Art. 8 — Se a fé é necessária da parte do batizado.

O oitavo discute-se assim. — Parece que a fé é necessária da parte do batizado.

1. Pois, o sacramento do batismo foi instituído por Cristo. Ora, Cristo, quando determinou a forma do batismo, exigiu antes a fé: Quem crer e for batizado será salvo. Logo, parece que sem fé não pode haver batismo.

2. Demais. — Nada há de vão nos sacra­mentos da Igreja. Ora, segundo o rito da Igreja, quem recebe o batismo é interrogado so­bre a fé, quando se lhe pergunta: Crês em Deus Padre omnipotente? Logo, parece que a fé é necessária ao batismo.

3. Demais. — Para o batismo é necessária a intenção de receber o sacramento. Ora, isso se não pode dar e sem uma fé perfeita, por ser o batismo o sacramento dessa fé, pois nos incor­pora com Cristo, como diz Agostinho. O que não é possível sem tal fé, segundo aquilo do Apóstolo: Para que Cristo habite pela fé nos vossos cora­ções. Logo, quem não tem fé perfeita não pode receber o sacramento do batismo.

4. Demais. — A infidelidade é um gravíssi­mo pecado, como se estabeleceu na Segunda Parte. Ora, os que perseveram no pecado não devem ser batizados. Logo, nem os que perseveram na infidelidade.

Mas, em contrário, Gregório, escrevendo ao Bispo Quirino, diz: Sabemos pela instituição dos antigos patriarcas que os batizados pelos heré­ticos o nome da Trindade, quando voltarem ao seio da Igreja devem ser nela recebidos pela unção da crisma ou pela imposição das mãos ou pela só profissão da fé. Ora, isso não se daria se a fé fosse a fé necessária para receber o batismo.

SOLUÇÃO. — Como do sobre dito se colhe, dois efeitos causa o batismo na alma: o caráter e a graça. Logo duas necessidades incluem o batis­mo. A do que é indispensável para se obter a graça, que é o efeito último do sacramento; e deste modo a fé perfeita é necessária ao batis­mo; porque, como diz o Apóstolo, a justiça de Deus é infundida pela fé de Jesus Cristo – A outra é a sem a qual o caráter do batismo não pode ser impresso. E assim, a fé perfeita do batizado não é necessàriamente exigida para receber o batismo, como nem a fé perfeita de quem batiza, contanto que se realizem as outras condições necessárias para o sacramento Pois, este não se perfaz pela justiça de quem o confere nem do que o recebe, mas por virtude de Deus.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­O Senhor se refere ao batismo enquanto nos conduz à salvação pela graça justificante, o que não pode ser sem a fé perfeita. Por isso diz si­naladamente: Quem crê e for batizado será salvo.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A Igreja confere o batismo com a intenção de nos purificar do pecado, segundo aquilo da Escritura: Todo este fruto se reduz a que seja tirado o seu pecado. Por onde da sua parte, não tem a intenção de conferir o batismo senão aos de fé perfeita, sem a qual não há perdão dos pecados. E por isso interroga aos que se apresentam ao batismo, se crêem. Quem receber porem o batismo sem fé perfeita, fora da Igreja, não o recebe para sua salvação. Por isso diz Agostinho: A comparação da Igreja com o Paraíso nos indica que mesmo os que não lhe pertencem ao grêmio podem re­ceber o batismo, mas ninguém pode fora dela receber nem conservar a beatitude.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Mesmos os que não têm uma fé verdadeira em relação aos outros artigos, podem tê-la sobre o sacramento do batismo; o que, pois, não os impede tenham a intenção de receber esse sacramento. Mas se mesmo sobre esse não tivessem uma fé escla­recida, basta para recebê-lo a intenção geral de o fazer, como o instituiu Cristo e o ensina a Igreja.

RESPOSTA À QUARTA. — Assim como o sacra­mento do batismo não deve ser conferido a quem não quiser deixar o pecado, assim também não o deve a quem não quiser abandonar a infideli­dade. Ambos, porém, receberão o sacramento se lhes for conferido, mas não para salvação.