O sofisma do Estado laico e a omissão dos católicos

Postado em 01-11-2010

Padre João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa

Além do amesquinhamento  do direito à vida inocente e indefesa da pessoa humana no ventre materno,  as últimas eleições revelaram um sofisma sobre a instituição sagrada da família.

Tanto a queridinha da esquerda católica, quanto a pesada cruz da direita  nessa batalha contra  a barbárie  do Brasil lulista, o sr. José Serra, se declararam favoráveis à chamada união civil homossexual e tentaram tranqüilizar a consciência daqueles que repudiam o vício da sodomia, valendo-se de uma distinção sofística entre casamento e união civil entre pessoas do mesmo sexo.

Na verdade, o que ambos querem dizer é que a cerimônia religiosa da união antinatural ficará a critério de cada confissão religiosa, as quais não estarão obrigadas pela lei civil à prestação do serviço religioso em semelhante circunstância.

Todavia, ambos candidatos faltaram à verdade não esclarecendo a opinião pública sobre a realidade do novo instituto jurídico que se intenta criar. No plano civil, a denominada união civil homossexual será, sim, equiparada ao casamento natural. Será disciplinada mediante uma reforma do  Livro IV do Código Civil que trata do direito de família. Aliás, a não ser assim, na visão moderna haveria odiosa discriminação, criando-se um “apartheid” homossexual dentro do Código Civil.

O que os inimigos da família católica tradicional querem não é apenas regulamentar uma questão patrimonial ou previdenciária gerada por duas pessoas que vivem pecaminosamente. O que querem é achincalhar e demolir a instituição natural da família, fundada no casamento monogâmico e indissolúvel, e execrada por eles como instituição burguesa e opressora.

Por outro lado, como bem sabemos, o contrato natural de casamento entre homem e mulher batizados foi elevado por Nosso Senhor Jesus Cristo à dignidade de sacramento.

É, pois, inadmissível que a legislação civil de uma nação de tradição católica desfigure de maneira tão sacrílega e atentatória ao bem comum  a própria definição de casamento com base em um sofisma.

Não se pode assegurar uma tutela jurídica a um comportamento completamente nocivo à sociedade. O testemunho da história universal é unânime ao dizer que onde se introduziu e propagou o vício próprio da heresia, como diziam nossos maiores, a sociedade acabou em ruínas. A história pré-colombiana narra que houve tribos que se dizimaram por causa do vício torpe.

Entretanto, cumpre reconhecer que, tendo em vista as raízes ideológicas do Estado laico, não é de admirar que o mundo chegue a tamanha monstruosidade e proponha à Igreja tal solução do problema: padres e outros ministros religiosos, se não o quiserem, não serão constrangidos a sacramentar a sodomia; poderão inclusive, dentro dos seus templos, exortar os fiéis a abster-se do que consideram pecado, mas em âmbito público deverão evitar manifestar sua convicção, sob pena de prisão ou multa conforme a lei.

Como se vê, o Estado laico produz homens esquizofrênicos, com personalidade dupla ou hipócritas.  Na qualidade de homens religiosos pensarão de uma forma, mas como cidadãos deverão agir de acordo com uma lei que contradiz seu credo.

Tais são as conseqüências  do sofisma apregoado pelos garibaldinos, o qual aliciou  os católicos liberais e chegou a ser aceito pelo Vaticano II: “A Igreja livre no Estado livre.” Com efeito, essa forma errônea de regular as relações entre a Igreja e o Estado, condenada antes pelo magistério dos papas, hoje é aceita. O Estado confessional, segundo a Dignitatis Humanae, não é mais o ideal ou a regra, é um caso aleatório indesejável.

O mais lamentável é que hoje muitos católicos só combatem os frutos amargos mas não querem arrancar a árvore que os produz. A árvore é o liberalismo presente no Vaticano II. A Dignitatis Humanae diz que até os ateus têm o direito de proclamar o seu ateísmo sem nenhum constrangimento e de agir publicamente segundo sua consciência.

De maneira que não se podia esperar que, passados quase cinqüenta anos do Vaticano II e considerada toda a herança histórica da cultura liberal e iluminista (com a qual a Igreja entrou em diálogo e colaboração depois do C.VII), o Ocidente estivesse em condições diferentes.

Não existe Estado neutro. O chamado Estado laico, de que falam tanto Lula e os lulistas, é, na verdade, o Estado de uma nova religião que prega a tolerância mas no fundo é de uma máxima intolerância com os verdadeiros católicos.

Mas o pior é que, apesar de tão grande desastre, muitos católicos teimam em manter princípios tão falsos.

Tudo indica que se repetirá o que ocorreu no Brasil por ocasião da introdução do divórcio. Um bispo percorreu os gabinetes dos deputados da Câmara Federal incentivando-os a votar a favor do divórcio,  destruindo todo o trabalho contrário que tinha sido feito por um deputado leigo católico. Dizia o bispo que a Igreja não tinha o direito de impor a toda a sociedade o que era apenas um preceito adstrito aos católicos. Imperdoável ignorância do direito natural da parte  de um bispo defensor da poligamia sucessiva! Hoje assistimos ao escândalo da defesa da família sodomita.

Nosso Senhor disse no Evangelho: “Quem não é comigo é contra mim, e quem não ajunta comigo dispersa” (Mt. XII, 37). Se hoje, dada a apostasia em massa, já não é possível edificar o Estado confessional, não cessa o  dever condenar o erro com firmeza sem tergiversar.

Se os católicos continuarem a omitir-se, dentro de poucos anos veremos casais católicos heterossexuais congratulando-se, em encontros ecumênicos, com casais homossexuais. Tudo sem nenhuma discriminação, tudo em paz e amor! Tudo dentro de uma nova religião mundial que englobará todos os cultos irmanados a serviço do Anticristo.

 

Anápolis, 1º de novembro de 2010.

Festa de Todos os Santos