Art. 1 ─ Se Agostinho define bem a confissão dizendo: A confissão é a que faz descobrir a doença latente, pela esperança do perdão.

O primeiro discute-se assim. ─ Parece que Agostinho define mal a confissão, quando diz: A confissão é a que faz descobrir a doença latente, pela esperança do perdão. Ora, a doença contra a qual se ordena a confissão é o pecado. Ora, o pecado às vezes já está descoberto. Logo, não se devia dizer que a confissão é o remédio de uma doença latente.

2. Demais. ─ O princípio da penitência é o temor. Ora, a confissão faz parte da penitência. Logo, não devia pôr a esperança como causa da penitência, mas antes, o temor.

3. Demais. ─ O que está posto sob sigilo não está descoberto, mas antes oculto. Ora, o pecado que confessamos o é sob o sigilo da confissão. Logo, não é descoberto o pecado na confissão, mas antes, é oculto.

4. Demais. ─ Há outras definições diferentes dessa. Assim Gregório diz, que a confissão é a revelação dos pecados e a abertura violenta das chagas da alma. Outros dizem que a confissão é a declaração dos pecados a um sacerdote aprovado. Outros ainda dizem assim: A confissão é a acusação sacramental do delinquente, satisfatória em virtude do pejo e do poder das chaves da Igreja, e que obriga a cumprir a penitência anexa. Logo, parece que a referida definição, não contendo tudo quanto as outras contém, é insuficiente.

SOLUÇÃO. ─ Várias coisas devemos considerar no mesmo ato da confissão. Primeiro, a substância mesma do ato ou o seu gênero, que é uma certa manifestação; segundo, a sua matéria, a saber, o pecado; terceiro, a quem é feita, isto é, o sacerdote; quarto, a sua causa, a saber, a esperança do perdão; quinto, o seu efeito, a absolvição de uma parte da pena e a obrigação a solver a outra parte. Ora, a primeira definição, a de Agostinho, toca na substância do ato quando se refere ao descobrimento; e na matéria da confissão, quando diz – doença latente; e na causa, quando diz – pela esperança do perdão. E as outras definições se referem a algum dos outros pontos assinalados, como o poderá ver quem quiser nisso atentar.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ─ Embora o sacerdote às vezes saiba como homem o pecado do penitente, contudo não o conhece como Vigário de Cristo; como também o juiz sabe às vezes de certas coisas como homem, que ignora como juiz. E nesse ponto, o sacerdote fica informado pela confissão. – Ou devemos responder, que embora o ato exterior esteja descoberto, contudo o ato interior, que é o mais principal, está oculto. E por isso é necessário seja revelado pela confissão.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ A confissão pressupõe a caridade, que dá a vida ao pecador, como diz à letra o Mestre das Sentenças. Ao passo que na contrição é que é dada a caridade. Quanto ao temor servil e desacompanhado da esperança, é condição prévia para a caridade. Mas quem tem a caridade é movido antes da esperança que do temor. Por onde causa da confissão é considerada antes a esperança que o temor.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ O pecado, em qualquer confissão, é descoberto ao sacerdote e oculto aos outros pelo sigilo da confissão.

RESPOSTA À QUARTA. ─ Não é preciso que toda definição abranja tudo o que implica a coisa definida. Por isso há certas definições ou atribuições que encaram uma coisa e outras, outra.