Art. 6 ─ Se devemos ter contrição de cada pecado mortal.

O sexto discute-se assim. ─ Parece que não devemos ter contrição de cada pecado mortal.

1. ─ Pois, o movimento de contrição implica numa justificação instantânea. Ora, num instante não nos podemos lembrar de cada pecado. Logo, não é necessário ter contrição de cada pecado.

2. Demais. ─ A contrição devemo-la ter dos pecados, por nos afastarem eles de Deus; pois, a conversão para a criatura, sem a aversão de Deus, não exige a contrição, Ora, todos os pecados mortais convêm pela aversão. Logo, basta de todo uma só contrição.

3. Demais. ─ Os pecados mortais atuais têm maior conveniência entre si, do que o atual com o original. Ora, um só batismo dele todos os pecados atuais e o original. Logo, uma contrição geral dele todos os pecados mortais.

Mas, em contrário. ─ Doenças diversas se curam com remédios diversos; assim, não cura os olhos o que se aplica ao calcanhar, como diz Jerônimo. Ora, a contrição é um remédio particular contra um pecado mortal. Logo não basta ter uma contrição geral de todos os pecados mortais.

2. Demais. ─ A contrição se completa pela confissão. Ora, é necessário confessar cada um dos pecados mortais. Logo, também o é ter contrição de cada um.

SOLUÇÃO. ─ A contrição pode ser considerada a dupla luz: quanto ao seu princípio e quanto ao seu termo. E chamo princípio da contrição o pensar no pecado e ter dor dele, embora não a dor de contrição, mas a de atrição. Quanto ao termo da contrição, é dor referida, já informada pela graça. Ora, relativamente ao seu princípio a contrição deve recair sobre cada um dos pecados que repassamos na memória. Mas, relativamente ao termo, basta seja ela uma contrição geral de todos os pecados; pois, então, esse movimento opera em virtude de todas as disposições precedentes.

Donde se deduz clara a RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Embora todos os pecados mortais convenham na aversão, contudo diferem pela causa e pelo modo da aversão e pelo maior afastamento de Deus. E isto segundo a diversidade da conversão.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ O batismo age em virtude dos méritos de Cristo, que teve uma virtude infinita para delir todos os pecados; e por isso um só desses méritos basta contra todos os pecados. Mas, na contrição, com o mérito de Cristo é necessário o nosso ato. Por onde, é necessário que ela recaia sobre cada pecado em particular, pois não tem virtude infinita. – Ou devemos responder que o batismo é uma geração espiritual; mas a penitência, quanto à contrição e as outras partes, é uma como cura espiritual a modo de alteração. Pois, é claro que na geração corporal de um ser, resultante de corrupção de outro, pela mesma geração ficam removidos todos os acidentes contrários ao ser gerado, que vieram do ser corrupto; ao passo que na alteração fica removido apenas o acidente contrário ao que é o termo da alteração. E semelhantemente, um só batismo dele simultaneamente todos os pecados, trazendo uma nova vida; enquanto que a penitência não dele todos os pecados, se não recair sobre cada um em particular. Logo, é necessário ter contrição de cada um e confessá-los de per si.