Art. 6 — Se se pode batizar em nome de Cristo.

O sexto discute-se assim. — Parece que se pode batizar em nome de Cristo.

1. Pois, como não há senão uma fé, assim também não há senão um batismo, no dizer do Apóstolo. Ora, a Escritura refere que em nome de Cristo íam-se batizando homens e mulheres. Logo, também agora se pode batizar em nome de Cristo.

2. Demais. — Ambrósio diz: Nomeando Cristo, terás designado o Pai, de quem recebeu a unção; o próprio Filho, que foi o ungido; e o Espírito Santo, por quem foi ungido. Ora, pode-se batizar em nome da Trindade. Logo, também em nome de Cristo.

3. Demais. — Nicolau I Papa, respondendo às consultas dos Búlgaros, diz: Os batizados em nome da Santa Trindade, ou somente em nome de Cristo — como lemos nos Atos dos Apóstolos — não devem ser rebatizados, porque num como noutro caso o batismo é o mesmo, conforme o diz Santo Ambrósio. Ora, seriam rebatizados se nessa forma de batismo não tivessem recebido esse sacramento. Logo, pode ser ministrado o batismo em nome de Cristo, sob a forma — Eu te batizo em nome de Cristo.

Mas, em contrário, Pelágio Papa escreve ao Bispo Gaudêncio: Se os que se diz que moram em lugares vizinhos da vossa Dilecção, declaram terem sido batizados só em nome do Senhor, sem vacilação de nenhuma dúvida batizá-los-eis em nome da Santa Trindade, se vierem à fé católica. — E Dídimo também diz: Se houver quem, por distracção de espírito, batizar e esquecendo um dos referidos nomes — isto é, das três Pessoas não terá conferido verdadeiro batismo.

SOLUÇÃO. — Como dissemos, os sacramentos haurem a sua eficácia na instituição de Cristo. Portanto, a emissão de alguma das condições estabelecidas por Cristo para cada sacramento, suprime-lhe a eficácia; salvo por dispensa espe­cial do próprio Cristo, que não ligou o seu poder a esses ritos. Ora, Cristo instituiu que o sacra­mento do batismo fosse ministrado com a invo­cação da Trindade. Portanto, tudo o que faltar, para a plena invocação da Trindade, tira ao batismo a sua integridade. — Nem obsta que pelo nome de uma Pessoa se entenda outra, assim como no nome do Pai se entende o Filho. Ou que quem nomeia uma só pessoa possa ter fé verdadeira nas três. Pois, assim como o sa­cramento requere matéria sensível, assim tam­bém forma sensível. Por onde não basta à inte­ligência ou a fé da Trindade para a perfeição do sacramento, se a Trindade não for expressa sen­sivelmente por palavras. Por isso, no batismo de Cristo, origem da santificação do nosso ba­tismo, esteve presente a Trindade sob sinais sensíveis, a saber: O Pai, pela voz; o Filho, pela natureza humana; o Espírito Santo, pela pomba.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­Por uma especial revelação de Cristo, os Após­tolos, na primitiva Igreja, batizavam em nome dele; a fim de o nome de Cristo, odioso aos ju­deus e aos gentios, se tornar estimado por ser, à sua invocação, conferido o Espírito Santo no batismo.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Ambrósio dá a razão porque convenientemente essa dispensa podia ser dada na primitiva Igreja. E é porque pelo nome de Cristo se entende toda a Trindade. E assim se observava ao menos numa integridade inteligível, a forma que Cristo transmitiu no Evangelho.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O Papa Nicolau con­firma o seu dito pelas duas autoridades prece­dentes. E por isso a resposta se deduz das duas primeiras soluções.