Um poema a Batina
Postado em 26-10-2009
(Catorze) moços, no ermo, abandonando o mundo
– sublimações da vida, em ímpeto fecundo-
Vestiram a BATINA – a farda preta, que ora
se diz negror da noite, e que ora é dita aurora…
Aurora contra a qual a sanha grita: apague!
– Objeto vil de vaia, erguido pouso de águia.
Batina longa: o manto autêntico de Cristo,
Mortalha funeral dos bens de quem é isto:
Cadáver para tudo o que de grande irrompa:
Sepulcro de esplendor e túmulo da pompa;
Ou pele de João, rugosa, hirsuta, agreste.
– O luto pelo mal, da penitência a veste,
Não hábito burguês de estofo suntuário,
Que na rua a seu fascínio de cenário.
É negra, mas proteja o cintilar dos mágicos
Na grei dos bons e sobre os panoramas trágicos.
É cova da ilusões, Moloc de idolatria,
Perante a qual o mundo a espinha acumplicia.
Condena o mal, aplaude o bem, vigia, zela,
Abasta de clarões as noites de procela.
Tecido do real é simples traje forte,
Que aponta o azul e diz que a vida sai da morte.
Na terra reina o caos, porém a fé com tino,
Traz o equilíbrio nesse invólucro divino.
Semeia a inquietação nas almas em pecado,
E já que Deus fecunda até deserto inçado,
Esse casulo escuro e mago da quietude
Donde se evola altiva a borboleta rude
Da rígida verdade, é concha, é ninho ardente,
Em que se faz gigante a mínima semente.
– BATINA! Em nossa pátria há foscos e outonais
Pedaços teus na garra adunca de espinhais.
Varou-te a bala, mas em teu vulto sempre igreja,
Feito bandeira além, dos torreões da igreja.
Molambo heróico, sempre em marcha execratória,
Fulguras triunfal no píncaro da história! …
Pe. Pedro Luiz
(publicado pela “Folha do Norte” em Belém do Pará em 16.07.1967)