O vírus zika e o vírus ecumenismo

Postado em 12-02-2016

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Mereceu especial  atenção da minha parte a notícia veiculada Quarta-Feira de Cinzas sobre o lançamento da campanha da fraternidade ecumênica. Dava conta de uma divergência entre as diversas denominações religiosas cristãs (como se diz no jargão democrático modernista) sobre a legalização do aborto no caso de comprovada microcefalia causada pelo zika vírus. Informava também a notícia que a confissão católica se posiciona contra a legalização do aborto dizendo que o aborto, no caso, não passa de eugenismo.

Há tempos que se nota que o ecumenismo moderno, contrapondo-se ao ensinamento do magistério tradicional (cf. a encíclica Motalium animos de Pio XI), só promove uma confusão entre os fiéis, gera um clima de indiferentismo, constrói uma nova torre de babel e reduz, por fim, a religião à filantropia, a um projeto político mundialista de fundar uma nova religião sem dogmas que unifique as nações em torno de um humanismo antropocêntrico.

Acresce, agora, diante da referida notícia da celeuma sobre a legalização do aborto a pretexto de descartar os fetos mal formados em consequência do zika vírus, que se prevê outro dano causado pelo falso ecumenismo.

Com efeito, sabe-se que a religião moderna explora de modo excessivo o lado emotivo do homem, para não dizer que nele se baseia exclusivamente, esquecendo por completo o aspecto intelectual da fé, a adesão da inteligência ao mistério sobrenatural revelado. Nesta perspectiva a religião praticamente deixa de ser uma virtude moral pela qual homem dá a Deus o culto que lhe é devido para tornar-se apenas expressão da indigência do divino que o homem sente no seu íntimo, como diz a Pascendi de São Pio X.

Ora, religião e moral não se identificam mas estão indissoluvelmente interligadas. Não há religião sem moral. E toda moral secular, agnóstica ou ateia  sempre será uma moral capenga em seu código de valores, por mais que seus adeptos se esforcem por ser íntegros e coerentes com suas normas de conduta. Dostoievski disse que, se Deus não existe, tudo está permitido. E São Pio acrescentou que, sem verdadeira religião, não há verdadeira moral.

Pois bem, sendo a moral decorrente da religião, se aquela for uma religião emotiva, derivada apenas de uma preferência pessoal, consequentemente a sua moral também o será.

De modo que um dos mais amargos frutos produzidos pelo falso ecumenismo neste doloroso capítulo da história do Brasil contemporâneo em que as lideranças religiosas vão a palácio para ter com a senhora presidente Rousseff e dela ouvir um apelo para que tampem as caixas d’água e não deixem poças d’água nos quintais das capelas e templos, será, sem dúvida, a falta de uma condenação contundente do aborto como coisa má inaceitável em hipótese alguma. Teremos apenas declarações açucaradas, para não ferir suscetibilidades , para não comprometer o diálogo ecumênico, para não perder a alegria de estar juntos (ecce quam bonum et jucundum fratres in unum – dirão talvez alguns). Quem sabe haverá até quem diga “as mulheres católicas não podem abortar no caso de infecção do zika víurs, mas algumas evangélicas podem, porque os seus pastores chegaram ao consenso  que podem sim abortar. É triste abortar mas…” Alguns dirão: “Eu não aprovo o aborto e desejaria que também você não o aprovasse. Mas vamos continuar dialogando. Quem sabe no futuro a ciência nos ajudará a encontrar uma resposta melhor para o problema do aborto e do zika vírus. Não vamos brigar por isso”

Considero, portanto, que há bons motivos para concluir que a algaravia ecumênica cumpriu plenamente a missão que lhe confiou a seita maçônica: a destruição completa da ordem moral, o obscurecimento da lei natural no campo sócio-cultural, acarretando a impossibilidade da submissão das leis civis à ordem moral objetiva estabelecida pela sabedoria eterna de Deus. A partir de agora, a ética, reduzida a uma questão de preferência pessoal (como a religião) não poderá ser um estorvo à convivência democrática nos estados laicos. Por ser uma questão de preferência pessoal, deverá ser objeto de debates abertos a todo tipo de gente, até mesmo àqueles que notoriamente não têm a mínima autoridade e competência sobre tão subido tema.

Como se vê, o vírus ecumenismo é mais letal que o zika vírus, porque não destrói apenas o sistema nervoso, mas compromete até a consciência moral do dever irrefragável de defender a vida inocente e indefesa do homem no ventre materno.

A verdade é que no mundo moderno não se guerreia por religião nem por moral. Pelo contrário, busca-se uma falsa paz a qualquer custo confinando-se a religião e a moral no âmbito privado de cada indivíduo. Só se guerreia por dinheiro. Pois então Mamon exigirá o maior holocausto em sua honra.

Anápolis, 12 de fevereiro de 2016.