal Siri dizia: “Quanto mais se vê o corpo, tanto menos aparece a alma”.

O corpo mal vestido é um ídolo

Pe. Dolindo compara os que seguem a moda indecente a quem rouba as almas de Deus, porque as separa dele e as concentra na matéria e na sujeira. O corpo mal vestido é semelhante a um ídolo que tenta tomar o lugar de Deus, como quando os hebreus construíram e veneraram um bezerro de ouro enquanto Moisés falava com Deus sobre o Monte Sinai (p. 15).

Satanás quer destruir a semelhança da criatura feminina com Deus

A mulher é uma criatura de Deus, feita a sua imagem e semelhança. Ora, Satanás com a moda imodesta tenta desfigurá-la aviltando a imagem divina que nela se acha substituindo-a pela sua própria imagem bruta e ridícula pelos adornos excessivos e pela moda imodesta. Pe. Dolindo diz à mulher: ” Tu és a obra-prima da criação, uma obra de arte de Deus e Satanás tenta profanar-te, cobrindo-a de misérias e torpezas. Um traço muito saliente deforma a tua harmonia, faz-te perder a tua verdadeira expressão e tornas-te ridícula. Os homens que pensam em ti sonham desfrutar de ti e jogar-te e tu nem sequer o suspeitas. A admiração que fingem por ti é puramente sensual porque não se dirige a tua pessoa mas ao teu corpo e te olham como um objeto de prazer” (pp. 17-18). Ora, o corpo sem a alma é um cadáver, a pessoa é um corpo vivificado pela alma em quem o primado pertence à alma, que deve ser senhora e dirigir o corpo e não se tornar sua escrava.

Ao corpo espera a tumba, à alma, o ceu

Ademais, como dizia o Pe. Dolindo: “deves pensar que ao corpo espera a tumba e à alma o céu” (p. 21), enquanto Pio XI ensinava: “Quando pensais em vossos vestidos, ó mulheres, pensai também a que vos reduzirá a morte!” (ivi). É insensato cuidar daquilo que se dissolve em detrimento daquilo que permanece eternamente.

Pe. Giuseppe Tomaselli

O segundo escrito é do Pe. Giuseppe Tomaselli, datado de 1966 e intitula-se Moda feminina.

O 9º Mandamento

O autor começa citando logo de início Jesus que ensinou: “Quem olha para uma mulher para desejá-la já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mt. 5, 28). Em seguida comenta: “Todos os olhares lançados para ti com malícia são pecados que se cometem. Tais pecados são imputáveis a quem te olha, mas antes de tudo e acima de tudo são imputáveis a ti, se tu és a causa voluntária dos mesmos, ó mulher” (p. 41).

Educação para a decência

No que se refere à educação para a decência Pe. Tomaselli recorda que ser muito tolerante com uma filha e conceder-lhe de fato a liberdade de vestir-se de modo desonesto significa favorecer-lhe a frivolidade, ajudá-la a perder o sentido natural do pudor, que é a salvaguarda da pureza” (p. 45).

A praia é o lugar preferido de Satanás

Um dos lugares preferidos de Satanás é a praia no período do verão. Ali a imoralidade propaga-se porque o mal pela sua enorme difusão já não aparece como mal, mas parece normal, como algo lícito e legalizado” (p. 47) e todavia não se pode dizer que uma veste indecente em si se torne lícita porque comum a muitas pessoas.

Sodoma e Gomorra

A justiça divina fez cair do céu fogo e enxofre e destruiu as cidades depravadas de Sodoma e Gomorra (Gen. XIX, 27-29). “Deveria chover sobre as praias fogo e enxofre para incinerar os que, imodestamente trajados, ali passam horas e dias no pecado e no escândalo” (ivi).

Atenção aos maus espetáculos

Os pais deveriam ademais não permitir aos seus filhos ver espetáculos indecentes na televisão, no cinema e hoje através do smartphone.

Pe. Enzo Bonninsegna

O terceiro escrito intitulado Ainda existe o pudor hoje? é de autoria do Pe. Enzo Boninsegna, que o escreveu em 1994.

O autor retoma os dois escritos do Pe. Dolindo Ruotolo e do Pe. Giuseppe Tomaselli e os atualiza tendo em vista o problema da internet.

A impudicícia: de fenômeno pessoal a fenômeno de massa

Ele antes de tudo nota que o escrito do Pe. Ruotolo remontava a 1939 e dirigia-se a algumas determinadas senhoras ( que não constituíam ainda a maioria), as quais escarneciam do pudor, não sendo ainda a impudicícia um fenômeno de massa; ao passo que o escrito do Pe. Tomaselli de 1966 se dirigia a toda a sociedade quando a moda ruim começava a difundir-se sempre mais porque se estava no limiar da “Revolução Estudantil” de Sessenta e Oito, que subverteu, através da moda ruim, da música e da impudicícia, a mente do homem contemporâneo.

Hoje estamos em um dilúvio de impudicícia

Pe. Enzo Boninsegna comenta: “de mal meramente pessoal qual era na geração precedente (1939), tornou-se, no seu (do Pe. Tomaselli) tempo [1966] um mal social. Hoje, 28 anos depois  do escrito do Pe. Tomaselli, chegamos a outro nível de reparo, estamos em plena aluvião. Em muitos sem-Deus de ontem tudo estava morto, mas o pudor não. Em muitos cristãos de hoje o pudor não morreu e não pode morrer pela simples razão de que jamais nasceu. Os tempos do Pe. Ruotolo, do Pe. Tomaselli e o nosso tempo: três épocas, três gerações, três diversos níveis do problema.  Na primeira destas três gerações (1939) o despudor era uma criança um pouco tímida que se apresentava à ribalta; na segunda (1966) já se tinha tornado adulto e um pouco arrogante; na terceira, hoje (1994), tornou-se assassino do pudor”(p. 53-55).

O plano maçônico de destruir o Cristianismo através da corrupção moral

O Pe. Boninsegna atribui, com razão, à maçonaria o plano da corrupção do pudor. Com efeito, segundo a seita secreta, “a religião não teme a ponta do punhal, mas pode cair sob o peso da corrupção. Não nos cansemos, pois, de corromper. Tornemos popular o vício entre as multidões. Tornai os corações viciosos e não tereis mais cristãos” (p. 81)

O Pe. Bonsinsegna comenta: “com a perseguição a Igreja dá o melhor de si e produz os mártires, enquanto a corrupção produz os desmiolados e faz apodrecer. O escopo da maçonaria, portanto, é claríssimo e os filhos da maçonaria, o comunismo ateu e o capitalismo selvagem, descobriram na corrupção a melhor via para chegar ao  seu escopo: o desaparecimento da fé, a eliminação da Igreja e a escravização da humanidade” (ivi).

Sempre segundo o plano maçônico, cumpre iniciar a corrupção da mulher, e a moda indecente é um meio poderosíssimo para alcançá-la. Pe. Boninsegna cita as outras artimanhas da maçonaria: “a primeira conquista a ser feita é a conquista da mulher que deve ser libertada das cadeias da Igreja e da Lei.  Para abater o Cristianismo importa começar por suprimir a dignidade da mulher: devemos corrompê-la como devemos fazer com a Igreja” (p. 83).

O “feminicídio”

No que diz respeito ao problema da violência sobre as mulheres Pe. Boninsegna afirma que ” há anos assiste-se a um crescente vertiginoso de estímulos e provocações (especialmente mediante a  moda) ao instinto sexual. Certamente não justifica a quem faz violência às mulheres, mas ajuda a compreender” (p.108). Ele dá um exemplo muito simples: “Comer um bom almoço diante dos pobres esfomeados com a esperança de que fiquem ali mansinhos a olhar sem tentar apropriar-se daquele bem de Deus por eles tanto desejado é pura ilusão. Talvez não seja  previsível que diante de contínuas provocações que a moda hodierna nos oferece alguém não muito equilibrado venha a explodir  em atos de violência contra as mulheres? Mas quem agride é só o último anel da cadeia de responsáveis, que trabalharam para fazer do sexo o “deus” do nosso tempo” (p. 108).

Pe. Enzo cita como exemplo Alessandro Serenelli, que matou Santa Maria Goretti. Ele declarou no tribunal que lia jornais ilustrados com figuras provocantes e os afixava nas paredes do seu quarto. A mãe de Maria Goretti não queria que seus filhos entrassem naquele quarto para não verem aquelas imagens. Alessandro era um rapaz um pouco difícil, mas não totalmente perdido: ele ia à missa todos os domingos, rezava o Rosário todos os dias, não obstante foi obcecado pela paixão que lhe inspiraram as imagens indecentes, como ele contou, e matou Maria que não quis entregar-se aos seus desejos. Hoje, infelizmente, os pais poem a televisão nos dormitórios dos seus filhos, dão-lhes smartphone e os tornam 100 vezes mais perigosos que Serenelli.

A advertência de São Paulo

“Quanto à fornicação e a toda espécie de impureza….por essas coisas a ira de Deus cai sobre aqueles que lhe resistem” (Ef. V, 3-6); “Fornicação, impureza, paixões, desejos ruins…coisas estas que atraem a ira de Deus sobre aqueles que desobedecem” (Col. 5-6).

Os remédios:

Querer compreender

Não se busca remédio para um mal que não existe ou não se quer ver. Pe. Enzo nos incita: a primeira coisa a ser feita, pois, é abrir os olhos e encarar de frente a realidade tal como é e não como nos parece. “Enquanto o coração do homem é terra calcinada (e assim será enquanto nele reinar a impureza) pelas paixões insanas nenhuma semente dará bom fruto. Quantas iniciativas e quantos planos fomenta a Igreja há alguns decênios….no entanto os frutos não se veem porque o coração dos jovens é já ocupado pelo vício e não há lugar para Deus” (p.112).

Não nos resignemos

Seria ingênuo esperar grandes resultados hoje e em breve tempo, mas também uma só alma salva já é muito (p. 113)

Oração e penitência

Jesus nos ensinou: “Essa casta de demônios só se expulsa com a oração e o jejum” (Mt. XXVII, 21). Ademais, cumpre falar nas pregações e nas famílias sobre a virtude da pureza. “O silêncio sobre a pureza é um silêncio impuro” (Irmã Teresa de Calcutá).

Conclusão

Como se vê, a moda exerce um grande poder sobre os homens feridos pelo pecado original. Mas se queremos ir para o céu, educar bem a juventude e viver em um sociedade sã, devemos levar muito a sério o problema da moda e do pudor. É inútil fazer ilusões: uma moda indecorosa corrompe as almas, leva-as para o inferno, provoca o caos e a anarquia  violenta na sociedade, desgasta a juventude e destrói a família. Portanto, se queremos realmente viver como cristãos em uma sociedade cristã, devemos prestar muita atenção ao problema do pudor e da moda.

Possam os escritos dos três autores iluminar a mente do homem contemporâneo e a graça de Deus fortalecê-lo no caminho do bem e dar-lhe coragem de fugir do mal.

Titus

Si Si No No – 31 de janeiro de 2018.

Adendo do tradutor

Sobre a questão das praias, piscinas e aulas de natação.

A prudência impõe o dever de tomar banho de mar em praias pouco frequentadas. Após o banho (talvez até recomendado por uma questão de saúde), deve cobrir-se de um roupão e logo retirar-se. É inaceitável que um católico permaneça na praia com trajes sumários em ambiente promíscuo. O mesmo cuidado deve observar-se quanto à natação. E quanto às aulas de natação, recomenda-se que os pais permaneçam o tempo todo no local enquanto seus filhos menores aprendem o saudável esporte e, por fim, acompanhem-nos ao vestiário, a fim de impedi-los de ver adultos despidos e brincadeiras impróprias. Um bom psiquiatra chileno declarou que uma das causas do homossexualismo pode ser a marca ou impressão deixada pela vista de adultos nus sobre os menores.