Em torno de um livro de Dom Athanasius Schneider

Postado em 16-02-2020

Recentemente foi publicado um livro entrevista Christus vincit: Christ triumph over the Darkness of the age Sua Excelência Revma. Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Astana e secretário geral da Conferência Episcopal do Cazaquistão, escrito em colaboração com a jornalista americana Diane Montagna.

A primeira parte do livro fala da vida pessoal do prelado: quase tão comovente e dramática como a de um santo ou de um papa. Schneider nasceu em 1961 nos Montes Urais da União Soviética em uma família etnicamente  alemã e para lá deportada por Stalin, depois da Segunda Guerra Mundial. Não obstante o ateísmo de Estado e não obstante sua família tivesse o costume de assistir à santa missa secretamente em casa apenas uma vez ao ano, o jovem Schneider cresceu na fé católica. Finalmente, a sua família conseguiu emigrar para a Alemanha Ocidental em 1971, depois de um período na Estônia onde se percorriam 60 quilômetros, todos os domingos, para ouvir a santa missa. Schneider entrou na Ordem relativamente conservadora dos Cônegos Regulares da Santa Cruz de Coimbra, dedicada aos anjos, e foi ordenado sacerdote em 1990. Depois de um período de apostolado no Brasil, em 1999 passou a ensinar no seminário de Karaganda no Cazaquistão. Em 2006, sob escolha pessoal do papa Bento XVI, foi consagrado bispo.

Depois de narrar sua vida, nos outros capítulos do livro Schneider fala de vários temas teológicos e políticos. No que concerne aos temas teológicos, Schneider é muito mais tradicionalista do que eu pensava. Schneider condena firmemente a comunhão na mão, tendo convencido até  Bento XVI a dar só a comunhão na boca depois de lhe haver enviado uma cópia do seu sobre o tema Dominus est em 2006. Ainda que Schneider no conjunto do livro fale bem de Bento XVI, à diferença de tantos conservadores, não hesita em exprimir um juízo negativo sobre a participação do papa bávaro no encontro inter-religioso de Assis e naquele de João Paulo II, a quem (fato significativo) não chama jamais “Santo”. Com relação a isto, embora não o diga expressamente a propósito do papa polaco, Schneider parece aceitar a posição daqueles que sustentam a não infalibilidade das canonizações, citando o exemplo de João XXIII que censurou o culto de Santa Filomena. Sobre a Fraternidade Sacerdotal São Pio X Schneider tece grandes elogios a seus membros quando fala da sua visita ao seminário de Flavigny, considera, porém, “exagerada” a posição da Fraternidade São Pio X sobre o Novus Ordo, que, segundo Schneider, apresenta problemas, o qual, entretanto, pode ser melhorado com modificações. À diferença de tantos conservadores Schneider sustenta que a Fraternidade São Pio X é plenamente católica e portanto a questão da “plena comunhão” não tem sentido. Sobre o Concílio Vaticano II Schneider afirma que foi um erro convocá-lo da parte de João XXIII e que há problemas com certos documentos conciliares de natureza pastoral como Nostra aetateDignitatis humanae. Sobre estes últimos, Schneider exprime uma posição semelhante àquela dos “tradicionalistas”, mas infelizmente diz que de resto é preciso ter respeito pelo Vaticano II como um concílio ecumênico da Igreja.

Sobre os temas políticos Schneider não erra, caso raro para um bispo da Igreja oficial na confusão pós-conciliar. Schneider com razão nota desígnios políticos maçônicos e anti-cristãos por detrás do Isis e da imigração de massa islâmica para destruir o cristianismo no Oriente Médio e na Europa. Sobre o Islã, Schneider diz que as raízes do Islã radical estão no Corão e que a maior parte dos muçulmanos é pacífica porque não estudou bem o Corão e porque é muçulmana de nascimento e não necessariamente por convicção. Uma posição certamente muito distante do beijo do corão de João Paulo II ou as declarações de Francisco sobre os migrantes! Tendo vivido na Rússia por tantos anos da sua juventude, Schneider expressou admiração pelo presidente Vladimir Putin pelo seu trabalho de restauração moral na Rússia e sua intervenção na Síria contra o Islã radical em defesa dos cristãos perseguidos. Schneider elogia também, de forma mais prudente porém. o presidente Donald Trump, enaltecendo a sua luta contra o aborto mas lamentando que não haja feito a mesma coisa contra o homossexualismo.

Em suma, do livro Schneider emerge como um bispo ainda mais tradicionalista que outros prelados semelhantes como o cardeal Burke e Sarah, embora os juízos teológicos de Schneider sejam demasiadamente moderados.

 

K.C.

 

Traduzido de SI SI NO NO,  ano XLV nº 20 – 30 de novembro de 2019.