Art. 3 ─ Se este sacramento foi instituído por Cristo.

O terceiro discute-se assim. ─Parece que este sacramento não foi instituído por Cristo.

1. ─ Pois, o Evangelho menciona os sacramentos instituídos por Cristo, como a Eucaristia e o batismo. Ora, não faz menção nenhuma da extrema unção. Logo, não foi instituída por Cristo.

2. Demais. ─ O Mestre das Sentenças diz expressamente, que foi instituído pelos Apóstolos. Logo, não foi Cristo mesmo quem o instituiu.

3. Demais. ─ Os sacramentos, que Cristo instituiu ele próprio os ministrou na sua própria pessoa. Ora, a ninguém ministrou este sacramento. Logo, não foi quem o instituiu.

Mas, em contrário. ─ Os sacramentos da Lei Nova são mais dignos que os da Velha. Ora, todos os sacramentos da Lei Velha foram instituídos por Deus. Logo, e com maior razão, todos os sacramentos da Lei Nova foram instituídos pelo próprio Cristo.

2. Demais. ─ Quem institui também pode revogar o estatuído. Ora, a Igreja que nos sucessores dos Apóstolos tem a mesma autoridade que tiveram eles, não poderia eliminar o sacramento da extrema unção. Logo, quem o instituiu foi Cristo mesmo e não os Apóstolos.

SOLUÇÃO. ─ Nesta matéria há duas opiniões. Uns dizem que este sacramento e o da confirmação não os instituiu Cristo, por si mesmo, mas deixou a instituição deles aos Apóstolos. Porque esses dois, por causa da plenitude da graça por eles conferida, não podiam os Apóstolos instituí-los, antes de terem a recepção pleníssima do Espírito Santo. Por isso são sacramentos da Lei Nova não prefigurados na Lei Velha. ─Mas essa razão não é muito congente; porque assim como Cristo, antes da sua paixão, prometeu aos apóstolos a pleníssima missão do Espírito Santo, assim também podia instituir esses sacramentos.

Por isso outros dizem, que todos os sacramentos foi Cristo mesmo quem os instituiu; mas uns, mais difíceis de serem cridos, por si mesmo os instituiu, outros, como a extrema unção e a confirmação, deixou aos Apóstolos promulgarem-nos. Esta opinião parece tanto mais provável, que os sacramentos constituem o fundamento da lei; por isso devia instituí-los o próprio Legislador. Além disso, porque tiram a sua eficácia da instituição, que não vem senão de Deus.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Muitas coisas o Senhor disse e fez, que não estão contidas no Evangelho. Pois, os Evangelistas cuidaram principalmente de transmitir o consernente ao modo necessário à salvação e à disposição da Igreja. Por isso, referiram a instituição do batismo, da penitência da Eucaristia e da ordem, feita por Cristo, de preferência à da estrema unção ou da confirmação, que nem são de necessidade para a salvação nem concernem à disposição da organização da Igreja. Contudo, a unção com o óleo é referida no Evangelho, quando diz que os Apóstolos ungiam com óleo os enfermos.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O Mestre das Sentenças diz, que a extrema unção foi instituída pelos Apóstolos, porque pelos ensinamentos deles nos foi promulgada a instituição desse sacramento.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Cristo não ministrou por si próprio senão os sacramentos que deu o exemplo de receber. Não podia porém receber os sacramentos da penitência e da extrema unção, porque não tinha pecado. Por isso não os ministrou por si próprio.