Arquivo de setembro de 2010

Política: desolação e esperança

Postado por Admin.Capela em 14/set/2010 - Sem Comentários

Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa

Todos nós, católicos, estamos angustiados ante a perspectiva de, dentro de poucos meses, ver instaurado no Brasil o pior e mais pernicioso governo que já tivemos. Uma criminosa terrorista na suprema magistratura da nação manobrando todos os recursos para implantar um regime completamente hostil a tudo aquilo que consideramos mais sagrado e santo na nossa vida, os valores fundamentais da nossa civilização.

Observo reações e alertas vindos dos mais diversos setores. Mas infelizmente até agora não vejo e não ouço ninguém dizendo que é preciso esmagar com um porrete a cabeça da serpente. Não vejo ninguém dizer que colhemos os mais sazonados frutos da democracia nascida da revolução dita francesa. Pelo contrario, vi há pouco um confrade dizendo que é preciso organizar um movimento em defesa de democracia e da liberdade.

Sinceramente, creio que vamos sofrer muito ainda, mas vejo um sinal de esperança. Vejo, através da Internet, inúmeros grupos fartos da realidade dolorosa que vivemos e descobrindo quanta fraude, quanta mentira foi dita nos últimos anos em matéria de religião e política.

Tomo, pois, a liberdade de, por meio deste modesto site de Santa Maria das Vitorias, exortar os católicos perplexos a organizar grupos de estudo doutrinário com o objetivo de, primeiro, aprofundar o conhecimento dos princípios de uma sã e reta política cristã e depois tentar agir dentro da possibilidade, com toda energia e prudência.

É chegada a hora de os católicos tomarem consciência da malícia do sufrágio universal igualitário e individualista. Se não me engano, foi Pio XI quem disse: sufrágio universal, mentira universal! É chegada a hora de os católicos combaterem a partidocracia. Os partidos políticos jamais foram, exceto alguns casos raros que confirmam a regra, um elo real entre a sociedade e o Estado. São agrupamentos espúrios, máquinas a serviço de interesses inconfessáveis. Principalmente no Brasil, onde quase noventa por cento da população tenta um concurso publico e o restante frustrado apóia algum candidato com a esperança de, uma vez apadrinhado, conseguir uma sinecura.

Chesterton dizia: “a democracia moderna é uma plutocracia disfarçada de partidocracia”. O chamado jogo democrático entre os partidos é realmente a maior farsa montada na história pela alta finança. A França de hoje, por exemplo, tem uma concentração de riqueza muito maior do que havia no Antigo Regime. A que assistimos no Brasil senão aos magnatas muito satisfeitos com o governo indecente do PT e felizes com a quase certa eleição da mulher terrorista?

No meio dessa imundície, que fazer de prático? Nosso trabalho certamente não terá resultado em breve tempo. Em primeiro lugar, constituir famílias numerosas e sólidas (A mulher será salva gerando filhos, diz a Sagrada Escritura). Nesse ponto, podemos ter uma vantagem enorme: a canalhada que nos governa é contra a vida, não tem filhos! Se tivermos muitos filhos, com o tempo e a ajuda de Deus varreremos todo esse lixo!
Além de rezar, constituir boas famílias, é preciso, como disse, estudar a boa doutrina. Aqui levamos uma terrível desvantagem! Os católicos não gostam de ler e estudar! Conta-se que quando Leão XIII publicou a célebre Rerum Novarum, um socialista inglês disse a seu correligionário: “Estamos liquidados! O papa esvaziou nosso discurso! Ao que o outro retorquiu: “Que nada! Você não conhece os católicos! Vão festejar um pouco o papa, mas vão engavetar a encíclica sem lê-la e sem fazer nada!”

Realmente, aqui bate o ponto! É absolutamente necessário vencer a preguiça intelectual e explorar o oceano de sabedoria, o tesouro intelectual que temos a nossa disposição e pôr em prática tantos princípios que podem iluminar e guiar nossa ação e melhorar nossa sociedade.

Aqui no Brasil, por exemplo, temos autores que estudaram a fundo as raízes da nossa permanente crise política e escreveram coisas interessantíssimas a respeito. O saudoso professor José Pedro Galvão de Sousa, a quem devo tanto em minha formação, é um autor que todos os católicos interessados em problemas do direito político, tem a obrigação de ler. Igualmente, Plínio Salgado, tão caluniado pelos esquerdistas, desprezado pelos liberais, e injustiçado por alguns católicos de direita, deixou-nos escritos preciosos. Seu projeto  de emenda constitucional de 1966, propondo  uma Câmara Orgânica Nacional, nos faz  ver com toda clareza a inautenticidade do atual sistema de representação política. O professor José Pedro Galvão de Sousa explanou magistralmente o assunto na sua obra maior Da representação política(Saraiva, 1971). Seu Dicionário de Política, obra póstuma e esgotada, é fundamental e preferível a qualquer outra do gênero. Dizia ele: “O indivíduo, enquanto indivíduo, desvinculado de um grupo social, é irrepresentável”, desmascarando assim a democracia individualista e igualitária.

Enquanto não formarmos nossa inteligência com os verdadeiros princípios, não saberemos explicar e combater a origem dos nossos males. Seremos companheiros de viagem de nossos inimigos liberais, vivendo uma ilusão e depois, quando já for tarde, chorando as conseqüências amargas.

Aprendamos com nossos pais e avós que em 1964 tiveram grande valor mas cometeram um erro gravíssimo. Saíram às ruas nas famosas Marchas da Família com Deus pela Liberdade.

Ficaram a meio do caminho, infelizmente! A liberdade é meio, não fim. Viviam a ilusão liberal. Liberdade para que? Para implantar, como ocorreu, uma ditadura militar tecnocrática com os gurus Delfim Netto e Golbery do Couto e Silva? Oxalá possamos nós dentro de alguns anos organizar marchas de famílias numerosíssimas, com dez ou doze filhos, Marchas da Família com Deus, pela Ordem Natural e pela Justiça,  sob a proteção de Nossa Senhora das Vitórias!

Anápolis, 14 de setembro de 2010.

Festa da Exaltação da Santa Cruz

 

 

Um problema semântico: tolerância e relativismo

Postado por Admin.Capela em 14/set/2010 - Sem Comentários

Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa

O ecumenismo e o diálogo inter-religioso pós-conciliar produziram, como todos sabemos, os mais amargos frutos. Hoje prevalece, em quase todos ambientes, a idéia de que todas as religiões são mais ou menos boas e verdadeiras. A única coisa que importa é a sinceridade com que o homem a pratica.

Diante de tal descalabro, algumas autoridades eclesiásticas com mais senso de responsabilidade reagem e pedem um remédio. O cardeal Giacomo Biffi, arcebispo emérito de Bolonha, confessou apreensivo que ouviu uma freirinha sirigaita dizer, muito satisfeita: “Senhor cardeal, o grande legado do papa João Paulo II foi mostrar que todas as religiões são boas!”

Como se sabe, o papa Bento XVI, desde os tempos em que era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em várias ocasiões criticou o relativismo, ficando célebre a sua expressão “ditadura do relativismo”, proferida por ocasião do conclave que o elegeu.

Todavia, parece-me que o Santo Padre tem em vista, sobretudo, o relativismo ético.  Não admite um ceticismo nem um cinismo que neguem valores morais perenes.

Mas no plano teológico observo que há um problema, talvez derivado da mentalidade humanista e otimista que prevaleceu durante e após o Vaticano II: uma Igreja aberta e em diálogo com o mundo, com as “outras religiões”, ajudaria a humanidade a progredir moralmente, a evitar uma terceira guerra mundial  e a alcançar a paz!

Ora, essa atitude humanista e filantrópica leva certamente a querer ver “aspectos positivos” em todas as coisas, ou ao menos em todas as religiões. Nessa perspectiva, a Igreja de Cristo tem de subsistir em qualquer grupo de homens de boa vontade.

Creio que ninguém negaria que tal é a mentalidade religiosa predominante em nossos dias. Que tal é a “política” adotada pelas autoridades.

Pois bem, quando se vêem aspectos positivos em todas as coisas, quando se diz, como já foi dito em um documento, que a humanidade tem necessidade das “religiões” para o seu desenvolvimento, quando se diz que a força de convicção dos adeptos das “outras religiões” (como também já foi dito oficialmente há alguns anos) é obra do Espírito Santo atuando fora das fronteiras visíveis da Igreja, quando se diz que, através do diálogo ecumênico e inter-religioso, há um enriquecimento recíproco das “comunidades eclesiais” e das religiões, quando se diz que o ministério petrino deve ser submetido a um reexame para descobrir-se uma nova modalidade de seu exercício, quando o papa passa a ser visto como o grande animador do movimento ecumênico e do diálogo inter-religioso mundial e não mais propriamente como o sucessor de Pedro, chefe da Igreja Católica, quando se admite tudo isto, eu pergunto: estamos diante de uma atitude de tolerância religiosa ou de relativismo teológico?

Não julgo as intenções de ninguém. Mas acho que há um problema sério aí. E vejo muita covardia em homens que tinham a obrigação de agir e reagir à altura diante de tal calamidade. Uma vez um prelado me disse que ficou indignado quando o Boff disse que a umbanda, o candomblé, a macumba e não sei mais o que eram também uma ação do Espírito Santo. Por que indignar-se se há um pecado maior?

Quando o teólogo jesuíta belga Dupuis, corifeu da teologia das religiões, foi citado perante o tribunal do antigo Santo Ofício, recusou retratação, dizendo que tinha chegado a sua conclusão com base na realidade eclesial. Assistia razão ao infeliz herege! Por que condená-lo? É coar um mosquito quando se engole um camelo!

O inesquecível jornalista Lenildo Tabosa Pessoa dizia que há muita gente esquerdista e socialista sem o saber. Hoje também há muito relativista sem o saber. Pensa que é tolerante quando na verdade é relativista. A tolerância é a atitude que se toma diante de um mal que não se pode impedir e então sofre-se o mal por caridade ou prudência a fim de evitar um mal maior. Hoje não se consideram as “outras religiosas” um mal; pelo contrário, formula-se um juízo positivo a respeito das mesmas.

Portanto, estamos diante de uma questão semântica. A tolerância já não significa a mesma coisa. Significa ou encobre uma postura realmente relativista senão teórica ao menos prática. E como não há prática sem teoria, cumpre reconhecer que há uma nova teologia heterodoxa por trás de tal prática ou uma gravíssima falta de prudência nas relações entre a Igreja e o mundo.

Tolerantes por caridade e prudência foram os papas de antes do Vaticano II. Chamando as coisas pelo seu verdadeiro nome (religiões falsas são religiões falsas), suportaram com paciência e heroísmo as conseqüências  dos erros modernos que não podiam impedir mas não cessavam de condenar abertamente.

Hoje os verdadeiros tolerantes são chamados intolerantes, sectários, integristas, fundamentalistas. E os relativistas e liberais são chamados tolerantes.

Anápolis, 14 de setembro de 2010.

Festa da Exaltação da Santa Cruz