Art. 1 – Se a Imagem de Deus está no homem.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a imagem de Deus não está no homem.

1. Pois, diz Escritura: A quem pois tendes vós assemelhado a Deus? Ou que imagem fareis dele?

2. Demais. – Ser imagem de Deus é próprio do Primogénito, do qual diz a Escritura: que é a imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criatura. Logo, no homem não está a imagem de Deus.

3. Demais. – Hilário diz, que a imagem, é a espécie indiferente da causa de que e imaginada; e diz mais, que a imagem é a semelhança indiscreta e unida de uma causa que se iguala com outra. Ora, não há espécie indiferente de Deus e do homem; nem pode haver igualdade do homem com Deus. Logo, naquele não pode haver a imagem de Deus.

Mas, em contrário, diz a Escritura: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.

SOLUÇÃO. – Como diz Agostinho, onde há imagem, imediatamente há também semelhança; mas, onde há semelhança, não há, imediatamente, imagem. Por onde é claro que a semelhança é da essência da imagem, e que esta acrescenta algo à noção daquela, a saber, que seja a expressão de outra cousa; pois, imagem se chama aquilo que é feito como imitação de outra cousa. Por onde, por mais que um ovo seja semelhante e igual a outro, como, todavia, não é a expressão deste, não se diz que seja a imagem do mesmo. Enquanto que a igualdade não é da essência da imagem; pois, como diz Agostinho, no mesmo passo, onde está a imagem não, imediatamente, a igualdade, como claramente se vê na imagem de alguém refletida pelo espelho. É, contudo da essência da imagem perfeita; pois, nesta, nada falta do que esteja no ser de que ela é a expressão. – Ora, é manifesto, que no homem se encontra alguma semelhança de Deus, decorrente dele como do exemplar. Não há porém, nele semelhança, quanto à igualdade, porque o exemplar excede infinitamente esse exemplado. Por onde, diz–se que no homem está a imagem de Deus, não perfeita, mas imperfeita. E isso o exprime a Escritura, dizendo que o homem foi feito à imagem de Deus. Pois, a preposição à exprime uma certa aproximação, própria ao que está distante.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O Profeta fala das imagens corpóreas fabricadas pelos homens e, por isso, diz assinaladamente: que imagem fareis dele? Ao passo que o próprio Deus imprimiu no homem sua imagem espiritual.

RESPOSTA À SEGUNDA. – O Primogênito de toda criatura é a imagem perfeita de Deus, reproduzindo perfeitamente o ser de que é a imagem. Por isso se chama Imagem e nunca, à imagem. Porém, do homem, diz–se que é imagem, pela semelhança, e, à imagem, pela imperfeição da semelhança. E como a semelhança perfeita de Deus não pode existir senão na identidade da natureza, a imagem de Deus está no seu Filho primogénito, assim como a imagem do rei, no filho que lhe é conatural. No homem, porém, como numa natureza estranha, do mesmo modo que a imagem do rei, numa moeda de prata, como está claro em Agostinho.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Como uno é o ente indiviso, a espécie se diz indiferente do mesmo modo pelo qual se diz que é una. Ora, diz–se que um ser é uno, não só numericamente, especifica ou genericamente, mas também por analogia ou por uma certa proporção; e essa é a unidade de conveniência da criatura com Deus. E a expressão – de uma cousa que se iguala com outra – pertence à essência da imagem perfeita.