Arquivo de junho de 2012

Magistério ordinário, o grande desconhecido

Postado por Admin.Capela em 10/jun/2012 - Sem Comentários

Arnaldo Xavier da Silveira

 

I – O Magistério ordinário pode ensinar por atos e gestos

O Magistério ordinário da Igreja, exercido pelo Papa e pelos Bispos, amparado pelas promessas de Nosso Senhor, efetiva-se não apenas por palavras escritas ou orais, mas também por atos e fatos, de natureza extremamente variada e rica.

1] Com o presente artigo dou início à publicação de alguns estudos sobre o Magistério ordinário da Igreja. Não é minha intenção cobrir a matéria de modo amplo e completo, como seria um tratado. Considero que o Magistério ordinário é hoje o grande desconhecido, a respeito do qual autores de renome têm defendido teses surpreendentes, que se afastam totalmente da regra da fé. No panorama geral dos debates teológicos de nossos dias, sobretudo nas vésperas do cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, espero que, pela intercessão de Nossa Senhora, estas notas contribuam para a elucidação de alguns aspectos importantes e pouco conhecidos da verdadeira doutrina da Ecclesia docens.

2] Inicio esta série de trabalhos tratando de um ponto delicado. É que se introduziu de há muito nos meios católicos a ideia equivocada de que todo e qualquer ensinamento do Papa ou dos Bispos só tem força magisterial se se fizer por palavras, sejam estas escritas ou orais. Nessa concepção, um ato simbólico do Papa, ou uma cerimônia na igreja de São Pedro, ou uma prática litúrgica difundida em todo o orbe mas não estabelecida por documento escrito ou declaração explícita, não teria força de ensinamento do Magistério ordinário.

3] Após haver fixado o tema aqui estudado (itens 1 e 2 retro), divido a matéria em três capítulos: no primeiro, “I – Um estudo da década de 1960 sobre a heresia por atos e gestos” (itens 4 a 7 adiante), indico antigo trabalho meu sobre a heresia expressa sem palavras, apenas por fatos, no qual entretanto não abordei a questão de professar a fé e de ensinar dessa forma; no segundo, “II – Da profissão de fé não por palavras, mas por atos e fatos” (itens 8 a 18), aduzo as razões e autoridades que explicam que sem palavras é possível manifestar o pensamento, e portanto a fé; no terceiro, “III – Como se exerce o Magistério ordinário da Igreja” (itens 19 a 29), mostram que a exteriorização de ideias por atos e gestos pode constituir autêntico magistério.

 

I – Um estudo da década de 1960 sobre a heresia por atos e gestos

4] Em Catolicismo, mensário de cultura católica da diocese de Campos, RJ, publiquei em dezembro de 1967 um breve artigo sob o título “Atos, gestos, atitudes e omissões podem caracterizar o herege”.

5] Aquele trabalho baseou-se nas Sagradas Escrituras, em ensinamentos do Magistério, nas leis canônicas, em grandes moralistas e canonistas da neo-escolástica. Ali se mostrou que “um simples sinal de cabeça, um gesto de mão ou uma expressão de fisionomia podem indicar, de maneira inequívoca, um pensamento. Num terreno mais vasto, uma tomada de posição política, o silêncio de uma autoridade, ou uma atitude pública podem expressar, conforme as circunstâncias, que quem assim procede tem tais ou tais ideias” (p. 4, 3ª coluna).

6] A preocupação principal, naquela exposição, era procurar tirar a máscara de modernistas disfarçados de católicos, consoante expôs São Paio X na Encíclica Pascendi Dominici Gregis: “os fautores de erros já não devem ser procurados entre inimigos declarados, mas (…) se ocultam no próprio seio da Igreja, tornando-se destarte tanto mais nocivos quanto menos percebidos. Aludimos (…) a muitos membros do laicato católico e (…) a não poucos do clero que, fingindo amor à Igreja (…), se atiram sobre tudo o que há de mais santo na obra de Cristo” (tradução da ed. Vozes, 1948, p.4).

7] Com esse objetivo de denunciar os modernistas disfarçados, o artigo tratou principalmente da possibilidade de manifestação de heresia por atos, gestos etc. Estudou as graves e delicadas questões da heresia interna e externa, da pertinácia no erro, das admoestações ao herege exigidas por São Paulo, e tantas outras conexas. Mas não aprofundou o outro lado da questão, que é a manifestação da fé por atos, gestos etc.

 

II – Da profissão de fé não por palavras, mas por atos e fatos

8] Embora a matéria, tanto na teoria como na prática, seja em geral pouco versada nos meios católicos, é evidente que, no caso, vale para a manifestação da fé o que vale para a manifestação da heresia. Se o erro pode exteriorizar-se por atos, gestos, atitudes, omissões, é patente que a verdade e a fé podem também exprimir-se de modo inconfundível por atos, gestos, atitudes, omissões, silêncios, fatos, símbolos, sinais, cerimônias, e tantos outros recursos que a condição humana nos dá para manifestar externamente, sem palavras escritas ou orais, o que pensamos internamente.

9] Seria talvez supérfluo aduzir textos da Sagrada Escritura, da História da Igreja, de moralistas e canonistas para dar suporte a essa afirmação. Como, no entanto, poderia haver resistências à tese, e como realmente as há na literatura católica recente, permitimo-nos expor melhor algumas razões teológicas que a fundamentam.

 

II.a – Nos Evangelhos e na História da Igreja

10] Na pregação de Nosso Senhor são tantos os exemplos de ensinamentos através de atos e fatos, sem o emprego de palavras, que bastaria passar os olhos nos Santos Evangelhos para dar-se conta da solidez da tese aqui exposta. Ele repreendeu e ao mesmo tempo perdoou a São Pedro com um olhar; calou-se diante de Pilatos, com um silêncio cheio de conceitos que inspiraram e ainda inspiram séculos de homilética; também pelo silêncio, aceitou os bálsamos com que Madalena o ungia, provocando mesmo a reação de Judas; e tanta coisa mais.

11] É de força singular o exemplo do mártires que se negaram a sacrificar aos deuses.

12] Na Sagrada Liturgia são abundantes, e mesmo essenciais ao culto divino, os gestos e atos densos de doutrina. Basta aqui aludir às genuflexões, às inclinações do busto, aos atos de incensar.

13] O mesmo se diga quanto à vida dos santos. São Francisco de Assis chamou certa vez seus discípulos mais próximos, anunciando-lhes uma pregação. Em fila, saíram pela cidade, percorreram uma distância não pequena e voltaram diretamente para o convento. Seus discípulos perguntaram onde estava a anunciada pregação, ao que São Francisco respondeu que a simples passagem deles pela cidade era verdadeira pregação.

 

II.b – Da profissão de fé por “fatos” em Santo Tomás de Aquino

14] Sobre as cerimônias da lei velha. – Santo Tomás, perguntando se depois da Paixão de Cristo os ritos da lei antiga podem ser observados sem pecado mortal, escreve que “todas aquelas cerimônias são profissões de fé, na qual consiste o culto interior de Deus. Assim, o homem pode professar a fé interior por meio de fatos, como de palavras: e em ambas as profissões, se o homem professa algo de falso, peca mortalmente” (Sum. Th., I-II, q. 103, a. 4, co.). – E conclui que “circuncidar-se, e observar as demais cerimônias [da lei antiga] é pecado mortal” (ibidem, sed c.)

15] Sobre o falso culto do Deus verdadeiro. – Perguntando se pode haver algo de pernicioso no culto do verdadeiro Deus, Santo Tomás ensina: “Dá-se a mentira quando alguém exprime exteriormente o que é contrário à verdade. Assim como essa expressão pode fazer-se pela palavra, assim também pode fazer-se por um fato. Nessa expressão pelo fato, consiste o culto exterior da religião. Portanto, se pelo culto exterior se exprimir algo de falso, esse culto será pernicioso” (Sum. Th., II-II, q. 93, a.1, co.).

16] Sobre o vício da mentira, Santo Tomás observa que “aquele que, por acenos, quisesse exprimir algo de falso, não deixaria de estar mentindo” (Sum. Th., II-II, q. 110, a. 1, ad 2).

17] Sobre o martírio, Santo Tomás ensina que “para a verdadeira fé não basta crer interiormente, mas é também necessário professá-la exteriormente. E isto se faz não só por palavras de confissão da fé, mas também por fatos pelos quais alguém revela ter fé”. E logo a seguir acrescenta: “as obras de todas as virtudes, segundo se reportam a Deus, são confissões de fé, pela qual sabemos que Deus as requer de nós, e por elas nos remunera. E assim podem ser causa do martírio” (Sum. Th., II-II, q. 124, q. 5, co.). ― Mais adiante, diz ele: “sofre como cristão não só quem sofre pela confissão da fé que se faz por palavras, mas também quem sofre por fazer qualquer boa obra, ou para evitar qualquer pecado por amor a Cristo; e tudo isso é professar a fé” (ibidem, ad 1).

18] Note-se que Santo Tomás opõe sempre a confissão de fé que se faz por palavras escritas ou orais, à que se faz por “fatos”. Em latim, facta é o particípio passado substantivado do verbo facio – facere, fazer. Assim, os “fatos” são aquilo que se faz, que foi feito, e não são, nesse contexto, os acontecimentos estranhos à ação humana, como terremotos e tempestades. – Portanto, os “fatos” de Santo Tomás correspondem ao que indicamos como atos, gestos etc.

 

III – Como se exerce o Magistério ordinário da Igreja

19] Tanto em doutrina quanto na prática quotidiana dos fieis, é relativamente bem conhecida a natureza do Magistério extraordinário. Sua conceituação, aparentemente muito singela, tornou-se corrente e inquestionada entre os verdadeiros católicos, com a definição do Concílio Vaticano I. A proclamação ex cathedra de uma verdade de fé ou moral, pelo Papa no uso da plenitude de seus poderes apostólicos, de forma solene quanto à vontade de definir, dirigida a toda a Igreja, válida por si mesma independente da aprovação de quem quer que seja, é conhecida como infalível pelos católicos, mesmo pelos de formação simples ou mediana. A Imaculada Conceição é uma das devoções mais difundidas. Todos sabem que Nossa Senhora foi elevada aos Céus em corpo e alma. Também se consolidou a convicção de que um concílio ecumênico pode definir dogmas, nos quais todos devem crer. Mutatis mutandis, aplicam-se ao concílio as mesmas condições da infalibilidade de uma definição ex cathedra do Papa, como as fixou o Vaticano I.

20] O ensinamento do Magistério Extraordinário é um ato singular, que corta a discussão sobre determinada doutrina com uma solução definitiva. Pode ser comparado ao raio, que concentra toda a sua luminosidade num determinado momento e numa única descarga. Pode ser comparado a uma intervenção cirúrgica. O Magistério Ordinário, pelo contrario, não concentra sua luz num único feixe, mas sua luminosidade se espalha no tempo e no espaço. Equipara-se a um tratamento clínico, mais do que a uma ação cirúrgica.

21] A definição solene do Concílio Vaticano I sobre a infalibilidade do Magistério ordinário tem o seguinte teor: “Ademais, deve-se crer com fé divina e católica tudo que está contido na Palavra de Deus escrita ou transmitida, e que a Igreja, seja por juízo solene, seja por seu Magistério ordinário e universal, propõe a crer como divinamente revelado”. ― O Vaticano I, ao proclamar a infalibilidade do Papa e a do Magistério ordinário universal, estudava as condições em que esse Magistério ordinário é infalível, mas não chegou a defini-las, pois foi interrompido pela guerra franco-prussiana de 1870.

22] As promessas solenes de Nosso Senhor – “ide e ensinai a todas as gentes”, “estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos”, “quem vos ouve a mim ouve” – foram feitas apenas aos apóstolos e seus sucessores, o Papa e os Bispos, que constituem a Sagrada Hierarquia. Valem, de modo eminente, para o Magistério ordinário, que ensina no dia-a-dia, na vida comum que se estende dos mais altos graus da Hierarquia aos bispos dos rincões mais afastados da Terra. Valem para o discurso solene do Sumo Pontífice numa comemoração na igreja de São Pedro, para as encíclicas, para os decretos e condenações mais graves das Congregações romanas, assim como para as cartas pastorais e as pregações dos Bispos por todo o orbe.

 

III.a – Aprofundando a noção de ensinar

23] Recentemente introduziu-se nos meios católicos uma confusão grave entre ensinar e “dialogar”. O ensino é a transmissão de uma verdade como tal, isto é, não se restringe à proposição vaga e indefinida de uma idéia que possa ser tida como simples noção genérica, que o ouvinte pode aceitar ou não. Manifestamente, o ensino pode e deve atribuir graus diferentes de certeza e de impositividade às verdades que são ensinadas. Algumas envolvem a infalibilidade, e portanto não é possível negá-las. Outras não implicam a autoridade da Igreja nesse grau extremo, mas se apresentam como verdades que seria temerário negar. Outras ainda são transmitidas com grau menor de certeza ou de probabilidade, constituindo, por exemplo, deduções dos dogmas e dos princípios maiores, que entretanto a Igreja ensina mas não chega a atribuir-lhes uma segurança doutrinária maior. Tudo isso, entretanto, é ensinamento, e não é mero dialogo, não é apenas uma proposição de temas para mera troca de ideias.

24] Impõe-se aqui um esclarecimento sobre as omissões e os silêncios. Umas e outros contêm uma doutrina ou ensinamento quando há a obrigação de agir ou de falar, e no entanto o mestre não age nem fala. Se a obrigação de agir ou falar for de ordem moral, a omissão e o silêncio estarão exteriorizando um mal, um erro, uma heresia. – Se, ao contrário, se tratar de uma imposição injusta de uma autoridade, de um ambiente social, de quem quer que esteja fora da boa regra, então a omissão ou o silêncio representarão uma resistência à imposição injusta, caracterizando a exteriorização da retidão moral, ou da fé, podendo então constituir um ensinamento. É o caso do mártir que se recusa a incensar o ídolo ou a professar a heresia.

25] Devemos distinguir o que é uma simples manifestação de ideia por um Bispo, por exemplo, daquilo que é um ato de ensino. Se ele, em seus aposentos, se inclina reverentemente perante uma imagem de Jesus crucificado, temos aí apenas um ato de piedade particular, em que ele manifesta sua devoção sem nenhum traço de ensino. Se, contudo, ele pratica esse mesmo ato perante uma assembléia de fieis, de público, de modo que todos vejam, é patente que, então, ele está transmitindo uma doutrina, um ensinamento, com força maior ou menor conforme as circunstâncias, mas como se exprimisse por palavras aquilo que o gesto exterioriza.

 

III.b – O ensinamento do Magistério ordinário por atos e gestos

26] Do exposto, se entende que o Magistério ordinário da Igreja, exercido pelo Papa e pelos Bispos, amparado pelas promessas de Nosso Senhor, se efetiva não apenas por palavras escritas ou orais, mas também por atos e fatos, de natureza extremamente variada e rica. É o que se torna claro, por exemplo, sempre que um membro da Hierarquia, de público, em circunstâncias que manifestam seu propósito de transmitir ensinamentos, pratica gestos, celebra cerimônias, recorre a símbolos etc., que trazem em seu bojo verdadeiros atos de magistério.

27] Citando Aristóteles, Santo Tomás diz que a prudência está no príncipe “ao modo de uma arte arquitetônica”, como virtude reitora do ato de governar, a qual aplica os princípios especulativos ao caso concreto (Sum. Th., II, q.47, art. 12, co.). ─ Há hoje pastores de boa doutrina que, por falta de prudência, desdizem, por atos e gestos, o que em teoria ensinam. ─ Observando, certa ocasião, que determinado hierarca falava para a direita e agia para a esquerda, o Pe. Congar concluía que o que contam são os fatos, não as palavras. ─ Dizemos que essa conclusão vale no terreno prático, como vitória efetiva da orientação esquerdista; vale no terreno moral, porque facilmente o mau exemplo do pastor prevalece sobre sua fala correta; e vale também no terreno magisterial, porque, entre ensinamentos contraditórios, o dos fatos tende a marcar mais profundamente o espírito dos fieis.

28] É em grande parte esse Magistério ordinário exercido por atos, gestos, cerimônias etc., que, em tempos de normalidade e fervor, leva as crianças a saberem o que não sabem os padres austríacos do chamado Apelo à desobediência, próceres do casamento dos sacerdotes, da ordenação de mulheres e de tantos desmandos mais. Entendemos que isso é de suma importância em relação ao que afirma Bento XVI em sermão da quinta-feira santa, 5 de abril de 2012: “Os elementos fundamentais da fé, que no passado toda criança sabia, são cada vez menos conhecidos” (“Gli elementi fondamentali della fede, che in passato ogni bambino conosceva, sono sempre meno noti”). ― Veja-se, com particular atenção, que nessa frase lapidar, que tem força e porte para orientar a Pastoral e mesmo a Teologia dogmática em todo o futuro da Igreja, Sua Santidade usou o tempo pretérito: “no passado qualquer criança sabia”. – Nos estudos amplos sobre o Concílio Vaticano II, que se estão desenvolvendo de modo extraordinário nestas vésperas da comemoração de seu cinquentenário, essa frase histórica de Bento XVI deve ser um marco básico para todos os teólogos verdadeiramente católicos.

29] Uma observação final. O Papa e os Bispos não proclamam a verdade só por seus escritos e pregações pessoais, mas também pela aprovação expressa ou tácita que dão ao que é ensinado sob sua autoridade. Desenvolveremos esse tema em futuro estudo desta nossa série sobre o “Magistério Ordinário, o Grande Desconhecido”, para a qual invocamos, como sempre, a benção de Maria Santíssima.

A Grécia, a Europa e a Igreja

Postado por Admin.Capela em 10/jun/2012 - Sem Comentários

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Os ideólogos da União Europeia estão lamuriando-se ante a perspectiva de uma possível saída da Grécia da zona do Euro. Dizem que as raízes de toda a civilização ocidental se encontram na antiga Grécia, que seria o berço de todos os valores e instituições da nossa cultura.

Não há dúvida de que nossa dívida para com a Grécia de 25 séculos atrás é imorredoura. Berço da filosofia e do verdadeiro espírito científico, a Grécia representa um marco na história de toda a humanidade. O valor e o mérito da Grécia são tão grandes que o próprio cristianismo, apesar de tão perseguido pelo mundo pagão, reconheceu que a sabedoria dos antigos gregos representava algo extraordinário nos desígnios da Providência Divina como uma preparação para a encarnação do Verbo. Foi assim que São Justino e Clemente de Alexandria entenderam a relação entre a filosofia e a nova religião então nascente. Foi dentro dessa visão de harmonia entre fé e razão que os grandes doutores medievais cultivaram a filosofia de Platão e Aristóteles. E fizeram-no muito melhor que outros pensadores árabes e judeus.

O reconhecimento dos méritos da antiga Grécia foi algo tão notável e unânime que Carlos Magno e seu ministro Alcuíno organizaram no império dos francos uma espécie da academia de estudos filosóficos e pretenderam que toda antiga sabedoria dos gregos se transladasse para a França. Alem disso, como se sabe, durante toda a Idade Média, (e  bem antes, se pensarmos na obra de Boécio) os mosteiros foram centros de cultura onde se preservou e transmitiu a sabedoria antiga. Não fosse a Igreja, todo o saber antigo se teria perdido.  É fato histórico bem conhecido que a maior biblioteca da antiguidade, a de Alexandria do Egito, foi destruída por ordem do califa muçulmano Omar, que disse que todos aqueles livros da biblioteca  ou eram inúteis ou eram nocivos, pois toda verdade se encontra no Corão e se algo está fora do Corão não é verdade e deve ser destruído.

Portanto, como qualquer pessoa dotada de honestidade intelectual pode comprová-lo, a Europa teve na verdade como sua mãe a Santa Igreja que a nutriu sempre com o alimento da verdade, da sabedoria e da ciência, fosse a verdade sobrenatural da Revelação divina, de que é depositária, fosse a verdade racional ou natural, de que foi sempre zelosa guardiã e protetora, pois foi a grande patrocinadora das universidades europeias.

Mas será justa a lamúria dos ideólogos da União Europeia diante da situação catastrófica da Grécia em nossos dias?

A grande questão é saber se realmente a União Europeia que se pretende construir sobre as ruínas da civilização cristã tem raízes na antiga Grécia. A resposta negativa impõe-se com toda firmeza e evidência. Absolutamente a União Europeia não tem nada que ver com a antiga Grécia. A União Europeia é um monstrengo produzido nos laboratórios da alquimia maçônica e nas ridículas academias dos iluministas emperucados. A Europa de hoje é fruto podre dos crimes horrendos e sacrílegos da Revolução Francesa. De modo que, se não se corrigir e emendar, o futuro que a espera só pode ser a ruína, tantos são os seus pecados. A Grécia não é um símbolo da União Europeia, como disse alguém. Poderia, talvez, ser considerada um símbolo da Europa cristã tradicional, espezinhada pelas lideranças políticas da Europa de nossos dias que renegam suas origens.

A antiga Grécia procurava com afinco a sabedoria, contemplava a ordem do universo, meditava sobre a causa primeira  das coisas, construía o saber metafísico, reconhecia o primado do espírito sobre a matéria, era racional e não racionalista.

Ao contrário, a União Europeia despreza todos esses valores tão característicos da antiga Grecia e por isso mesmo está cavando a sua própria sepultura. Onde está a busca da sabedoria e o apreço pela ordem na Europa de nossos dias? A filosofia cultivada na Europa moderna é a negação da metafísica, não passando de um subjetivismo doentio. A  repugnante democracia moderna, baseada no sufrágio universal, no individualismo e no igualitarismo, não tem nada que ver com o realismo e o espírito aristocrático dos antigos gregos. A política para os antigos gregos estava intimamente ligada à ética e a cidade grega devia ajudar o homem na prática das virtudes. Onde está a preocupação com a verdade moral na mente dos governantes da União Europeia? O racionalismo cientificista e agnóstico dos homens de Bruxelas não tem nada que ver com o logos e physis dos antigos gregos. A Europa de hoje está muito mais próxima de Sodoma e Gomorra do que de Atenas, pois Platão considerava a pederastia uma prática própria de quadrúpedes e a União Europeia hoje é quase que a união dos pederastas.

De maneira que, se alguém pode reivindicar o legado cultural da antiga Grécia, é a Igreja que tem o direito de fazê-lo.

Quanto à União Européia, o que podemos e devemos desejar é sua completa, acabada e perfeita dissolução, porque não passa de um projeto ideológico de políticos degenerados que se recusaram a incluir em sua constituição, como queria o papa Bento XVI, um parágrafo alusivo às suas raízes cristãs. Nisi Dominus aedificaverit domum in vanum lobaraverunt qui aedificant eam.

Em tempo: e nós brasileiros temos uma razão a mais para amar a Grécia, pois os gregos, logo após a guerra de libertação do Império Otomano, ofereçam a D. Pedro I a coroa real da Grécia!

Anápolis, 10 de junho de 2012
Festa de Santa Margarida Rainha da Escócia

O Segredo da Maçonaria

Postado por Admin.Capela em 07/jun/2012 - Sem Comentários

Pe. Antonio Miranda S. D. N

Editora “O Lutador”, 1948

 

RESUMO GERAL

Sempre que lemos e ouvimos algo sobre a Maçonaria, a primeira impressão de que se ressente o nosso espírito é de insuficiência do que ouvimos e lemos para satisfazer aos múltiplos problemas que a nós mesmos nos propomos a este respeito. Espontaneamente, multidão de perguntas nos ocorrem. Que é, na verdade, a Maçonaria? Qual a sua ori­gem? Qual o seu fim? Quais seus planos? E agora, sobretudo, quando quase não se fala mais de Maçonaria, para as nossas mentes que só a custo se arrancam à preocupação com as ideologias do momento, paira no horizonte, cheio de tantas apreensões, mais es­ta interrogação: Existirá ainda o perigo maçônico?

Pois bem, a estas questões buscarei dar resposta no rápido bosquejo que vos apresento.

 

Que é na verdade a Maçonaria, e qual a sua origem?

A Maçonaria, em concreto, é mais do que pensamos. Porque o que pensamos é que ela é uma seita secreta; e, na Verdade, ela não é uma seita, mas uma superposição de seitas (1), controladas,governadas, maneja­das, escravizadas por um grupo invisível de homens ardilosos, por um pugilo de judeus, que, valendo-se de magnífica organização secreta, dominam o mundo, exploram a eco­nomia internacional, dirigem a política, fo­mentam a crise de civilização que nos ator­menta. Eis o que é, em concreto, a Maçona­ria. É uma superposição de seitas secretas sob o controle judaico. É uma associação de associações, com um governo ignorado.

E quais são estas associações, que a in­tegram? Muitas. Entre outras, o Iluminismo, O Teosofismo, aCabala, e as grandes lojas dos vários países, que, constituindo associações separadas, com estatutos pró­prios, estão, contudo, sem o saberem, subju­gadas à direção de um só grupo, que e a Maçonaria suprema.

 

Donde veio, e como se formou a Maço­naria?

O traço característico da Maçonaria através da história é que ela é um produto da forja do tempo. Justamente porque é uma corporação de todas as forças secretas, ela, em essência, veio-se formando através dos séculos com o aparecimento sucessivo das sociedades diversas que hoje a constituem. O seu ideal foi se reafirmando; os seus pla­nos foram se consolidando; a sua organiza­ção, fixando-se a pouco e pouco, até que re­cebesse forma definitiva, em 1723, pelas Constituições oficiais redigidas por Anderson ( da Grande Loja da Inglaterra).

Se remontarmos ao mais longínquo da história para investigar todo o mistério dos seus segredos, o primeiro instituto que acha­remos, e que parece ter contribuído à sua organização e finalidade perversa, veremos que foi a Ordem extinta dos Templários. E, então — coisa curiosa — averiguaremos que a origem da Maçonaria é quiçá diabólica. Esta Ordem, que tanta estima e riqueza lo­grara no Oriente e no Ocidente, perverteu-se e entregou-se às maiores abominações. O orgulho desmedido de seus membros levou-os ao desejo de dominar o mundo pela fun­dação de um governo universal. E o demônio, pai do orgulho e da impureza que os perdera, parece-nos, serviu-se deles como de pedra angular dum edifício que desde muito planejava construir. Conta-nos ilustrado au­tor que os Templários adoravam um gato que lhes aparecia quando estavam reunidos. (Pe. T. Dutra — As seitas secretas, pág. 63) E sabemos, afinal, como terminou a his­tória da Ordem dos Templários. Felipe o Belo e o Papa Clemente V extinguiram-na por seus decretos, em 1310.

Apenas destruída a sua corporação, os Templários, cavaleiros ilustres e nobres, que eram, buscaram outra de ilustres e nobres como eles, em que pudessem incutir suas idéias, após terem jurado — ultima provocação do decreto pontifício e real — ódio eterno e guerra ao papado e à monarquia.

Pelo mesmo tempo, existia, florescente e prestigiosa, a Sociedade dos Livres Pedreiros, a que muitos nobres davam seu nome, porque então era honra pertencer à associa­ção mais espalhada no mundo e que, de as­sociação de pedreiros, ia se tornando asso­ciação de filósofos. Foi a este grêmio ilustre, amante do segredo e do ocultismo, que os Templários se filiaram, provavelmente, para ali insinuar os seus planos, e vir a formar, no decorrer dos séculos, de concerto com ou­tras sociedades secretas, e escravizadas to­das ao judaísmo, a Ordem Maçônica, ou Franco-Maçonaria, constituída oficialmente em 1723.

Foi assim, mais possivelmente, que se originou a Maçonaria.

 

Como está ela organizada?

Subindo à ribalta das aparições sociais com as constituições públicas redigidas por James Anderson, entrou a Maçonaria numa segunda fase: a de uma organização externa.

Esta organização, camuflagem da orga­nização secreta, outra não é que a de qual­quer sociedade filantrópica, com esta parti­cularidade: abrange todo o mundo. Nas lo­jas municipais, ela tem um Presidente, cha­mado Venerável, um Secretário, um Tesou­reiro, e dois Conselheiros, ditos Irmãos Vi­gilantes.

As lojas municipais elegem membros para um conselho nacional, denominado Convenção do Grande Oriente. Os Grandes Orientes reúnem-se de tempos em tempos em Convenções internacionais. Todos os membros destes vários governos são eleitos temporariamente.

Tal é a organização externa da Maçonaria.

Interiormente, porém, é outra a organização, como outras são as finalidades, que não filantrópicas, que a norteiam.

Há uma graduação, com títulos sonoros e poéticos, com insígnias e ritos de recepção, em que, segundo a idoneidade dos compar­sas que a vão galgando, revelam-se paulatinamente os segredos e planos ocultos.

Estes títulos são em número de 33, dos quais os três primeiros são de domínio pú­blico: Aprendiz, Companheiro e Mestre — e os três últimos, quase completamente desconhecidos, até dos próprios maçons: Prín­cipe Adepto, Patriarca das Cruzadas, Cava­leiro Kadosch.

O Aspirante vai subindo por estes graus, elevado pelos que estão nos graus superiores, e comprometendo-se, cada vez, com ju­ramentos os mais terríveis, a guardar os se­gredos que lhe forem revelados, e a obede­cer, sob pena de morte atrocíssima, a quanto lhe mandarem os chefes da seita. E daí o que observa Poncins: “o número dos gra­duados diminui proporcionalmente à eleva­ção, e os altos graus tornam-se cada vez mais secretos”. (Op. cit., p. 22)

Esta graduação, que existe entre os membros, existe também entre as lojas do mundo inteiro, de tal modo que, conforme nos expõe ainda L. de Poncins, a Maçonaria assemelha-se a uma grande pirâmide, em cujo vértice invisível posta-se um grupo misterioso a fazer descer todas as ordens às graduações inferiores, impossibilitadas de saber quais os seus verdadeiros mandantes. (Idem, p. 23)

Tal a organização ímpar das seitas se­cretas, que tem feito surdir na história os maiores eventos, tramados na sombra, mui­tas vezes com requintes de maldade.

 

Qual a finalidade da Maçonaria?

O recurso que fizemos às suas origens no-la evidencia, sem que seja preciso citar documentos maçônicos que a comprovem.

Há que distinguir o fim simplesmente humano, e o fim demoníaco, entendido pelo fundador real da seita.

O fim simplesmente humano é a des­truição de toda a autoridade tanto temporal como espiritual. Ódio eterno à Monarquia e ao Papado foi o 1.° juramento dos Templários.

Destruir a autoridade espiritual, combater o Papado, o clero, a Igreja — tal a finalidade demoníaca. Não me darei ao trabalho de provar o que todos conheceis à luz da história.

Acabar com a autoridade temporal — eis aqui um ponto sobre que, talvez, andais enganados; permiti-me que vo-lo esclareça.

Ouvimos constantemente que é finali­dade da seita secreta minar os tronos, aca­bar com a Monarquia, implantar a Repúbli­ca. É verdade tudo isto. Mais verdade é ain­da, porém, que o abater os tronos e esma­gar dinastias não é senão um fim intermédio da Maçonaria; é, antes, posso afirmar, um plano, que um fim desta associação O seu fim concreto e principal, na ordem política, é abolir toda e qualquer autoridade, é tender à anarquia total. Destruir a Monarquia era vencer o 1.° óbice. O seu mais secreto inten­to é acabar com a mesma democracia. Os documentos maçônicos são absolutamente afirmativos a este respeito. E, entre outros autores, eu poderia citar-vos Weishaupt, fundador da seita dos Iluminados na Alema­nha e João Witt, maçon, nas suas Memórias secretas. A exiguidade do tempo não o per­mitiria, entretanto.

Passemos a considerar o fim diabólico da Maçonaria. A Maçonaria não tem somen­te um fim humano. Fundação demoníaca, “Sinagoga de Satanás” como a cognominou Pio IX, tem ela um fim diabólico, que é oculto de Lúcifer.

Parece incrível. Mas comprova-o a au­toridade dos fatos. Existe nas lojas mais al­tas e secretas da Maçonaria, as chamadas Lojas

Paládicas ou de Retaguarda, o culto verdadeiro de Satanás. Sobre esta matéria, escreveu um grosso livro um maçon conver­tido, que delas fêz parte. Intitula-se o livro: “Le Palladisme” e é de Romênico Margiotta.

Mais. Tempos houve em que nações catolicíssimas, como a Itália e a França, bafejadas do espírito maçônico, chegaram à ado­ração pública de Satanás! Procissões hediondas, levando à frente um estandarte em que se via pintada a inimaginável cara do demônio, percorreram ruas de metrópoles afamadas, como Paris, Roma e Palermo, por entre hinos que a história guardou, aos gri­tos infames de “Viva Satã!” e “Morra Deus!”.

Reporto quantos me lêem aos dois se­guintes livros em português: “As seitas se­cretas” do Pe. T. Dutra e “A autoridade e as forças secretas” do Pe. Everardo Gui­lherme.

Fazendo uma reminiscência numa sín­tese, concluo repetindo. Dois são os fins da Maçonaria: O entendido pelos homens — fim próximo — a destruição de toda a autoridade.

O entendido pelo demônio, — fim últi­mo — o Satanismo.

O substituir os tronos pelas repúblicas cabe antes na categoria dos planos gerais da Maçonaria, que ora passamos a ilustrar.

 

Quais os planos da Maçonaria?

É distintivo do agente dotado de razão prosseguir um fim com os planos mais viá­veis. E a Maçonaria que trabalha, não so­mente dirigida pela razão, mas orientada pelo espírito do mal, tem planos incomparáveis, ardilosos, viabilíssimos.

Para cada país traçam as Federações maçônicas planos particulares que não seria fácil discriminar aqui, porque variam com as épocas e com as vicissitudes políticas e religiosas. O que vamos expor é quase osplanos universais da Ordem.

Como planos para alcançar o seu duplo fim humano e diabólico, posso salientar, reduzindo :

1) A república e pseudo-religião univer­sais, cujo centro será Roma.

2) A subversão da moral social e fami­liar.

A conquista destas duas áreas visadas pelos nossos inimigos maçons é fadada a elaborar, necessariamente, uma nova civiliza­ção, ateia e amoral, por não dizer imoral.

A república universal é um sonho desde muito praticamente realizado, porque afinal, a República, já espalhada em quase todo o mundo, como o afirmaram e provaram Léon de Poncins e outros (2) é hoje inteiramente controlada pela Maçonaria, aliás a sua legítima fundadora e propulsora.

Que tenham querido, e queiram os ma­çons fazer da Cidade Eterna o centro da República Religiosa Maçônica Universal — é o que nem todos sabem, mas está sobeja­mente destilado nos escritos de Mazzini (3), o maior apóstolo desta causa. Eis aqui um de seus trechos, não secreto, mas, público:

“Roma não é uma cidade. Roma é uma ideia. Roma é a sepultura de duas religiões que inspiraram o mundo passado e o santuá­rio de uma terceira que falta e que dará ao mundo a vida do futuro. Roma é a missão da Itália entre as nações; a palavra e o ver­bo do nosso povo; o evangelho eterno da Unificação das nações…”

E de Mazzini temos ainda bastas cita­ções que vindicam o cerebrino plano: “A ideia tem o apoio da maçonaria britânica e americana, e geralmente de todos os núcleos maçons do globo” — afirma-nos o autor de quem tomei emprestada a citação acima. (Pe. Ev. Guilherme — Solidarismo, vol. IV, pág. 57)

Quanto à subversão da moral, que é o 2.° plano, afirma-nos positivamente este mes­mo autor, que o disse conhecer através de maçons idôneos, serem de total orientação maçônica os esportes mistos, as escolas mis­tas, a fundação de cassinos e cabarés, etc. e sobretudo a bolorenta campanha do divór­cio.

E não será para menos, porque a Ma­çonaria, nas lojas de Retaguarda, assim co­mo pratica Luciferismo, apregoa e pratica também o dito culto fálico, que consiste na mais degradante bestialidade (G. Barroso, op, cit. — Pe. T. Dutra, op. cit.; — Jac Van Term, em sua obra em holandês sobre a Ma­çonaria.)

E cerro-me com esta sucinta exposição, para apressar-me com uma resposta que servirá de conclusão final.

 

Existirá ainda o perigo maçônico?

Sim. Não nos iludamos. O perigo maçônico não passou. Não é um anacronismo uItramontano. E eu estou em dizer que, nos dias de hoje, em que menos nos ocupamos dele, é que ele mais nos solapa.

A Maçonaria ainda existe. Ninguém o nega. Logo, se existe, e porque existe, con­tinua a ser fiel a seu programa de trabalhar no oculto e na sombra. É, pois, cosa das mais palpáveis que ela constitui grande pe­rigo, ainda agora. Sobretudo para a nova construção que se projeta de um Mundo No­vo, erguido sobre bases solidamente cristã, onde a visão do sobrenatural sobrepuje a visão da técnica. E isto justamente porque este Mundo Novo que queremos é um anta­gonismo ao Mundo Novo ateu que a Maçonaria imaginou e jurou construir na som­bra, muito antes de nós.

E, se este perigo existe em toda a parte, existe grandemente no Brasil, onde a Maçonaria tem um plano especial, o de marcar-se do timbre da “indefinição”. Quem o diz é Tristão de Ataíde: “Definir aqui a Maçona­ria é impossível — diz êle — pois ela é, em nosso caso, a própria indefinição (Contra-. Rev. Esp. pág. 86).

Grande Verdade sobre a Maçonaria no Brasil. Ela é aqui a própria indefinição. Isto é, seus membros, seus chefes, aqui, não se definem, não dizem, nem mesmo sabem o que querem. São indefinidos e são indefiníveis. E por quê? É que são iludidos pelos Grandes Orientes de Paris e de Londres. Não sabem, na quase totalidade, o que é Maçonaria. E os Grandes Orientes não lho re­velam. Querem que o modo de ação maçônica seja, aqui em nosso meio, por indefini­ção.

E nós, que sabemos bem, que tanto fa­lamos, do perigo dos “homens sem marca”, dos “caracteres sem personalidade”, dos “sujeitos indefinidos”, não cremos, por ve­zes, no perigo maçônico no Brasil.

Também a França, antes de 1889, não o creu! Também o México não o creu! (Alusão aos Cristeiros?) Tam­bém a Espanha não o creu! Em 1865, Lafargue, no Congresso Maçônico de Liège, afirmava: “Há 4 séculos que minamos o ca­tolicismo, esta máquina formidável que o espiritualismo inventou…” Palavra semelhan­te, quem sabe, repetem os maçons com res­peito à nossa cara Pátria, em todas as suas convenções. “Há mais de 2 séculos que mi­namos o catolicismo brasileiro, o mais decantado catolicismo, que os padres elogiam com ênfase do alto de seus púlpitos, e que é a nossa melhor arma de ação!”

 

Até quando continuaremos de olhos escamados?

Contra a Maçonaria só existe um remé­dio — advertia Barruel. É desmascarar-lhe os planos e ficar de sobreaviso às suas investidas contra o patrimônio das ideias cristãs. (Memoires pour servir a l’histoire du Jacobinisme)

A nossa imprensa, porém, e mesmo o nosso púlpito, que não raro se prestaram a hediondas campanhas políticas, esqueceram-se de flagelar a hipocrisia maçônica, como impôs aos padres S.S. Leão XIII (Ene. de 30 abril 1884) (É, padre, não só a esqueceram como até a promovem, inclusive bispos, como Dom Demétrio Valentini, e a conivência da CNBB.) Um dia, e talvez, não vem longe, colheremos o fruto desta inércia. O tribunal irrevogável dos fatos sancionará o aresto que a experiência do passado nos deve levar a pronunciar.

Que ao menos a geração nova de agora se aperceba da história com proveito para soerguer no futuro o que até ao presente se veio destruindo.

 

1 Este resumo é uma palestra pronunciada pelo autor em 1942 e constitui a síntese de quanto se disse precedente­mente,

2 Léon de Poncins – As forças secretas da Revolução, p. 22.

3 Opere di Giuseppe Mazzini, vol. XIV sobretudo.

 

Obs.: Os destaques só em negrito são originais do texto, e os negritos sublinhados, e entre parênteses são meus. Cleber Lourenço.

O Segredo da Maçonaria

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