Art. 7 — Se a imersão na água é necessária no batismo.

O sétimo discute-se assim. — Parece que a imersão na água é necessária no batismo.

1. — Pois, como diz o Apóstolo, não há senão uma fé e um batismo. Ora, para muitos o modo comum de batizar é pôr imersão. Logo, parece que não pode haver batismo sem imersão.

2. Demais. — O Apóstolo diz: Todos os que fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte: porque nós fomos sepultados com ele para morrer ao pecado pelo batismo. Ora, isso se faz pela imersão. Assim, àquilo do Evan­gelho — Quem não renascer da água e do Espírito Santo — diz Crisóstomo: Como num sepulcro o homem velho fica sepulto na água, quando a pessoa batizada é submersa até a cabeça; e, submerso, fica no fundo, para dar lugar ao homem novo, que emerge. Logo, parece que a imersão é necessária no batismo.

3. Demais. — Se sem a imersão total do corpo se pudesse ministrar o batismo, pela mes­ma razão bastaria à aspersão de uma quantida­de qualquer de água. O que é inconveniente, porque o pecado original, contra o qual sobretudo é, conferido o batismo, não está numa só parte do corpo. Logo, parece necessária a imer­so no batismo, não bastando só à aspersão.

Mas, em contrário, o Apóstolo: Cheguemo-nos a ele com verdadeiro coração, revestidos de uma completa fé, tendo os corações purificados de consciência má e lavados os corpos com água limpa.

SOLUÇÃO. — A água é empregada, no sacramento do batismo, para uso da ablução corporal, significativa da ablução interior dos pecados. Ora, a ablução com a água pode ser feita não só a modo de imersão, mas também a modo de aspersão ou efusão. Por onde, embora seja mais seguro batizar por meio de imersão, por ser o uso mais comum, pode-se também batizar por meio da aspersão ou ainda da efusão, conforme aquilo da Escritura: Derramarei sobre vós uma água pura. E assim se lê que São Lourenço ba­tizou. E isso sobretudo por necessidade ou quando for muito grande o número dos que de­vem ser batizados; assim, ao caso referido pela Escritura de três mil que creram num dia, e cinco mil, no outro. As vezes também pode ser premente a necessidade pela escassez da água; ou pela pouca resistência do ministro que não pode sustentar o batizando; ou pela fraqueza deste, que poderia na imersão correr o perigo de morte. Logo, devemos concluir não ser a imer­são necessária no batismo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ­Os acidentes não variam a substância da coisa. Ora, o batismo requer essencialmente a ablução corporal por meio da água. Por isso o Apóstolo chama ao batismo, batismo de água: Purifican­do-a no batismo da água pela palavra da vida. Ora, fazer a ablução de tal ou tal modo é aci­dental ao batismo. Por isso essa diversidade não lhe tira a ele a unidade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A imersão representa mais expressamente a figura da sepultura de Cristo, por isso este modo de batizar é mais comum e mais recomendável. Mas os outros também a representam de certo modo, embora não tão expressamente. Pois, de qualquer modo que se faça a ablução, o corpo humano, ou algu­ma parte dele, é sob oposto à água como o corpo de Cristo foi posto sob a terra.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A parte principal do corpo, sobretudo dentre os membros externos, é a cabeça, onde haurem a sua energia os sentidos internos e externos: Por onde, sendo a água tão pouca que não baste para derramar-se por todo o corpo, ou por outra causa qualquer, é necessá­rio derramá-la na cabeça, onde se manifesta o principio da vida animal. — E embora seja pelos membros da geração que o pecado original se transmite, não são contudo, antes, esses mem­bros, que a cabeça os que devem ser aspergidos. Pois, o batismo não exclui a transmissão do pecado original à prole, pelo ato da geração, senão que livra a alma da mácula e do reato do pecado cometido. Por isso, deve ser lavada de preferência a parte do corpo onde se manifesta a atividade da alma. — A lei velha porem apli­cava o remédio contra o pecado original no membro da geração, porque então ainda aquele, que viria delir o pecado original, estava por nascer da estirpe de Abraão, cuja fé a circuncisão significava, como diz o Apóstolo.