Art. 4 — Se o tempo foi concriado com a matéria informe.

O quarto discute-se assim. — Parece que o tempo não foi concriado com a matéria informe.

1. — Pois, diz Agostinho, falando a Deus: Duas coisas encontro que fizeste não sujeitas ao tempo, a saber, a matéria prima corpórea e a natureza angélica. Logo, o tempo não foi concriado com a matéria informe.

2. Demais. — O tempo se divide em diurno e noturno. Ora, no princípio, não havia noite nem dia, mas somente depois, quando Deus separou a luz das trevas. Logo, no princípio, não havia tempo.

3. Demais. — O tempo é o número do movimento do firmamento o qual, como se lê na Escritura, foi feito no segundo dia. Logo, no princípio não havia tempo.

4. Demais. — O movimento, sendo anterior ao tempo, devia, mais que o tempo, ser das coisas criadas em primeiro lugar.

5. Demais. — Como o tempo, assim também o lugar é uma medida extrínseca. Logo, não há porque se conte, entre os primeiros seres criados, antes o tempo que o lugar.

Mas, em contrário, diz Agostinho que a criatura espiritual e corporal foi criada no princípio do tempo.

SOLUÇÃO. — Comumente se diz que os seres primeiramente criados foram quatro: a natureza angélica, o céu empíreo, a matéria corpórea e o tempo. Mas deve-se atender a que tal doutrina não procede, segundo a opinião de Agostinho. Pois, no lugar supracitado, admite dois seres como sendo os primeiros criados, a saber, a natureza angélica e a matéria corpórea, sem mencionar o céu empíreo. Ora, estes dois seres — a natureza angélica e a matéria informe, precedem à formação, não pela duração, mas pela natureza; mas, como pela natureza precedem à formação, assim também do mesmo modo, precedem o movimento e o tempo. Portanto, este não pode ser conumerado com elas. — A enumeração supra procede, porém, segundo a opinião de outros Santos Padres, que ensinam ter a informidade da matéria precedido, pela duração, à formação; e então é necessário supor, para essa duração, um tempo; de outro modo, não se pode conceber medida para tal duração.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O dito de Agostinho se funda em que a natureza angélica e a matéria informe precedem o tempo, quanto à origem ou natureza.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Assim como, segundo os outros Santos Padres, a matéria, de certo modo, era informe e, só depois, foi formada, assim também o tempo foi, de certo modo informe e, depois, foi formado e se dividiu em dia e noite.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Se o movimento do firmamento não teve início imediatamente, desde o princípio, então o tempo que o precedeu não foi o número desse movimento, mas de algum outro movimento, que foi o primeiro. Pois, é acidental ao tempo ser o número do movimento do firmamento enquanto esse movimento é o primeiro de todos. Se porém o movimento primeiro fosse outro, desse a medida seria o tempo, porque todas as coisas se medem pela primeira do gênero. Logo, é necessário concluir-se que, desde o princípio, imediatamente, houve algum movimento ao menos segundo a sucessão dos conceitos e dos afetos, na mente angélica. Ora, não se pode compreender o movimento sem o tempo, pois, este não é senão a enumeração da prioridade e da posterioridade no movimento.

RESPOSTA À QUARTA. — Entre os primeiro seres criados, contando-se os que têm uma relação geral com as coisas, há-se de contar o tempo, que serve de medida comum; não, porém, o movimento que só é relativo a um sujeito móvel.

RESPOSTA À QUINTA. — Compreende-se que haja lugar no céu empíreo, que contém todas as coisas. E como o lugar se refere aos seres permanentes, foi concriado total e simultaneamente com eles. Porém o tempo, que não é permanente, foi concriado com a matéria informe, no seu princípio; e, assim, ainda agora, não há no tempo outra atualidade, salvo o momento presente.