Art. 6 — Se a alma de Cristo só tinha um hábito de ciência.

O sexto discute-se assim. — Parece que a alma de Cristo tinha só um hábito de ciência.

1. — Pois, quanto mais a ciência é perfeita tanto mais una é; por isso os anjos superiores conhecem mediante formas mais universais, como se disse na Primeira Parte. Ora, a ciência de Cristo era perfeitíssima. Logo, una por excelência. Portanto não se distinguia por muitos hábitos.

2. Demais. — A nossa fé deriva da ciência de Cristo, como diz o Apóstolo: Pondo os olhos no autor e consumador da fé; Jesus. Ora, há um só hábito da fé para todas as coisas que ela faz crer, como se disse na Segunda Parte. Logo, com maior razão, Cristo só tinha um hábito da ciência.

3. Demais. — As ciências se distinguem pela diversidade formal dos seus objetos, Ora, a alma de Cristo sabia tudo por uma só razão formal – o lume infuso por Deus. Logo, em Cristo só havia um hábito de ciência.

Mas, em contrário, a Escritura diz que, sobre uma pedra única, isto é, Cristo, estão sete olhos. E por olhos se entende a ciência. Logo em Cristo havia muitos hábitos de ciência.

SOLUÇÃO. — Como se disse, a ciência infusa na alma de Cristo assumia um modo conatural à alma humana. Ora, é conatural à alma humana receber as espécies em menor universalidade que o anjo, de modo que conheça diversas naturezas especificas mediante diversas espécies inteligíveis. Donde vem que há em nós diversos hábitos de ciência, por haver diversos gêneros de cognoscíveis; isto é, enquanto que tudo o que está compreendido num mesmo gênero é conhecido pelo mesmo hábito de ciência; assim, como diz Aristóteles, a ciência é una quando pertence ao mesmo gênero do sujeito. Logo, a ciência infusa da alma de Cristo distinguia-se conforme a diversidade dos hábitos

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Como se disse, a ciência da alma de Cristo é perfeitíssima e excede à ciência dos anjos, si considerarmos nele o que procede da influência de Deus; mas é inferior à ciência angélica quanto ao modo do sujeito recipiente. E é fundada nesse modo que a sua ciência se distingue por muitos hábitos, como existindo por espécies mais particulares.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A nossa fé se baseia na Verdade primeira. Por onde, Cristo é o autor da nossa fé, pela sua ciência divina, una, absolutamente falando.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O lume infuso da divindade é a razão comum de inteligir o que é revelado por Deus; assim como o lume do intelecto, o de inteligir o que naturalmente conhecemos. Por onde, é necessário atribuir à alma de Cristo espécies próprias das coisas particulares, para que conhecesse cada uma delas por um conhecimento próprio. E, assim sendo, era necessário tivesse a alma de Cristo diversos hábitos de ciência, como se disse.