Artigo 1 – Se a arte de reinar deve ser considerada espécie da prudência.

O primeiro discute-se assim. – Parece que a arte de reinar não deve ser considerada espécie de prudência.

1. – Pois, a arte de reinar se ordena a administrar a justiça, conforme Aristóteles, quando diz que o príncipe é o guarda da justiça. Logo, a arte de reinar pertence mais à justiça que à prudência.

2. Demais. – Segundo o Filósofo, a realeza é uma das seis formas de governo. Ora, nenhuma espécie de prudência há própria às outras cinco, que são: a aristocracia; a república, também chamada democracia; a tirania; a oligarquia e a democracia. Logo, também não se deve atribuir à realeza uma prudência própria.

3. Demais. – Fazer leis não pertence só aos reis, mas também a outros chefes de governo; e ainda, ao povo, como está claro em Isidoro. Ora, o Filósofo considera como parte da prudência a arte de fazer leis. Logo, é inconveniente substituir a esta a arte de reinar.

Mas, em contrário, diz o Filósofo; a prudência é a virtude própria do príncipe. Logo, a arte de reinar deve constituir uma prudência particular.

SOLUÇÃO. – Como do sobredito resulta, à prudência pertence dirigir e ordenar; por isso, onde se encontra uma razão especial de dirigir e ordenar os atos humanos, aí se manifesta também uma prudência de natureza especial, Ora, como é claro, naquele que deve dirigir, não somente a si mesmo, mas ainda a comunidade perfeita da cidade ou do reino, deve existir também uma razão especial e perfeita de governar. Pois, tanto mais um regime será perfeito quanto mais universal e maior extensão tiver, e quanto mais alto for o fim que atingir. Por onde, ao rei, a quem compete governar uma cidade ou um reino, convém uma prudência de natureza especial e perfeitíssima. E por isso a arte de reinar é considerada uma espécie de prudência.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ Tudo o que é próprio às virtudes morais pertence à prudência, como dirigente; por isso, a razão reta da prudência é incluída da definição da virtude moral, como se disse Por isso também a execução da justiça, enquanto ordenada ao bem comum, e pertencente ao ofício de rei, precisa da direção da prudência. Por onde, essas duas virtudes, a prudência e a justiça, são soberanamente próprias do rei, conforme aquilo da Escritura. Reinará um rei que será sábio e obrará segundo a equidade e justiça na terra. Como porém dirigir pertence sobretudo ao rei e executar, aos súditos, por isso, a arte de reinar é considerada, antes, uma espécie de prudência: que é diretiva, que de justiça, que é executiva.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Entre as outras formas de governo a melhor, é a realeza, como diz Aristóteles, por isso, as espécies de prudência deviam tirar a sua denominação dela, sobretudo. Mas de modo que compreenda todas as outras formas de governo legítimas. Mas não as más, opostas à virtude e, por isso, não pertencentes à prudência.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O Filósofo dá o nome de prudência governativa, tirando-o do ato principal do rei, que é estabelecer as leis. O que, embora também convenha aos outros chefes, não lhes convém senão enquanto participam algo do modo de governar real.