Art. 2 – Se as observâncias ordenadas a causar alterações no corpo, como por exemplo na saúde ou outras semelhantes, são lícitas.

O segundo discute–se assim. – Parece que as observâncias ordenadas a causar alterações no corpo, como na saúde ou outras semelhantes, são lícitas.

1. – Pois, é lícito recorrer às forças naturais dos corpos para fazê–las produzir os seus efeitos próprios. Ora os corpos naturais tem certas virtudes ocultas, cuja razão o homem não conhece; como a do diamante, que atrai o ferro, e muitas outras enumeradas por Agostinho. Logo, parece que recorrer a tais práticas para provocar alterações no corpo não é ilícito.

2. Demais. – Assim como os corpos naturais estão sujeitos à ação dos corpos celestes, assim também os corpos artificiais. Ora, os corpos naturais participam de certas virtudes ocultas, resultantes da espécie, por impressão dos corpos celestes. Logo também os corpos artificiais, por exemplo, as figuras, participam de alguma virtude oculta, proveniente dos corpos celestes, para causar certos efeitos. Logo, usar deles e de outros semelhantes não é ilícito.

3. Demais. – Também os demônios podem de muitos modos causar alterações nos corpos, como diz Agostinho. Ora, o poder deles vem de Deus. Logo, é lícito usar desse poder para produzir certas alterações.

Mas, em contrário, Agostinho: Devem se considerar como superstição as práticas das artes mágicas, os amuletos, os remédios condenados pela ciência médica, quer consistam em encantações, quer em certas figuras chamadas caracteres, quer em outras causas ligadas e dependuradas no corpo.

SOLUÇÃO. – Nas práticas feitas para a consecução de certos efeitos particulares, devemos considerar se esses efeitos se podem obter naturalmente. E nesse caso não serão ilícitas; pois, podemos fazer as causas naturais produzirem os seus efeitos próprios. Se, porém esses efeitos não podem ser causados naturalmente, resulta daí que as causas apresentadas como produtoras deles não são realmente causas, mas, uns como sinais. E assim se incluem nos pactos simbólicos feitos com os demônios. Por isso diz Agostinho: Quando os demônios respondem à invocação das criaturas, que são obras de Deus e não, deles, deixam–se atrair diversamente segundo a diversidade do seu gênio; não pelos alimentos, como os animais, mas, como espíritos, pelos sinais, por símbolos agradáveis ao capricho de cada um; por vários gêneros de pedras, de ervas, de madeiras, de animais, de ritos e de encantamentos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃ0. – Nada há de supersticioso nem de ilícito quando pura e simplesmente se aplicam as coisas naturais à produção de certos efeitos para os quais se consideram com virtude natural. Se porém se lhes acrescentarem quaisquer caracteres, nomes ou quaisquer outras observâncias, que manifestamente não tem nenhuma eficácia natural, essas práticas serão supersticiosas e ilícitas.

RESPOSTA À SEGUNDA. – As virtudes naturais dos corpos naturais resultam das suas formas substanciais, imprimidas por influência dos corpos celestes; e dessa impressão resultam–lhes certas virtudes ativas. Mas as formas dos corpos artificiais procedem da concepção do artista. E como nada mais são do que composição, ordem e figura, no dizer de Aristóteles, não podem ter virtude natural para agir. Donde vem que, enquanto artificiais, não recebem nenhuma virtude por impressão dos corpos celestes, mas só por influência da matéria natural. Logo, é falso o dito de Porfírio, segundo refere Agostinho: Combinando ervas e pedras e partes de animais, e certos sons e vozes, e figuras e certos emblemas tirados também da observação dos movimentos das estrelas, na revolução do céu, os homens podem fabricar na terra talismãs que recebem dos astros a virtude de produzir diversos efeitos; como se os efeitos das artes mágicas procedessem da virtude dos corpos celestes. Mas, como Agostinho acrescenta no mesmo lugar, tudo isso vem dos demônios, que iludem as almas que se lhes sujeitaram. Per isso, também as figuras chamadas astronômicas são obra dos demônios. E a prova é que nelas devem ser escritos certos caracteres, que naturalmente para nada servem; pois, uma figura não é princípio de nenhum ato natural. Mas, as imagens astronómicas diferem das necromânticas em que nestas se fazem expressamente certas invocações e fantasmagorias e, portanto, implicam em pacto expresso com os demônios; ao passo que aquelas importam em pactos tácitos por meio de certos sinais de figuras ou de caracteres.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Pelo domínio da sua divina majestade, a que os demônios estão sujeitos, pode Deus usar deles como quiser. Mas, ao homem não foi dado o poder sobre os demônios de modo a usar deles como quiser; mas, ao contrário, há guerra declarada entre ele e eles. Por onde, de nenhum modo é lícito ao homem recorrer ao auxílio dos demônios por pactos tácitos ou expressos.