Mâmon, Cuba e os EUA

Postado em 19-12-2014

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Tem causado alarido estridente nos meios católicos tradicionalistas a notícia de um acordo entre Havana e Washington intermediado pelo Canadá e pelo Vaticano.

Muitos se mostram alarmados achando que o referido acordo representa um avanço do bolivarianismo em toda América com um estranho apoio do Papa e do Tio Sam. Muitos acham que o presidente Obama traiu os Estados Unidos, traiu os ideais da “grande democracia norte-americana”, traiu os interesses do capitalismo ao firmar tal acordo.

Não me parece que nada disso tenha ocorrido. Penso que na realidade o restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países sem nenhuma mudança no governo ditatorial de Havana, sem nenhuma exigência de reparação dos direitos de milhares de vítimas de um regime infame, soa apenas como puro maquiavelismo abençoado por Roma. Dirão os ingênuos que houve por detrás uma preocupação humanitária, uma visão filantrópica, um desejo de amenizar as consequências negativas do embargo econômico que afligem os cubanos mais desvalidos.

A celebração desse acordo imoral entre os dois países vem evidenciar ainda mais que não há diferença essencial entre o socialismo e o liberalismo. Ambos derivam da mesma concepção materialista do mundo, de um idêntico pragmatismo que só aceita como verdadeiro aquilo que produz efeitos práticos e concretos. O concreto é o dinheiro. Até há poucos anos havia uma diferença acidental entre o pragmatismo individualista (EUA)e o pragmatismo coletivista (União Soviética). Hoje, por diversas razões, há uma simbiose entre ambas vertentes do pragmatismo, apenas na busca de mais vantagens financeiras.

De modo que tal acordo vai durar enquanto representar a possibilidade de maiores benefícios para ambas as partes. Que interesse terão os EUA nessa história? Talvez estejam preocupados com a crescente presença da China pelos mares do mundo afora, sobretudo com o grande empreendimento chinês da construção de um enorme canal na Nicarágua ligando o Oceano Pacífico com o Mar do Caribe.Talvez tenham o interesse de afastar Cuba da Rússia, que hoje representa um mal bem menor que os EUA. Talvez queiram reabrir em Havana os seus famosos bordéis. E Cuba, que interesse terá nesse acordo? É claro que somente mais dinheiro. Duvido que a dinastia Castro, na mixórdia política de hoje, esteja muito empenhada em querer propagar sua cartilha marxista impondo às outras nações seus modelo econômico falido. Quer apenas manter-se no poder.

É um grande erro pensar que as molas propulsoras da Revolução anticristã são principalmente a luxuria e o orgulho. O mundo moderno afasta-se de Deus e de sua Igreja, seduzido não tanto pela graça de Vênus ou de  Ganimedes, não tanto tocado pelo cetro Júpiter, quanto pelo cifrão do deus  Pluto. Ou melhor pelo bezerro de ouro da judiaria internacional.

E justamente por causa dessa idolatria de Mâmon, que cega, escraviza e embrutece o homem por meio da avareza mais que a luxúria é que não considero tão remota a possibilidade de um grande conflito entre as potências.

Nosso Senhor Jesus Cristo foi mais severo no combate à idolatria do dinheiro (ninguém pode servir a dois senhores) do que no combate à imoralidade. A sensualidade humilha tanto o homem, que este mais facilmente retorna à casa do Pai como um filho pródigo do que um avaro que não reconhece outro poder senão o dinheiro. Por conseguinte, a possibilidade de concórdia entre as nações hoje é menor que em outros tempos, quando nos conflitos internacionais não pesava apenas o dinheiro, mas também outros fatores, como a religião,  a honra ou a mera ambição pela glória militar.

Para remate, uma palavra sobre a participação do Vaticano nessa história. Não resta dúvida que, sendo a Cuba castrista um ícone, uma relíquia da utopia socialista alimentada pela teologia da libertação jesuítica, houve o interesse  de obter uma verba a mais para a preservação do relicário socialista de Havana. Pode também ter havido o interesse de amenizar a situação miserável de milhares de cubanos.

Anápolis, 19 de dezembro de 2014.