Mons. Tihamer Toth e a realeza social de Cristo

Postado em 08-07-2023

Vou reproduzir abaixo uma fábula russa contada por Dom Tihamer Toth em seu livro Jesus Cristo Rei (Editora Caritatem, 2021) tendo em vista sua beleza e seu grande valor moral. É um conto que nos faz refletir sobre algo que já sabemos de sobejo mas muitas vezes esquecemos  e não pomos em prática: o cuidado com o perigo do amor às vaidades do mundo e às riquezas, o cuidado com o perigo da cobiça, o cuidado com o perigo da leitura dos malditos jornais, para não perdermos o Reino do Céu. Reproduzo também uma breve reflexão de Tihamer Toth contida na mesma obra sobre os novíssimos a partir das palavras do Senhor “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt. 22, 21)

Aproveito para recomendar a todos os católicos que porventura leiam estas linhas adquiram a referida obra de Mons. Tihamer Toth e a leiam atentamente. Trata-se de uma explanação perfeita de toda a doutrina da Igreja sobre o Reinado Social de Jesus Cristo a partir da encíclica Quas primas de Pio XI, em que o zelosíssimo bispo húngaro mostra as raízes do secularismo na concepção materialista da vida e da sociedade. Diz Mons. Tihamer Toth em tom gracioso: “Razão tinha aquele doente de idade avançada, a quem o médico aconselhava um tratamento custoso. “Doutor, que esquisito é o homem, na juventude dá a saúde pelo dinheiro, e na velhice dá o dinheiro pela saúde.”

“Um camponês vivia feliz no seu país longínquo: não era rico, mas tinha o necessário para viver contente. Em mau dia, chegou-lhe às mãos um jornal maldito. Soube pela gazeta que na terra dos baskires havia imensos territórios incultos e que era costume, se alguém, de manhã cedo, depusesse aos pés do chefe da tribo uma gorra cheia de rublos em ouro, podia apoderar-se da porção de terra a que pudesse dar a volta, até ao por do sol.

O nosso homem não descansou mais, parecia que tinha fogo nos pés. Vendeu quanto tinha e conseguiu reunir precisamente o ouro de que carecia para encher a gorra.

Depois  de longa viagem, chegou à terra dos baskires.

O chefe ratificou a promessa e até deu bons conselhos ao camponês: “Antes do sol posto há de estar de novo aqui, nesta colina, donde vais começar agora a caminhada. Tem cuidado, porque se chegas ainda que seja um minuto mais tarde, perderás tudo, ouro e terra.”

Na madrugada do dia seguinte, parte o camponês cheio de  bom humor, todo contente. “Que belo pedaço de terra! Amanhã será minha!” E esse pensamento dava-lhe novo alento para estugar o passo. “Que lindo trigo colherei aqui!…E aquele bosque magnífico” Oh! Não me faltará lenha e madeira, também vou dar a volta por lá…Que excelente prado! Vou também delimitá-lo, há de ser meu!”

E o homem caminhava…caminhava. Bateu meio-dia. Talvez fosse bom voltar. “Oh! Por enquanto não, um pouco mais longe, há uma linda porção de terra que  não posso deixar, e depois voltarei mais depressa.”

Mas aquela porção de terra era maior do que ele cuidava: “Não importa! Correrei mais na volta.”

Por fim conseguiu contorná-la e, todo satisfeito, empreendeu o caminho do regresso, e apercebeu-se que o Sol se aproximara do horizonte.

“Tenho que andar um pouco depressa”, diz, e parecia-lhe que os baskires e seu chefe lhe faziam o sinal de longe; mas a colina estava ainda tão longe, tão longe, e, além disso, tinha de subir uma encosta. Até ali era a descer, e era tão fácil, e agora tem de ir a subir! E é tão penoso subir! Estende os braços e começa a subir, encosta acima. O Sol desce com uma rapidez inquietante.”Oh! Se eu chegasse a tempo!” Do alto da colina fazem-lhe sinal, já ouve vozes. O coração bate fortemente, os pulmões parece que rebentam, não pode respirar, corre, corre a toda a brida.

“Ai! Talvez tudo esteja perdido!” O Sol começa a desaparecer no horizonte. Os olhos do camponês nublam-se e acode-lhe à mente este pensamento angustioso: “Terra, dinheiro trabalho, vida, tudo, tudo está perdido. Tudo foi inútil!” Concentra todas as suas forças, agarra-se à erva, cambaleia, cai, levanta-se; vê apenas um ponto imperceptível do Sol que desaparece, e o seu último raio cai precisamente na gorra…cintila o ouro….oh! Não, não há de perder-se…faltam só vinte metros…dez….cinco apenas….e o Sol desaparece. Então, o camponês cambaleia, cai fulminado, os olhos injetados de sangue, algumas convulsões…e morre.

O chefe ordena a um dos seus criados: “Faz uma cova com dois metros de comprimento e um de profundidade. Basta esta terra para um homem.”

Sim, pouca terra basta para um homem!

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“No Antigo Testamento, Salomão termina o livro do Eclesiastes com as seguintes palavras”: “Escutai o fim e o resumo deste livro: temei a Deus e observai os seus mandamentos, porque isto é todo o homem. E lembremo-nos de que Deus nos pedirá contas de tudo  o que houvermos feito, seja bom ou seja mau.” Nem outra coisa ensina o Senhor ao dizer: “Dai a Deus o que é de Deus.” As vaidades passam. Nada há que possa dar-nos uma felicidade perfeita, a não ser a consciência reta, a convicção de que a nossa alma está em ordem e podemos suportar tranquilos o olhar de Deus.

Toda a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo está cheia deste pensamento: “Salva a tua alma!”

(….)

A única coisa importante é se dei a Deus o que é de Deus. O indispensável não é ter feito durante a vida alguma coisa grande, que chame a atenção, mas ter trabalhado conscienciosamente.”

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“Oh homem, salva a tua alma imortal enquanto tens tempo” (Frei Cristóvão Pirolli)

 

 

Anápolis, 8 de julho de 2023.

Festa de Santa Isabel, Rainha de Portugal