Art. 2 – Se, na revelação profética, Deus imprime na alma do profeta novas espécies das coisas, ou se somente um novo lume.

O segundo discute–se assim. – Parece que, na revelação profética, Deus não imprime na alma do profeta novas espécies das coisas, mas somente, um novo lume.

1. – Pois, como diz a Glosa de Jerónimo, os profetas usam de imagens das coisas no meio das quais foram criados. Ora, se a visão profética se fizesse por meio de certas espécies das coisas, de novo impressas nele, nenhuma influência teria, nesse caso, o meio anterior em que o profeta viveu. Logo, não são impressas nenhumas espécies novas na alma do profeta, senão só o lume profético.

2. Demais. – Como diz Agostinho, não é próprio do profeta a visão imaginária, mas só a intelectual; por isso diz também Daniel, que é necessário haver inteligência nas visões. Ora, a visão intelectual, como no mesmo lugar se diz, não se opera mediante semelhanças das coisas, mas, atinge a verdade mesma da realidade. Logo, parece que a revelação profética não se dá por impressão de nenhumas espécies.

3. Demais. – Pelo dom da profecia o Espírito Santo mostra ao homem o que excede a capacidade da natureza humana. Ora, formar quaisquer espécies das coisas o homem o pode pelas suas faculdades naturais. Logo, parece que, na revelação profética, não são infundidas quaisquer espécies das coisas, mas só o lume inteligível.

Mas, em contrário, a Escritura: Eu lhes multipliquei as visões e pela mão dos profetas fui representado. Ora, a multiplicação das visões não se faz pelo lume inteligível, que é comum a todas as visões proféticas; mas só, pela diversidade das espécies, de conformidade com as quais também se opera a assimilação. Logo, parece que, na revelação profética, são impressas novas espécies das coisas e não só, o lume inteligível.

SOLUÇÃO. – Como diz Agostinho, o conhecimento profético se realiza sobretudo na alma. Ora, no conhecimento da alma humana devemos levar em conta dois elementos: a percepção ou a representação das coisas e o juízo sobre as coisas representadas. – Ora, as coisas são representadas na alma humana mediante certas espécies. E, por ordem de natureza, hão de as espécies, primeiro, ser representadas aos sentidos; segundo, à imaginação; terceiro, ao intelecto possível, modificado pelas espécies dos fantasmas por influência da iluminação do intelecto agente. Ora, a imaginação não só inclui as formas das coisas sensíveis, segundo foram recebidas dos sentidos, mas ainda as transforma de muitos modos. Ou por causa de alguma transformação corpórea, como se dá com os segundo o Evangelho; e nisto se inclui a interpretação das línguas. Quer também para discernir, à luz da verdade divina, o que o homem aprende no decurso natural da vida. Quer enfim para discernir, com verdade e eficácia, o modo de proceder, num caso dado, conforme a Escritura. O espírito do Senhor foi o seu condutor. Donde se conclui, que a revelação profética se da, às vezes, mediante a só influência do lume; outras vezes, porém, por novas espécies impressas ou ordenadas de outro modo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­ Como dissemos, quando, na revelação profética, são divinamente ordenadas as espécies imaginárias, originariamente recebidas dos sentidos, segundo a congruência com a verdade a ser revelada, então a vida anterior do profeta contribui em parte para o uso mesmo das imagens; mas não, quando elas são impressas de modo totalmente extrínseco.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A visão intelectual não se realiza em dependência de nenhumas semelhanças corpóreas ou individuais; mas, se realiza fundada nalguma semelhança inteligível. Donde o dizer Agostinho, que a alma tem uma certa semelhança da espécie conhecida. E essa semelhança inteligível, na revelação profética, às vezes é imediatamente impressa por Deus. Outras vezes ela procede das formas imaginadas, com o auxilio do lume profético: porque, por meio dessas mesmas formas imaginadas, a verdade é compreendida mais profundamente, com a ajuda da ilustração de um lume mais alto.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O homem, pela sua virtude natural, pode formar quaisquer formas imaginadas, considerando–se essas formas absolutamente. Mas não o pode, quando elas são ordenadas a representar verdades inteligíveis excedentes ao intelecto humano; pois, para tal é–lhe necessário o auxilio do lume sobrenatural.