Art. 4 – Se a alma humana foi produzida antes do corpo.

O quarto discute–se assim. – Parece que a alma humana foi produzida antes do corpo.

1. – Pois, a obra da criação precedeu à da distinção e do ornato, como se disse antes. Ora, a alma tem o ser produzido por criação, segundo já ficou demonstrado; ao passo que o corpo é feito para ornato. Logo, a alma do homem foi produzida antes do corpo.

2. Demais. – A alma racional convém mais com os anjos do que com os brutos. Ora, aqueles foram criados antes dos corpos; ou logo, desde o princípio, imediatamente com a matéria corpórea; enquanto que o corpo do homem foi formado no sexto dia, quando já haviam sido produzidos os brutos. Logo, a alma humana foi criada antes do corpo.

3. Demais. – O fim se proporciona com o princípio. Ora, a alma permanece, ao termo da vida, posteriormente ao corpo. Logo, também, no princípio, foi criada antes do corpo.

Mas, em contrário, o ato próprio realiza–se na potência própria. Ora, como a alma é o ato próprio do corpo, neste foi produzida.

SOLUÇÃO. – Segundo Orígenes, não só a alma do primeiro homem, mas as almas de todos os homens foram criadas antes dos corpos, simultaneamente com os anjos. Pois, pensava que todas as substâncias espirituais, tanto as almas como os anjos, iguais, pela condição da natureza, só diferem pelo mérito. Assim, umas estão unidas aos corpos, e são as almas dos homens ou dos corpos celestes; outras, porém, permanecem na sua pureza, conforme as diversas ordens. Mas, como já tratamos dessa opinião, agora a deixamos de lado.

Agostinho também ensina que a alma do primeiro homem foi criada antes do corpo, com os anjos, mas, por outra razão. E é que, diz, o corpo do homem, nas obras dos seis dias, não foi produzido em ato, mas só nas suas razões causais. O que não se pode dizer da alma, que não foi feita de nenhuma matéria corpórea ou espiritual preexistente, nem podia ter sido produzida por nenhuma virtude criada. Donde conclui que a alma, em si mesma, foi criada simultaneamente com os anjos, nas obras dos seis dias, nos quais todas as coisas foram feitas; e que depois, por vontade própria, inclinou–se a governar um corpo. Mas isso ele não o diz afirmativamente, como as suas palavras o demonstram. Pois, escreve: Pode–se crer, se a nenhuma autoridade das Escrituras ou a nenhum princípio verdadeiro contradisser, que o homem foi jeito no sexto dia, de todo que a razão causal do corpo humano estivesse nos elementos do mundo, enquanto que a alma, em si, já tinha sido criada.

Ora, esta opinião só pode ser admitida por aqueles que consideram a alma como tendo, em si, espécie e natureza completa; e unida ao corpo, não como forma, mas só para o governar. Se, porém a alma está unida ao corpo como forma e faz naturalmente, parte da natureza humana, tal opinião é absolutamente inadmissível. Pois, é manifesto, que Deus instituiu os primeiros seres, no estado perfeito da sua natureza, como o exigia a espécie de cada um. Ora, a alma, sendo parte da natureza humana, não tem sua perfeição natural senão unida ao corpo. Por onde, não era conveniente que fosse criada sem ele.

Sustentando–se, porém, a opinião de Agostinho, quanto às obras dos seis dias, poder–se–ia dizer que a alma humana precedeu, nessas obras, quanto a certa semelhança genérica, enquanto convém com os anjos no atinente à natureza intelectual; mas, em si mesma, foi criada simultaneamente com o corpo. Porém outros Santos ensinam, que tanto a alma como o corpo do primeiro homem, foram produzidos nas obras dos seis dias.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Se a natureza da alma tivesse a espécie Íntegra, de modo que fosse criada, em si mesma, então a OBJEÇÃO procederia, afirmando que, no princípio, foi criada, em si mesma. Mas, como, naturalmente, ela é a forma do corpo, não podia ter sido criada separadamente, mas tinha que o ser num corpo.

E o mesmo se deve RESPONDER À SEGUNDA OBJEÇÃO. – Pois, a alma, se tivesse uma espécie, em si mesma, se assemelharia mais com os anjos; mas, sendo forma do corpo, pertence ao gênero dos animais, como princípio formal.

RESPOSTA À TERCEIRA. – É pela morte, deficiência do corpo, que a alma acidentalmente permanece posteriormente a Este. Ora, essa deficiência não podia existir ao princípio, na criação da alma.