Artigo 3 – Se a sabedoria só é prática ou especulativa.

O terceiro discute-se assim. – Parece que a sabedoria não é somente prática ou especulativa.

1. – Pois, o dom da sabedoria é mais excelente que a sabedoria como virtude intelectual. Ora, como virtude intelectual a sabedoria é somente especulativa. Logo, com maior razão, a sabedoria, como dom, é especulativa e não, prática.

2. Demais. – O intelecto prático versa sobre os atos, que são contingentes. Ora, a sabedoria versa sobre as verdades divinas, que são eternas e necessárias. Logo, a sabedoria não pode ser prática.

3. Demais. – Gregório diz, que, na contemplação buscamos o principio, que é Deus; ao passo que na ação, trabalhamos sob o pesado fardo da necessidade. Ora, à sabedoria pertence a visão das coisas divinas, a ela a que não é próprio o trabalhar sob um pesado fardo; pois, como diz a escritura, a sua conversação nada tem de desagradável, nem a sua companhia nada de fastidioso. Logo, a sabedoria é somente contemplativa e não, prática ou ativa.

Mas, em contrário, o Apóstolo. – Conduzi-vos em sabedoria com aqueles que estão fora, reunindo o tempo. Ora, isto pertence à ação. Logo, a sabedoria não é somente especulativa, mas também prática.

SOLUÇÃO. – Como diz Agostinho, a parte superior da razão é atribuída à sabedoria: a inferior, porém, à ciência. Ora, a razão superior, como diz no mesmo lugar aplica-se às verdades sobrenaturais, isto é, divinas, quer para considerá­las, quer para consultá-las, Para considerá-las, enquanto contempla as verdades divinas em si mesmas; para consultá-las, enquanto julga, pelas verdades divinas, das coisas humanas, dirigindo os atos humanos por meio de regras divinas. Por onde, a sabedoria, como dom, não sô é especulativa, mas também prática.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ Quanto mais elevada é uma virtude, mais coisas abraça como diz um autor. E assim, de ser a sabedoria, como dom, mais excelente que a sabedoria, virtude intelectual, por atingir mais imediatamente a Deus, por uma certa união da alma com ele, é que ela dirige, não só na contemplação, mas também na ação.

RESPOSTA À SEGUNDA. – As verdades divinas, em si mesmas, são certo, necessárias e eternas; contudo, são regras das coisas contingentes, que constituem a matéria dos atos humanos.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Antes de considerarmos uma coisa nas suas relações com outra, havemos de considerá-la em si mesma. Por onde, à sabedoria pertence primeiro, a contemplação das verdades divinas, que é a visão do princípio; e depois, dirigir os atos humanos pelas regras divinas. Nem contudo pelos dirigir a sabedoria, provém aos atos humanos o amargor ou o trabalho; mas ao contrário, o amargor, por causa da sabedoria, se transforma em doçura e o trabalho, em descanso.