Arquivo de abril de 2012

Quem foi Chico Xavier?

Postado por Admin.Capela em 30/abr/2012 - Sem Comentários

1Em 2010 os espíritas de todo o país comemoraram 100 anos do nascimento deste que consideram o maior “médium” brasileiro. Podemos sem dúvida considerar o Sr. Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido como “Chico Xavier”, uma das personalidades mais populares e também mais polêmicas da história recente do nosso país. E como a nossa mídia (incluindo grandes emissoras de TV, redações dos grandes jornais e revistas e o meio artístico em geral) está repleta de militantes do espiritismo, estamos presenciando atualmente um verdadeiro festival de apologia à figura de Chico Xavier. Filmes nos cinemas, peças de teatro, lançamentos de uma infinidade de livros, especiais de TV, matérias de capa nas revistas…

Mas o fato é que é muito raro a grande mídia abordar as diversas facetas desse controverso personagem: existe uma outra realidade bem diferente dessa que estamos acostumados a ver nos meios de comunicação, e que pode ser comprovada muito facilmente. A revista Voz da Igreja é uma publicação comprometida com a verdade. Longe de querer provocar polêmicas, e com todo o respeito a todos os espíritas, não poderíamos deixar de abordar esses fatos. Para falar de uma personalidade tão conhecida, o bom senso e a boa consciência nos obrigam a abordar o assunto de maneira responsável e imparcial. – Algo bem diferente da tremenda propaganda que temos presenciado nos meios de comunicação.

Apresentamos uma série de fatos a respeito de Chico Xavier que é desconhecida da maioria. Advertimos que todas as questões aqui colocadas são fundamentadas na pesquisa histórica e documentada, e em depoimentos que foram publicados em veículos sérios e respeitados.

1. Foi comprovado que Chico Xavier usou truques de pirotecnia em “shows de mediunidade” no começo de sua carreira.

As fotos ao final deste texto retratam algumas dessas exibições. Existem muitas outras, que se encontram facilmente na internet: em salões alugados, ele se sentava em frente a uma cortina, diante da plateia. Luzes piscavam por detrás do pano, e um cheiro de éter enchia a sala. Aos poucos, vultos surgiam atrás das cortinas e Xavier, junto com outros “médiuns”, diziam que eram espíritos se materializando… Fotos da revista “O Cruzeiro” (1964) mostram claramente que eram pessoas vestindo lençóis brancos e véus cobrindo a cabeça. Mesmo assim, alguns ingênuos pareciam acreditar na farsa. O pesquisador Eurípedes Tahan disse que as pessoas da plateia podiam até tocar as tais “entidades” e tirar fotos! Nessa época, “médiuns” e mágicos costumavam viajar pelo país com seus shows. Chico dizia que usava seus “poderes” para materializar os espíritos. Ele ficava sentado e dizia se concentrar, enquanto as “entidades” saíam de trás do pano. Curioso é que as figuras nunca “apareciam” na frente da plateia, como deveriam, se fossem entidades etéreas se materializando. Convenientemente, elas saiam de trás da cortina, como se vê nos shows de mágica mais rudimentares. Anos mais tarde, a farsa foi definitivamente desmascarada, e Otília Diogo, uma das pessoas que se passava por “espírito” chegou a ser presa. Foi com esses shows que Chico começou a se tornar conhecido.

2. O sobrinho de Chico Xavier, numa entrevista ao jornal “O Diário de Minas”, confessou que as psicografias do tio não passavam de farsa.

Amauri Pena Xavier, sobrinho de Chico, também se dizia “médium” e afirmava psicografar textos e cartas de pessoas falecidas. Aos 25 anos de idade, sondado por jornalista do referido jornal, ele declarou, textualmente: “Aquilo que tenho escrito foi criado pela minha própria imaginação”. Na ocasião, ele também desmascarou o tio famoso, Chico Xavier, dizendo que as cartas “psicografadas” por ele não passavam de fraude: “Assim como tio Chico, tenho enorme facilidade para fazer versos, imitando qualquer estilo de grandes autores. Com ou sem auxílio de outro mundo, ele vai continuar escrevendo seus versos e seus livros”. – O mais incrível é que, depois dessa, tanta gente tenha continuado a acreditar nas psicografias de Chico Xavier. Foi nessa época que ele, acuado pelas investigações, saiu de Pedro Leopoldo e foi para Uberaba, local onde o espiritismo se encontrava em expansão, onde recebeu apoio.

3. Em 1971, o repórter José Hamilton Ribeiro, da revista Realidade, visitou as sessões de psicografia de Chico, e denunciou que ali aconteciam truques para impressionar os mais crédulos.

Declarou o repórter: “Meu fotógrafo viu um dos assessores de Chico levantar o paletó discretamente e borrifar perfume no ar”. Chico era famoso pelo perfume que parecia surgir “do nada” em meio às sessões de “psicografia”. – “As pessoas pensavam que o perfume vinha dos espíritos”, completou Ribeiro.

4. Em muitos livros de Chico Xavier, especialistas encontraram casos claros de plágio de obras literárias publicadas por diversos autores.

O pesquisador especializado Vitor Moura, criador do website “Obras Psicografadas”, comparou trechos dos livros ditos psicografados por Chico com livros de outros autores e descobriu evidências inquestionáveis. Um dos casos mais impressionantes é o da cópia quase literal de trechos da obra “Vida de Jesus”, do filósofo Ernest Renan, no livro “Há dois mil anos”, que Chico afirmou ter sido psicografado pelo “espírito Emmanuel”.

5. Já foi definitivamente comprovado pela pesquisa histórica que o tal “Públio Lentulus”, que Chico descreveu como “procurador da Judéia do tempo de Jesus” em seus livros, e afirmou tratar-se de um dos seus orientadores espirituais, nunca existiu.

Hoje se sabe que, historicamente, não existiu nenhum senador de Jerusalém ou procurador da Judéia cujo nome tenha sido “Públio Lentulus”. Além disso, os nomes, datas e detalhes que constam na obra de Chico são incompatíveis com os fatos históricos. Para saber detalhes, acesse: http://obraspsicografadas.haaan.com/

6. Apesar de muitos pensarem que Chico Xavier dizia detalhes sobre os entes queridos falecidos das pessoas que o procuravam, que não teria como saber, a verdade é que ele dava um jeito de conseguir esses dados, e sem nenhuma ajuda de espíritos.

O próprio Waldo Vieira, médico que foi uma espécie de sócio de Chico por quase duas décadas (desde o tempo dos ‘shows de mediunidade’), declarou o seguinte: “Funcionários do centro espírita iam às filas pegar detalhes dos mortos. Ou aproveitavam as histórias relatadas por parentes nas cartas em que pediam uma audiência. O que as mensagens de Chico continham eram essas informações”. Chico ou seus assessores faziam uma entrevista com as famílias que participariam das sessões de “psicografia”. O engenheiro Maurício Lopes conta que quando seu irmão de 9 anos foi morto num atropelamento, sua família procurou Chico atrás de ajuda. Ele diz: “Chico perguntou à minha mãe detalhes da morte e nomes de parentes, e tudo isso foi citado na carta, depois”.

7. A teoria de que Chico Xavier, sendo semi-analfabeto, não teria como escrever seus livros, é completamente falsa.

Chico não foi longe na escola, mas era autodidata. Ele sempre estudou muito por conta própria, e lia muitíssimo. Colecionava recortes de textos e poesias, comprava livros e mais livros e montou uma biblioteca particular (preservada até hoje em Uberaba), com obras em inglês, francês e hebraico! Nessa coleção estão os livros dos autores que ele dizia “receber do além” para escrever seus próprios livros, como Castro Alves, Humberto Campos e outros…

8. Apesar de o espiritismo se declarar uma “ciência”, Chico Xavier se recusava a permitir que cientistas estudassem seus alegados poderes. Ele dizia que seu “guia” não permitia. Mas o que ele temia?Se as suas habilidades fossem verdadeiras, as pesquisas só poderiam demonstrar a veracidade dos fenômenos e ajudar na propagação do espiritismo…

9. Otília Diogo era uma charlatã que se cobria com lençóis para se passar pelo espírito “Irmã Josefa” nos “shows de mediunidade” de Chico Xavier e Waldo Vieira. Ela foi enquadrada e presa anos depois.

10. O repórter Hamilton Ribeiro foi até Uberaba e desmascarou as mensagens ditas psicografadas de Chico, de maneira muito simples:

Ele inventou nome e endereço falsos e os entregou a Chico, se passando por crédulo e pedindo uma psicografia. Na edição de novembro de 1971 da revista Realidade, ele publicou a conclusão do seu experimento: “Receita psicografada: do pedido que fiz hoje, em nome de ‘Pedro Alcântara Rodrigues, da Alameda Barão de Limeira, 1327, apto 82 – São Paulo’ (dados falsos), me veio a orientação espiritual: “Junto aos amigos espirituais que lhe prestam auxílio, buscaremos cooperar espiritualmente em seu favor. Jesus nos abençoe…’”(!) Mas como?? Não existia ninguém com aquele nome, nem naquele endereço, era tudo inventado! Sim, mas os “espíritos de luz” que assistiam ao Chico Xavier se comprometeram a auxiliar essa pessoa de mentira nos planos espirituais.

** Aí estão alguns dados concretos. São fatos comprovados. Não se tratam de opiniões ou considerações, mas de fatos. Que cada um tire as suas próprias conclusões. Encerramos o assunto com a exortação de nosso Mestre maior: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” .(Mateus 11, 15) – E quem tem olhos para ver…

Fotos publicadas na revista “O Cruzeiro” e outras, mostram o jovem Chico Xavier ao lado de “espíritos materializados” em shows de mediunidade que promovia no início de sua carreira. Entre estes, o “espírito” de “Irmã Josefa”, que era, na verdade, a charlatã Otília Diogo vestindo panos brancos: ela foi desmascarada e presa em 1970 (publ. ‘O Cruzeiro’). Estes fatos raramente constam nas biografias oficiais, e nunca são retratados nos fimes.

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Fontes e bibliografia:

QUEVEDO, Oscar González. Os mortos interferem no mundo?: tratado; 5 vol. São Paulo: Loyola, 1992, pp. 32-35;

REVISTA SUPERINTERESSANTE. São Paulo: Editora Abril, ed. 277, pp. 50-60, abril 2010;

OBRAS PSICOGRAFADAS. Disponível em:

http://obraspsicografadas.haaan.com/2011/materializaes-de-uberaba-otlia-a-mulher-barbada-fotos-inditas/,

acesso em 04 abril 2010

FONTE: http://vozdaigreja.blogspot.com.br

As perguntas de um teólogo

Postado por Admin.Capela em 19/abr/2012 - Sem Comentários

Apresentamos nossa tradução do artigo do teólogo John R. T. Lamont escrito para www.chiesa, a página do vaticanista Sandro Magister no portal do L’Espresso. Licenciado em Filosofia em Oxford e em Teologia em Ottawa com o teólogo dominicano Jean-Marie Tillard, Lamont vive na Austrália e leciona em Sydney, no Instituto Católico e na Universidade de Notre Dame, com o mandato canônico da arquidiocese para o ensino da teologia. Publicou vários livros e ensaios, também em revistas não especializadas, como a americana “First Things”. Contribuiu recentemente, também, para a revista internacional “Divinitas”, dirigida por Monsenhor Brunero Gherardini.

As perguntas de um teólogo
Por John R.T. Lamont

Descrição: Missa de abertura do Concílio Vaticano II.
Missa de abertura do Concílio Vaticano II.

Em um comunicado de 16 de março de 2012, a Santa Sé anunciou que o bispo Bernard Fellay, superior geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, FSSPX, foi informado de que a resposta da Fraternidade ao preâmbulo doutrinal apresentado pela Congregação para a Doutrina da Fé foi considerada “insuficiente para superior os problemas doutrinais que estão na base da fratura entre a Santa Sé e a Fraternidade”. O comunicado não esclarece se este juízo foi emitido pela CDF e aprovado pelo Papa, ou se é um juízo do próprio Papa. Este juízo é o último, até o momento, de um processo de discussão sobre as questões de doutrina entre a CDF e a FSSPX. A natureza e a seriedade deste juízo propõem importantes interrogações para um teólogo católico. O dever deste artigo é responder a tais perguntas.

A discrição dos colóquios doutrinais em curso dificulta expressar um comentário sobre o juízo. A razão desta reserva é difícil de compreender, pois os argumentos da discussão não se referem a detalhes práticos de uma enumeração de ordem canônica – que se beneficiaria claramente da discrição –, mas de matérias de fé e de doutrina, que concernem não só às partes implicadas, mas a todos os fiéis católicos. Todavia, já se falou bastante em público sobre a posição da FSSPX para permitir uma avaliação da situação. Há duas coisas que devem ser consideradas aqui: a fratura entre a Santa Sé e a FSSPX produzida pelos problemas doutrinais em discussão, e a natureza destes mesmos problemas doutrinais.

Em uma réplica a um estudo de Fernando Ocáriz sobre a autoridade doutrinal do Concílio Vaticano II, o Padre Jean-Michel Gleize, da FSSPX, enumerou os elementos deste Concílio que a FSSPX considera inaceitáveis:

“Ao menos sobre quatro pontos, os ensinamentos do Concílio Vaticano II estão de tal maneira em contradição lógica com as declarações do precedente magistério tradicional, que é impossível interpretá-los na linha dos outros ensinamentos já contidos nos documentos precedentes do Magistério da Igreja. O Vaticano II rompeu, portanto, a unidade do magistério, na medida em que rompeu com a unidade de seu objeto”.

“Os quatro pontos são os seguintes. A doutrina da liberdade religiosa, tal como se expressa no número 2 da declaração ‘Dignitatis Humanae’, contradiz os ensinamentos de Gregório XVI na ‘Mirari vos’ e de Pio IX na ‘Quanta cura’, assim como os de Leão XIII na ‘Immortale Dei’ e os de Pio XI na ‘Quas primas’.

“A doutrina da Igreja, tal como expressa no número 8 da Constituição ‘Lumen gentium’ contradiz os ensinamentos de Pio XII na ‘Mystici corporis’ e na ‘Humani generis’.

“A doutrina sobre o ecumenismo, tal como expressa o número 8 da ‘Lumen gentium’ e o número 3 do decreto ‘Unitatis redintegratio’, contradiz os ensinamentos de Pio IX nas proposições 16 e 17 do ‘Syllabus’, os de Leão XIII na ‘Satis cognitum’ e os de Pio XI na ‘Mortalium animos’.

“A doutrina da colegialidade, tal como expressa no número 22 da constituição ‘Lumen gentium, inclusive no número 3 da ‘Nota praevia’, contradiz os ensinamentos do Concílio Vaticano I sobre a unicidade do sujeito do supremo poder na Igreja, e a constituição ‘Pastor aeternus’”.

Padre Gleize tomou parte na discussão doutrinal entre a FSSPX e as autoridades romanas, assim como o fez também Ocáriz. Podemos assumir de forma razoável as afirmações citadas como uma descrição dos pontos doutrinais sobre os quais a FSSPX não quer transigir e que foram considerados pela Santa Sé como inevitável origem da fratura.

O Vaticano II como razão da fratura?

A primeira pergunta com a qual tropeça um teólogo em relação à posição da FSSPX diz respeito à questão da autoridade do Concílio Vaticano II. O artigo de Ocáriz, ao qual respondeu o Padre Gleize, publicado na edição de 2 de dezembro do L’Osservatore Romano, parece sustentar que uma recusa à autoridade do Vaticano II seja a base da fratura verificada pela Santa Sé. Mas para quem está a par tanto da posição teológica da FSSPX como do ambiente de opinião teológica na Igreja Católica, esta tese é difícil de entender. Os pontos mencionados pelo Padre Gleize são apenas quatro do volumoso magistério do Vaticano II. A FSSPX não rechaça o Vaticano em sua globalidade: pelo contrário, Dom Fellay afirmou que a Fraternidade aceita 95 por cento de seus ensinamentos. Isso significa que a Fraternidade é mais fiel aos ensinamentos do Vaticano II que boa parte do clero e da hierarquia da Igreja Católica.

Consideremos as seguintes afirmações deste Concílio:

“Dei Verbum” 11:
“A santa mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como santos e canônicos os livros inteiros do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, porque, escritos por inspiração do Espírito Santo (cfr. Jo. 20,31; 2 Tim. 3,16; 2 Ped. 1, 19-21; 3, 15-16), têm Deus por autor, e como tais foram confiados à própria Igreja. Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria

“Dei Verbum” 19:
“Os quatro Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente as coisas que Jesus, Filho de Deus. durante a sua vida terrena, realmente operou e ensinou para salvação eterna dos homens, até ao dia em que subiu ao céu”

“Lumen gentium” 3:
“Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual «Cristo, nossa Páscoa, foi imolado» (1 Cor. 5,7), realiza-se também a obra da nossa redenção”

“Lumen gentium” 8:
“A sociedade organizada hierarquicamente, e o Corpo místico de Cristo, o agrupamento visível e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre e a Igreja ornada com os dons celestes não se devem considerar como duas entidades, mas como uma única realidade complexa, formada pelo duplo elemento humano e divino

“Lumen gentium” 10:
“O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, embora se diferenciem essencialmente e não apenas em grau, ordenam-se mutuamente um ao outro; pois um e outro participam, a seu modo, do único sacerdócio de Cristo. Com efeito, o sacerdote ministerial, pelo seu poder sagrado, forma e conduz o povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo e oferece-o a Deus em nome de todo o povo; os fiéis, por sua parte, concorrem para a oblação da Eucaristia em virtude do seu sacerdócio real, que eles exercem na recepção dos sacramentos, na oração e acção de graças, no testemunho da santidade de vida, na abnegação e na caridade operosa”

“Lumen gentium” 14:
“ Fundado na Escritura e Tradição, [o concílio] ensina que esta Igreja, peregrina sobre a terra, é necessária para a salvação. Com efeito, só Cristo é mediador e caminho de salvação e Ele torna-Se-nos presente no Seu corpo, que é a Igreja; ao inculcar expressamente a necessidade da fé e do Baptismo (cfr. Mc. 16,16; Jo. 3,15), confirmou simultaneamente a necessidade da Igreja, para a qual os homens entram pela porta do Biptismo”.

“Gaudium et spes” 48:
“Por sua própria índole, a instituição matrimonial e o amor conjugal estão ordenados para a procriação e educação da prole, que constituem como que a sua coroa.”

“Gaudium et spes” 51:
A vida “deve, pois, ser salvaguardada, com extrema solicitude, desde o primeiro momento da concepção; o aborto e o infanticídio são crimes abomináveis”.

A grande maioria dos teólogos nas instituições católicas da Europa, América do Norte, Ásia e Austrália tendem a rechaçar todos ou a maior parte destes ensinamentos. Estes teólogos são seguidos nessas áreas pela maior parte das ordens religiosas e por uma parte considerável dos bispos. Seria difícil, por exemplo, encontrar um jesuíta que ensine teologia em qualquer instituição jesuíta e que aceite um só destes textos. Os textos citados são apenas uma seleção dos ensinamentos do Vaticano II que são rechaçados por estes grupos; e poderiam ser aumentados muito em número.

Pois bem, tais ensinamentos fazem parte justamente desses 95% do Vaticano II que a FSSPX aceita. E, diferentemente dos 5% rechaçados deste Concílio pela FSSPX, os ensinamentos referidos mais acima são centrais para a fé e a moral católica e incluem alguns dos ensinamentos fundamentais do próprio Cristo.

A primeira interrogação que o comunicado da Santa Sé apresenta a um teólogo é: por que a recusa pela FSSPX de uma pequena parte dos ensinamentos do Vaticano II origina uma fratura entre a Fraternidade e a Santa Sé, enquanto a recusa mais numerosa e importante dos ensinamentos do Vaticano II por parte de outros grupos os deixa tranquilos em seu lugar e em posse de uma plena condição canônica? A recusa da autoridade do Vaticano II pela FSSPX não pode ser a resposta a esta questão. Na realidade, a FSSPX mostra maior respeito pela autoridade do Vaticano II que a maior parte das ordens religiosas na Igreja.

É interessante observar que os textos do Vaticano II rechaçados pela FSSPX são aceitos por esses grupos dentro da Igreja que recusam outros ensinamentos deste Concílio. Alguém poderia supor, portanto, que são justamente estes textos específicos – sobre a liberdade religiosa, a Igreja, o ecumenismo, a colegialidade – que causam o problema. A fratura entre a Santa Sé e a FSSPX nasce porque ela rechaça estes elementos particulares. Mas se é este o caso, a primeira pergunta se reapresenta, simplesmente, com maior força.

Problemas com a doutrina católica?

Se a fratura entre a Santa Sé e a FSSPX não nascesse da recusa da autoridade do Concílio Vaticano II pela Fraternidade, poderia ser o caso de a fratura nascer da posição doutrinal da mesma FSSPX. Depois de tudo, há dois aspectos da posição da FSSPX sobre o Vaticano II. O primeiro é a tese segundo a qual algumas afirmações do Vaticano II são falsas e não devem ser aceitas; este é o aspecto que rechaça a autoridade do Concílio. O outro aspecto é a descrição positiva da doutrina que deveria ser aceita no lugar das alegadas falsas afirmações. Este segundo aspecto é o mais importante da discussão entre a FSSPX e as autoridades romanas. Afinal de contas, a finalidade da existência dos ensinamentos magisteriais é comunicar a verdadeira doutrina aos católicos, e sua autoridade sobre os católicos deriva desta finalidade. Este aspecto da posição da FSSPX consiste em afirmações sobre as doutrinas que os católicos deveriam crer, afirmações que em si mesmas não dizem nada sobre os conteúdos ou a autoridade do Vaticano II. Devemos, portanto, considerar se estas afirmações podem originar uma fratura entre a Santa Sé e a FSSPX.

Ao julgar a posição doutrinal da FSSPX, devemos ter em conta que há uma diferença essencial entre a posição da FSSPX sobre o Vaticano II e a posição desses setores dentro da Igreja que rejeitam os ensinamentos acima citados, tanto de “Dei Verbum” como de “Lumen gentium” e “Gaudium et spes”. Estes setores simplesmente afirmam que certas doutrinas da Igreja Católica não são verdadeiras: eles rechaçam o ensinamento católico e ponto. Pelo contrário, a FSSPX não defende que ensinamento da Igreja Católica seja falso: defende que algumas afirmações do Vaticano II contradizem os ensinamentos magisteriais que têm maior autoridade e, portanto, aceitar as doutrinas da Igreja Católica exige aceitar estes ensinamentos mais autorizados, rejeitando a pequena porção de erros presentes no Vaticano II. Ela sustenta que o ensinamento verdadeiro da Igreja Católica deve ser encontrado nas afirmações precedentes e mais autorizadas.

Positivamente, portanto, a posição doutrinal da FSSPX consiste em defender os ensinamentos de uma parte dos pronunciamentos magisteriais. O Padre Gleize enumera os mais importantes pronunciamentos em questão: a encíclica de Gregorio XVI “Mirari vos”,  a encíclica de Pio IX “Quanta cura” com o respectivo “Syllabus”, as encíclicas de León XIII “Immortale Dei” e “Satis cognitum”, as encíclicas de Pio XI “Quas primas” e “Mortalium animos”, as encíclicas de Pio XII “Mystici corporis” e “Humani generis”, e a constituição do Concílio Vaticano I “Pastor aeternus”. Todos estes são pronunciamentos magisteriais de grande autoridade e, em algum caso, incluem definições dogmáticas infalíveis, o que não ocorre com o Concílio Vaticano II.

Isso apresenta a segunda questão a respeito da posição da Santa Sé sobre a FSSPX, que induz um teólogo a se perguntar: como pode haver objeções à FSSPX quando ela defende a verdade de pronunciamentos magisteriais de grande autoridade?

É uma interrogação que tem em si mesma a resposta: não pode haver tais objeções. Se a posição da FSSPX sobre a doutrina pode ser julgada objetável, deve ser sustentado que sua posição não coincide com a que realmente ensinam os pronunciamentos magisteriais e, portanto, a FSSPX falsificaria o significado de tais pronunciamentos. Esta tese não é fácil de ser defendida, pois quando esses pronunciamentos precedentes foram promulgados, deram origem a um considerável corpo de estudos teológicos cujo fim era a sua interpretação. O significado que a FSSPX lhes atribui deriva deste conjunto de estudos e corresponde a como esses pronunciamentos foram entendidos no tempo em que se produziram.

Isso faz com que a terceira questão que surge em um teólogo seja ainda mais precisa e urgente: o que ensinam, na realidade, estes pronunciamentos, se não é o que a FSSPX diz que ensinam?

A resposta que muitos dão é que os significados efetivos destes pronunciamentos são dados por, ou ao menos estão em harmonia com, os textos do Concílio Vaticano II que a FSSPX rejeita. Podemos admitir esta resposta como verdadeira, mas isso não ajudará a responder a pergunta. Os textos do Vaticano II não oferecem muitas explicações sobre o significado destes pronunciamentos precedentes. Por exemplo, a “Dignitatis humanae” diz simplesmente que seu ensinamento “deixa íntegra a doutrina tradicional católica sobre o dever moral dos homens e das sociedades para com a religião verdadeira e a única Igreja de Cristo”. Com isso, não oferece nenhuma explicação desta doutrina.
A insuficiência desta resposta conduz à quarta questão, que é a segiunte: qual é o ensinamento autorizado da Igreja Católica sobre os pontos disputados entre a FSSPX e a Santa Sé?

Não há nenhuma dúvida de que as discussões doutrinais entre ambas as partes implicam um exame da questão, mas a reserva de tais discussões deixa o resto da Igreja às escuras sobre esta matéria. Sem uma resposta à quarta questão, não há possibilidade de resposta a esta quinta pergunta: por que as posições doutrinais da FSSPX dão origem a uma fratura entre a Fraternidade e a Santa Sé?

Mas esta quinta pergunta, embora significativa, não tem a importância da quarta. A natureza do ensinamento da Igreja Católica sobre a liberdade religiosa, o ecumenismo, a Igreja e a colegialidade é de grande importância para todos os católicos. As perguntas suscitadas pelas discussões entre a Santa Sé e a FSSPX dizem respeito a toda a Igreja, não só às partes empenhadas na discussão.

Anencefalia, mensalão e penduricalhos

Postado por Admin.Capela em 18/abr/2012 - Sem Comentários

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

O julgamento da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 54 –Anencefalia revelou o clima de secularização radical em que vive sociedade brasileira, conforme se pôde verificar não só pelas circunstâncias em que se realizou a sessão do Supremo Tribunal Federal e pelo resultado, mas sobretudo pelo teor dos votos emitidos pelos magistrados.

Quanto às circunstâncias, o  deplorável  foi a ausência da Igreja na participação dos debates durante o julgamento. Algo chocante que causou estranheza entre os próprios ministros e nos leva a pensar como a  hierarquia eclesiástica se omite na defesa dos princípios mais sagrados da doutrina cristã. É vergonhoso que os espíritas tenham tido presença mais marcante durante a sessão que os católicos. Justiça seja feita ao Pe. Lodi, do Pró-Vida de Anápolis, e ao bispo emérito D. Luis Bergonzini. A conclusão não pode ser outra senão que a religião predominante hoje é a religião do homem, que não se preocupa tanto com a defesa da Lei de Deus quanto com os anseios da sociedade. Muitos religiosos temem afrontar a “corrente” majoritária. Além disso, preferem defender a mulher  (que dizem viver uma situação angustiosa diante da decisão de abortar) a defender a vida  da criancinha no ventre materno.

Há três votos que merecem ser analisados. Refiro-me aos votos dos ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski e César Peluso.

Como se sabe, o ministro Marco Aurélio exacerbou-se na defesa da laicidade do Estado brasileiro. A religião, segundo ele, não pode imiscuir-se nas decisões estatais, mas deve ficar circunscrita à esfera privada. Data venia,  senhor ministro, nada mais falacioso que o seu argumento. A religião é um fenômeno social, não é um fenômeno individual. E o Estado deve ser a expressão jurídica da sociedade civil. O Estado laico é uma anomalia, é uma patologia jurídica decorrente da ideologia revolucionária que ocupa o lugar da religião na missão de inspirar e nutrir os valores e princípios morais da sociedade. Não existe estado neutro. Um estado é sempre reflexo de uma doutrina, de uma religião ou ideologia. O Estado brasileiro, hoje, é expressão da reles ideologia petista, como o foi da não menos reles ideologia positivista logo no nascedouro da república.

O ministro Lewandowski distinguiu-se pelo bom senso ao dizer que votava contra a Ação porque “não é dado aos integrantes do Judiciário promover inovações no ordenamento normativo como se parlamentares eleitos fossem.” Foi, por assim dizer, técnico ao pronunciar o seu voto, respeitando o dogma das nefandas democracias modernas que consagram os princípios da tripartição do poder e o sufrágio universal. Não quis, portanto, discutir o mérito da questão. Só é lamentável que não tenha obedecido ao mesmo critério  por ocasião do julgamento da união civil de pessoas do mesmo sexo. Inexplicável.

Finalmente, o voto do ministro César Peluso. Este merece todo respeito e admiração pela acuidade e sabedoria. Disse que o feto é sujeito de direito, e não coisa nem objeto de direito alheio; distinguiu sofrimento justo e sofrimento injusto e recordou a assombrosa semelhança entre o aborto de anencéfalo e a prática  eugênica. E à Chesterton arrematou: “o anencéfalo morre, e ele só pode morrer porque está vivo”.

No conteúdo do voto do ministro Peluso reside a cabal refutação da especiosa argumentação do ministro Marco Aurélio.

O direito positivo, ainda que necessário, não basta. As questões mais intrincadas não se deslindam completamente só pela letra da lei, como se pode inferir pelo voto do ministro Peluso. É preciso recorrer a princípios metafísicos e estes remontam, em última análise, ao Ser Absoluto. Aliás, a própria legislação, prevendo o caso de lacuna da lei, diz que o juiz em tal hipótese deve valer-se da analogia bem como do suplemento dos princípios gerais do direito. Que são estes princípios  senão o direito natural? Que é o direito natural senão a lei eterna existente na mente divina, como explica Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica?

De que a lei positiva não é suficiente temos todos os brasileiros a mais dolorosa experiência em nossos dias, quando assistimos aturdidos a tantos desmandos do Poder Judiciário denunciados pela grande imprensa. Não me refiro às prevaricações gravíssimas como a venda de sentenças. Refiro-me a procedimentos aparentemente conformes à lei. Os integrantes do Poder Judiciário percebem vencimentos vultosos acrescidos de tantos benefícios e diferentes auxílios conhecidos pela sociedade como os “penduricalhos”, gozam de tão longas férias que chegam a vendê-las. Não obstante tão privilegiadas condições de trabalho do Judiciário, o Brasil está ameaçado de ver prescrever o processo do “mensalão”.

Tudo dentro da lei. Mas cabe perguntar: tudo dentro da moralidade? A quem reclamar? Faltam leis para coibir tais abusos? Faltam órgãos fiscalizadores?

É inútil multiplicar leis. É inútil estabelecer novas instituições reguladoras da ordem jurídica. A resposta só pode ser uma: sem a lei natural, sem Deus, sem a verdadeira religião como fundamento da ordem moral e social não há verdadeira justiça.

Anápolis, 18 de abril de 2012.

Razão, vida e mito

Postado por Admin.Capela em 12/abr/2012 - Sem Comentários

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

É preciso reconhecer que os verdadeiros católicos vivem dias angustiosos.

Educados na convicção de que o magistério da Igreja é guardião de uma doutrina imutável que só pode desenvolver-se em sentido homogêneo de uma maior e mais profunda compreensão do dogma, hoje, após a conclusão dos colóquios entre a Fraternidade Sacerdotal São Pio X e teólogos da Congregação para a Doutrina da Fé, os católicos  sentem-se perplexos ante o fato de que a verdade que sempre lhes foi ensinada como eterna  porque vinda do Pai das luzes, no qual não há mudança, nem sombra de vicissitude (Tiago, 1, 17) não tem realidade objetiva. Pois o que efetivamente importa, segundo a visão dos homens da Igreja de hoje, não é tanto sustentar uma doutrina perene quanto viver a  vida de uma Igreja sempre cambiante e adaptada aos tempos, que apenas supervisiona a experiência religiosa dos diversos períodos históricos, sem necessariamente ter de estar subordinada a uma doutrina constante.

Querer fechar os olhos diante de tal realidade, dizendo que o essencial da doutrina católica permanece imutável, que não houve mudança quanto à moral e à doutrina dos sacramentos, é uma tolice. É um escândalo, por exemplo, a mudança de posição da Igreja sobre o judaísmo talmúdico pós-cristão. Tal mudança fere a verdade contida nas Sagradas Escrituras.

Mas como agir em tal situação? Toda verdade conhecida intelectualmente tem de ser vivida pelo homem como um bem. Mas hoje a Igreja verdadeira, a Igreja Santa, parece só existir em sua parte triunfante no céu. Aqui na terra vivemos em meio aos escombros.

Tudo isso nos remete à filosofia platônica, que nos consola em tal calamidade. Como se sabe, Platão recuperou em seus diálogos a importância dos mitos de que se havia divorciado a filosofia em suas origens. Recuperou os mitos depurando-os e conferindo-lhes uma importância capital para o conhecimento da verdade.

Para Platão, o logos é insuficiente na captação da realidade, pois que esta tem aspectos que lhe escapam. A beleza, que se confunde com o bem, só pode ser contemplada com o auxílio de Eros, que arrasta o filósofo por meio de ascendentes “delírios” à mais alta contemplação.

Hoje, quando a razão nos coloca diante de um problema humanamente insolúvel  e de uma situação inexplicável da Igreja que nos dificulta a vida da fé, temos de alimentar nossa vida espiritual não tanto pela busca de uma compreensão racional das verdades de fé quanto por uma contemplação amorosa do Belo e do Bem expressos pelos mitos.

Por esse motivo tenho aplicado à crise que vivemos o mito do carro alado de que fala Platão no Fedro na tentativa de ilustrar o drama da Igreja em nossos dias. Tendo praticamente soçobrado a Igreja guardiã de uma verdade eterna e imutável, vejo o papa conduzindo a Igreja como um carro puxado por dois cavalos que representam as duas correntes da Igreja, os tradicionalistas e os progressistas de vários matizes. Um dos cavalos é de  raça pura, o outro, pangaré. Quando puxada pelo cavalo de raça, a Igreja se recorda das verdades eternas, aspira às alturas do céu, e, alimentada pela doutrina tradicional, dá a seus filhos a tão necessária segurança e firmeza em um mundo cheio de incertezas; quando à tração do cavalo reles, a Igreja faz concessões ao mundo moderno, aventura-se em experiências religiosas humanistas e desorienta seus filhos, como que esquecida de viver num exílio.

Com efeito,se é falsa a teoria do conhecimento de Platão sobre o mundo das ideias, não deixa, entretanto, de ser interessante pensar que, por uma iluminação divina, alcançamos o conceito de uma Igreja perfeita, uma Igreja arquétipo, uma Igreja detentora da verdade plena e imutável, não existente neste mundo. A ideia de tal Igreja ajuda-nos a sustentar a fé e a combater os desvios sofridos pela Igreja histórica em sua peregrinação terrestre.

Ora, a ideia de uma Igreja perfeita, de uma Igreja depositária de uma doutrina perene, não pode ser uma quimera. Deve corresponder a uma realidade existente ainda que seja em outro mundo. Não conceberíamos tal ideia se ela não procedesse do céu. Realmente, seria contraditório ter fé em uma Igreja imperfeita, em uma Igreja sempre em busca de uma verdade evolutiva. Se, pois, temos fé é porque a Igreja santa, a Igreja perfeita, a Igreja triunfante existe. A ela amamos, por ela suspiramos, por ela gememos e choramos no desterro deste mundo.

 

Anápolis, 12 de abril de 2012.
Quinta-feira da Páscoa.