Art. 4 — Se Cristo se demorou algum tempo no inferno.

O quarto discute-se assim. — Parece que Cristo não se demorou nenhum tempo no inferno.

1. — Pois, Cristo desceu ao inferno para que dele livrasse os homens. Ora, ele o fez imediatamente com a sua descida; pois, é fácil a Deus enriquecer de repente ao pobre, como diz a Escritura. Logo, parece que não se demorou nenhum tempo no inferno.

2. Demais. — Agostinho diz: Por ordem do Senhor e Salvador, sem nenhuma demora se quebraram todas as portas de ferro. Por isso, da pessoa dos anjos, que acompanhavam a Cristo, diz a Escritura: Levantai, ópríncipes, as vossas portas. Ora, Cristo desceu ao inferno para lhe quebrar as trancas. Logo, Cristo não se demorou nenhum tempo no inferno.

3. Demais. — O Evangelho refere que Cristo, pendente da Cruz, disse ao ladrão: Hoje estarás comigo no Paraíso — e isso mostra que no mesmo dia Cristo esteve no Paraíso. Ora, não pelo corpo, que estava depositado no sepulcro. Logo, pela alma, que descera ao inferna. E, portanto parece que nenhum tempo se demorou no inferno.

Mas, em contrário, diz Pedro: Ao qual, Deus ressuscitou soltas as dores do inferno, porquanto era impossível que por este fosse ele retido. Logo, parece que até à hora da ressurreição permaneceu no inferno.

SOLUÇÃO. — Assim como Cristo, para tomar sobre si as nossas penas, quis que o seu corpo fosse depositado no sepulcro, assim também quis que a sua alma descesse ao inferno. Ora, o seu corpo permaneceu no sepulcro por um dia inteiro e duas noites, para comprovar a verdade da sua morte. E por isso devemos crer que outro tanto a sua alma se demorou no inferno; de modo a saírem simultaneamente – a alma, do inferno e o corpo, do sepulcro.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Cristo, tendo descido aos infernos, tirou de lá os santos que nele permaneciam; não pelos livrar imediatamente do cárcere infernal, mas pelos iluminar, mesmo no inferno, com a luz da glória. E, contudo era conveniente, que a sua alma permanecesse no inferno por tanto tempo quanto o corpo lhe permaneceu no sepulcro.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Trancas do inferno se chamam os obstáculos que impediam os santos Patriarcas de sair dele, pelo reato da culpa dos nossos primeiros Pais. As quais Cristo, descendo aos infernos, as quebrou imediatamente pela virtude da sua paixão e morte. E, contudo quis permanecer no inferno durante algum tempo, pela razão predita.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Essas palavras do Senhor devem entender-se, não do paraíso terrestre material, mas do paraíso espiritual, onde dizemos que estão todos os que gozam da glória divina. Por isso o ladrão, desceu certo, localmente com Cristo ao inferno, para estar com Cristo, conforme lhe tinha sido dito – hoje estarás comigo no Paraíso. Mas por premio esteve no. Paraíso porque aí gozava da divindade de Cristo, como dela gozavam os outros Santos.