Art. 5 – Se os prelados e eis religiosos estão no estado de perfeição.

O quinto discute–se assim. – Parece que os prelados e os religiosos não estão no estado de perfeição.

1. – Pois, o estado de perfeição separa–se por oposição do estado dos principiantes e dos proficientes. Ora, não há nenhuns gêneros de homens destinados ao estado de perfeição.

2. Demais. – O estado exterior deve corresponder ao interior; do contrário, incorre–se em mentira, que se pratica não só por palavras falsas, mas também por obras simuladas, como ensina Ambrósio num sermão. Ora, há muitos prelados ou religiosos que não têm a perfeição interior da caridade. Se pois, todos os religiosos e prelados estão no estado de perfeição, resulta que os dentre eles não perfeitos vivem em estado de pecado mortal, como simuladores e mentirosos.

3. Demais. – A perfeição se funda na caridade, como se estabeleceu. Ora, parece que a caridade perfeitíssima é a dos mártires, conforme o Evangelho: Ninguém tem maior amor do que este, de dar um a própria vida por seus amigos. E àquilo do Apóstolo – Ainda não tendes resistido até derramar o sangue, etc. O diz a Glosa: Não há nesta vida nenhuma perfeição maior do que a atingida pelos santos mártires, lutando contra o pecado até a morte. Logo, parece que o estado de perfeição deve ser atribuído antes aos mártires que aos religiosos e aos bispos.

Mas, em contrário, Dionísio atribui a perfeição aos bispos como sendo os mais perfeitos. E atribui a perfeição aos religiosos, aos quais chama monges ou terapeutos, isto é, servos de Deus, como a perfeitos.

SOLUÇÃO. – Como dissemos, o estado de perfeição implica uma obrigação perpétua à perfeição, contraída mediante uma certa solenidade Ora, uma e outra convém aos religiosos e aos bispos. Pois, os religiosos se obrigam a separar–se das coisas do século, que poderiam licitamente usar, para vacarem, mais livremente a Deus; e nisso consiste a perfeição da vida presente. Donde o dizer Dionísio, falando dos religiosos: Uns os denominam terapeutas, isto é, servos de Deus, por lhe servirem totalmente como servos fámulos; outros lhes chamam monges, por causa da vida indivisível e solitária que os une, pela santa ocupação, isto é, contemplação das cousas indivisíveis. que os aproxima da unidade divina e da amável perfeição, de Deus. Ora, a obrigação deles se contrai mediante uma certa solenidade, da profissão e a benção. Por isso no mesmo lugar acrescenta Dionísio: Eis porque dando–lhes uma graça perfeita, a santa legislação os dignificou com invocações santificantes.

Semelhantemente, os bispos também se obrigam a uma vida de perfeição, ao assumir o ofício pastoral; é em virtude dela que o pastor põe a sua vida pelas suas ovelhas, – na expressão do Evangelho, E o Apóstolo diz: Fizeste uma boa confissão ante muitas testemunhas, isto é, na tua ordenação, segundo a Glosa a esse lugar. E simultaneamente à referida profissão acrescenta–se a solenidade da consagração, conforme aquilo do Apóstolo: Eu te admoesto que tornes a acender o fogo da graça de Deus, que recebeste pela imposição das minhas mãos, o que a Glosa expõe como referente à graça episcopal. E Dionísio diz, que o sumo sacerdote, isto é, o bispo, na sua sagração, se lhe coloca sobre a cabeça o livro que encerra a santíssima palavra de Deus, para significar que ele participe da virtude total da santa hierarquia, e que não somente deve iluminar os outros com a santidade das suas palavras e ações, mas que também pode lhes transmitir o seu mesmo poder.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – O começo e o aumento não têm uma finalidade própria, mas se ordenam à perfeição. Por onde, certas pessoas podem assumir, ligados por uma solene obrigação, só o estado de perfeição.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Os homens assumem o estado de perfeição, por fazerem assim, não profissão de perfeitos, mas de tenderem à perfeição. Por isso, o Apóstolo diz: Não que a tenha eu já alcançado ou que seja já perfeito; mas eu prossigo para ver se de algum modo poderei alcançar. E em seguida acrescenta: Todos os que somos perfeitos vivamos nestes sentimentos. Por onde, não diz mentira nem pratica nenhuma simulação quem, apesar de ter assumido o estado de perfeição, não é perfeito. Mas, sim, quem, tendo–se consagrado a esse estado, renuncia na sua alma a tender à perfeição.

RESPOSTA À TERCEIRA. – O martírio constitui um ato perfeitíssimo de caridade. Ora, o ato da perfeição não basta a constituir o estado, como se disse.