Art. 1 – Se a castidade é uma virtude.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a castidade não é uma virtude.

1. – Pois, tratamos agora das virtudes da alma. Ora, parece que a castidade diz respeito ao corpo; assim, casto se chama quem usa de certo modo de determinadas partes do corpo. Logo, a castidade não é uma virtude.

2. Demais. – A virtude é um hábito voluntário como diz Aristóteles. Ora, parece não ter a castidade nada de voluntário, pois, às mulheres a violência forçadamente as priva dela. Logo, a castidade parece que não é uma virtude.

3. Demais. – Os infiéis não podem ter nenhuma virtude. Ora, certos infiéis são castos. Logo, a castidade não é virtude.

4. Demais. – Os frutos distinguem–se das virtudes. Ora, a castidade é enumerada entre os frutos, como está claro no Apóstolo. Logo, a castidade não é virtude.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Tendo o dever de dares à tua esposa o exemplo da virtude, pois que a virtude é a castidade, cedes tu ao ímpeto da sensualidade, e queres que tua esposa seja vitoriosa.

SOLUÇÃO. – O nome de castidade vem de ser castigada pela razão, a concupiscência, que deve ser refreada como uma criança, segundo o Filósofo. Ora, a virtude humana consiste essencialmente em imprimir no seu objeto o cunho da razão, como do sobredito resulta. Por onde, é manifesto que a castidade é uma virtude.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – A castidade tem certamente a alma como sujeito e como sua matéria o corpo. Pois, tem como função fazer–nos usar moderadamente dos membros corporais segundo o juízo da razão e a eleição da vontade.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Como diz Agostinho, enquanto a alma persevera na vontade de ser casta pela qual o corpo merece ser santificado, a violência da paixão de outrem não priva da santidade o corpo de quem santo se conserva pela perseverança ria sua continência. E no mesmo lugar acrescenta, que a castidade, é uma virtude da alma companheira da fortaleza, que nos ensina tolerarmos, antes, qualquer mal, que consentir nele.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Como diz Agostinho, mio é possível haver verdadeira virtude em quem não é justo; e é impossível ser justo quem não vive de fé. Donde conclui, que nos infiéis não há verdadeira castidade, nem outra virtude qualquer, porque não se referem ao fim devido. E como no mesmo lugar acrescenta, as virtudes se discernem dos vícios, não pelos deveres, i. é, pelos atos, mas, pelos fins.

RESPOSTA À QUARTA. – A castidade, enquanto nos faz obrar de acordo com a razão, é essencialmente uma virtude; mas, enquanto faz–nos deleitarmos com o seu ato, é enumerada entre os frutos.