Artigo 1 – Se o conselho deve ser contado entre os dons do Espírito Santo.

O primeiro discute-se assim. – Parece que o conselho não deve ser contado entre os dons do Espírito Santo.

1. – Pois, os dons do Espírito Santo são conferidos como auxílios para a virtude, como está claro em Gregório. Ora, no concernente ao conselho, o homem encontra a sua perfeição suficiente pela virtude da prudência ou também da eubulia, como resulta do que já foi dito. Logo, o conselho não deve ser contado entre os dons do Espírito Santo.

2. Demais. – Parece que a diferença entre os sete dons do Espírito Santo e a graça gratuita está em não ser esta dada a todos, mas distribuída a diversos; ao passo que os dons do Espírito Santo são dados a todos os que o tem. Ora, o conselho parece ser daquelas coisas especialmente dadas a certos pelo Espírito Santo, conforme aquilo da Escritura. Aqui vedes a Simão, vosso irmão; ele é homem de conselho. Logo, o conselho deve ser contado antes entre as graças gratuitas, do que entre os sete dons do Espírito Santo.

3. Demais. – A Escritura diz. Todos os que são levados pelo Espírito de Deus, estes tais são filhos de Deus. Ora, os que são levados por outrem não precisam de conselho. E como os dons do Espírito Santo cabem sobretudo aos filhos de Deus, que receberam o Espírito de. adopção de filhos, parece que o conselho deve ser contado entre os dons do Espírito Santo.

Mas, em contrário, a Escritura. Descansará sobre ele o Espírito de conselho e de fortaleza.

SOLUÇÃO. – Os dons do Espírito Santo como já dissemos são certas disposições, pelas quais a alma se torna apta a ser facilmente levada por ele. Ora, Deus move cada ser ao modo de cada um; assim, move a criatura corpórea, no tempo e no espaço; a espiritual, no tempo, mas não no espaço, como diz Agostinho. Mas, é próprio a criatura racional mover-se a um ato por meio da indagação da razão; e a essa indagação se chama conselho. Por onde, o Espírito Santo move, por meio do conselho, a criatura racional. E, por isso o conselho é contado entre os dons do Espírito Santo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. –­ A prudência ou cubulia, quer adquirida, quer infusa, dirigem o homem, na sua deliberação racional, nos limites daquilo que a razão pode compreender; por isso o homem, pela prudência ou pela eubulia, torna-se capaz de bom conselho, para si ou para outrem. Mas, como não é capaz a razão humana de compreender o particular e as contingências que podem ocorrer, resulta que os pensamentos dos mortais são tímidos e incertas as nossas providências, como diz a Escritura. Por isso o homem precisa, nas suas deliberações, de ser dirigido por Deus, que tudo compreende. O que se faz pelo dom do conselho, pelo qual o homem se dirige, sendo a sua deliberação como inspirada por Deus. Assim como também, nas coisas humanas, os que não são capazes de deliberar por si mesmos, buscam o conselho dos mais sábios.

RESPOSTA À SEGUNDA. -– A graça gratuita pode tornar alguém de tão bom conselho de modo a dar conselho aos outros. Mas é comum a todos os santos o serem aconselhados por Deus sobre o que lhes é necessário fazer para se salvarem.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Os filhos de Deus são levados pelo Espírito Santo, de conformidade com a natureza deles, salvo o livre arbítrio, que é faculdade da vontade e da razão. E assim, enquanto a razão é instruída pelo Espírito Santo sobre o que deve ser feito, é próprio dos filhos de Deus o dom do conselho.