Artigo 4 – Se podemos licitamente esperar no homem.

O quarto discute-se assim. – Parece que podemos licitamente esperar no homem.

1 – Pois, o objeto da esperança é a felicidade eterna. Ora, para alcançar a felicidade eterna, somos ajudados pelo patrocínio dos santos; porquanto, no dizer de Gregório, a predestinação é auxiliada pelas preces dos santos. Logo, podemos esperar no homem.

2. Demais. – Se não podemos esperar no homem, não é lícito imputarmos como vício a ninguém o não poder ser objeto da esperança. Ora, isso é imputado a certos, conforme a Escritura claramente o faz. Cada um se guarde do seu próximo e não se fie de nenhum de seus irmãos, Logo, podemos licitamente esperar no homem.

3. Demais. – O pedido traduz a esperança, como já se disse. Ora, podemos licitamente pedir a outrem. Logo, podemos licitamente esperar nele.

Mas, em contrário, a Escritura: Maldito o homem que confia no homem.

SOLUÇÃO. – A esperança como já dissemos, visa duas coisas: o bem que pretendemos alcançar e o auxílio por meio do qual o obteremos. Ora, aquele tem natureza de causa final; e este, de causa eficiente. Ora, em ambos esses gêneros de causas há um elemento principal e outro, secundário. Assim, o fim principal é o fim último; o secundário é o bem conducente ao fim. Semelhantemente, a causa agente principal é o primeiro agente; e a causa eficiente secundária é o agente secundário instrumental. Ora, a esperança busca a felicidade eterna, como fim último; e o auxílio divino, como a causa primeira conducente à felicidade. Por onde, assim como não é lícito esperar nenhum bem, a não ser a felicidade, como fim último, mas só como o que é ordenado ao fim da felicidade; assim também não é lícito esperar em nenhum homem, ou em qualquer criatura, como se fosse a causa primeira conducente à felicidade. É lícito, porém esperar num homem ou numa criatura, como num agente secundário e instrumental, que nos ajuda a conseguir certos bens subordinados à felicidade. – E, deste modo nos socorremos dos santos, também pedimos certas coisas aos homens e maldizemos aqueles em quem não podemos confiar para obter qualquer auxílio.

Donde se deduzem claras as RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES.