Uma educação sem Deus

Postado em 13-06-2018

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Li há poucos dias uma extensa matéria, altamente encomiástica, sobre a educação na remota Estônia, um dos países mais pobres da União Europeia. A reportagem é elucidativa porque revela muito bem o que se entende hoje como o ideal de educação válido universalmente. E por isso desejaria comentá-la para encorajar as famílias realmente católicas a tomar a frente na educação integral dos seus filhos.

A referida reportagem, publicada dia 10 do corrente no jornal “O Estado de S. Paulo”,  informa que, apesar da falta de recursos, a Estônia tem hoje o melhor sistema educacional da Europa e um dos  mais bem avaliados do mundo, com um plano de educação permanente que sobrevive à sucessão dos governos. Além disso, a carreira docente tem sido bem remunerada e a figura do mestre é muito respeitada pelos alunos, o que seria, curiosamente, uma herança da extinta União Soviética.

Diz ainda a matéria que quase todas as crianças e jovens do país, dos 2 aos 19 anos, estudam nas impecáveis escolas públicas, dentro de um regime igualitário (mas não de igualdade porque os professores têm liberdade de escolha dos métodos pedagógicos), onde os alunos mais pobres têm desempenho tão bom quanto os ricos nos exames internacionais. Hoje, por exemplo, os estonianos têm o terceiro melhor desempenho do mundo em ciência, ficando atrás apenas de Cingapura e Japão.

Quanto à aprendizagem das diversas disciplinas, concedo que o sistema educacional estoniano seja um sucesso. O problema é que a educação não se reduz à instrução. É muito mais que isso. É ajudar o educando a desenvolver todas as suas potencialidades, a conhecer a verdade, a adquirir os bons hábitos, a ciência e a virtude. É, enfim, colaborar com a natureza e graça para que o homem seja bom e alcance o seu fim último. Em seu sentido mais profundo, a educação compete à família e à Igreja. A escola, seja ela pública ou privada, confessional ou laica, tem uma função suplementar, isto é, colabora com a família do educando principalmente quanto à aquisição das competências.

Na verdade, o papel da família é insubstituível na educação, na boa formação da personalidade de um homem. É no seio da família que o homem aprende a conhecer-se a si mesmo. É ali que os pais vão ajudando a criança a descobrir suas aptidões, levando em conta, por exemplo, a hereditariedade. É ali, no regaço materno, que a criança recebe os bons exemplos e as melhores correções, aprende os valores absolutos, aprende a fazer bom uso da liberdade, a respeitar os mais velhos e a ser responsável. É por isso que Pio XI dizia que os frutos mais duradouros de uma educação são os produzidos durante os anos de convívio da criança com sua mãe.

Ora, tudo isso falta no sistema estoniano tão elogiado pela reportagem. Naquela república báltica, embora não haja creches, as crianças são encaminhadas à escola pública aos 2 anos de idade e lá vão aprender não só as disciplinas mas também os valores éticos e o empreendedorismo. A reportagem diz que os pais interagem com a escola. Mas resta saber que tipos de pais serão, pois a matéria informa que a Estônia é o país menos religioso do mundo. Lá a educação secular é o sucedâneo da religião.

Sem a família e a Igreja e as crianças sendo, desde a mais tenra idade, confinadas nas escolas públicas de um Estado agnóstico, na verdade não há mais verdadeira educação. Há apenas um adestramento de animaizinhos a serviço de um Estado que absorveu completamente a sociedade. A reportagem diz que as criancinhas brincam seminuas:  “de calcinhas e cuecas, escolhem livrinhos para leitura diária com a professora…” Está claro que não há uma educação para a virtude, mas apenas adestramento dos instintos. E muito provavelmente se inculca a ideologia do gênero. Em que pese a reportagem dizer que o sistema educacional estoniano forma as crianças para serem independentes e responsáveis, na verdade há uma recusa de ser independente, pois que toda a educação está nas mãos do Estado e os corpos intermediários da sociedade desapareceram a partir do momento em que a própria família abdicou do seu direito-dever de educar seus filhos.

Ademais, é de supor tudo se passe num ambiente de relativismo moral. O que não deixa de comprometer a aquisição de uma sólida ciência, porquanto esta supõe conhecimento certo, a superação da dúvida e da ignorância.

Que esperar desse modelo de educação tão elogiado? Que frutos produzirá?

Sem a instituição da família e da Igreja como protagonistas na obra da educação, não se pode falar de verdadeira educação que ajude o educando a desenvolver-se plenamente como um ser racional filho de Deus. Há apenas, repito, adestramento de animaizinhos que serão escravos bem alimentados e sadios que pensarão ser livres porque gozam de todos os prazeres, consomem as drogas que querem, dominam várias tecnologias. Mas no fundo são uns infelizes porque uma falsa educação não lhes permitiu chegar ao conhecimento da plena verdade sobre a dignidade do homem como filho de Deus.

Bem pensadas as coisas, a Estônia não faz nenhuma inovação. Aplica a velha cartilha de Rousseau. E crê na falácia de que abrir escolas é fechar presídios.

Anápolis, 13 de junho de 2018.

Santo Antonio de Pádua, confessor e doutor.