Arquivo de agosto de 2013

Qual o valor do tomismo hoje?

Postado por Admin.Capela em 10/ago/2013 - Sem Comentários

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Outro dia um aluno do curso de filosofia  perguntou-me se a ciência moderna anulava ou contradizia alguma das teses da filosofia de Santo Tomás, um pensador medieval.

A referida pergunta procede e versa sobre um assunto a ser investigado. Mas deve-se dizer que, para analisar tal problema, é preciso logo de princípio fazer uma distinção entre o campo estrito da metafísica e outros tratados filosóficos. Sendo a metafísica o estudo do ser enquanto ser, separado das qualidades sensíveis e da quantidade (terceiro grau de abstração), não compete às ciências físicas imiscuir-se em seu terreno e querer aplicar aí seu método de investigação. Deus, Ato Puro, Ser Absoluto, Causa Primeira, nunca será objeto de investigação científica, se por ciência se entendem apenas as ciências empíricas. A legitimidade da metafísica consiste justamente em provar que as outras ciências são subalternas em relação a ela na medida em que suas conclusões e respostas não são exaustivas, mas, ao contrário, sempre se limitam àquilo que é contingente e não se explica por si mesmo e, por conseguinte, é dependente do Ser Necessário.

Como se sabe, há três graus de abstração. O primeiro grau deixa de lado as características particulares dos fatos e fenômenos, considerando as naturezas universais e as leis universais dos fenômenos físicos. Neste primeiro grau de abstração fundam-se as ciências experimentais. O segundo grau de abstração deixa de lado as propriedades físicas e sensíveis das coisas e nelas só lhe interessam a quantidade e o cálculo entre as quantidades. É a abstração própria da matemática. O terceiro grau de abstração deixa de lado as quantidades como propriedades físicas e sensíveis, considerando nas coisas apenas o que nelas há de primeiro, o mais fundamental, isto é, o ser.

O pensador tomista francês, Jean Daujat, observa que cada um desses três graus de abstração tem sua maneira própria de conceber e raciocinar e que se pode cair em graves confusões se se passa de um a outro sem atenção. Daujat dá como exemplo a noção de causalidade que não é absolutamente a mesma para o físico e para o metafísico. Para o físico, a causalidade é uma regularidade na sucessão dos fenômenos sensíveis: ele dirá que um fenômeno A é a causa de um fenômeno B se fenômeno A é sempre acompanhado ou seguido pelo fenômeno B. Para o metafísico, a causalidade é uma dependência na existência: ele dirá que A é causa de B se o ser de B depende do ser de A ( Cf. Jean Daujat, Y a-t-il une verité?, Paris, Pierre Téqui Éditeur, 2011).

Na referida obra Daujat explica também que pode haver ciências mistas, que participam de dois graus de abstração. É o caso da física moderna que é materialmente física e formalmente matemática.

Para resolver a questão que nos ocupa, a relação entre a metafísica de São Tomás e as ciências empíricas modernas, é útil ainda acrescentar outra consideração de Daujat atinente à pretensão do neopositivismo de recusar a legitimidade  da física moderna, que não obteria um conhecimento objetivo do mundo mas se reduziria a um método matemático para organizar a ação do homem no mundo. Diz Daujat que o conhecimento das  quantidades medidas é verdadeiro. E este conhecimento limitado ao quantitativo é importante, pois, sendo a quantidade  o acidente fundamental das substâncias corpóreas e o sujeito de seus outros acidentes, o conhecimento quantitativo poderá fornecer as indicações para um conhecimento ontológico que os atinja em seu ser mesmo, de modo que o sábio pode passar de um conhecimento a outro sem dar-se conta (o. c. p. 150-151).

Portanto, como se vê, o questionamento da validade da metafísica tomista envolve, na verdade, o questionamento da ciência moderna. O cientificismo, inimigo da metafísica, não destrói apenas a filosofia primeira mas toda a ciência.

Contudo, cumpre dizer que as investigações filosóficas de Santo Tomás em outras áreas, como, por exemplo, na antropologia e na cosmologia, podem, eventualmente, oferecer alguma dificuldade ou exigir outras explicações, estimulando os estudiosos mais competentes a aprofundar suas pesquisas por meio de um diálogo fecundo com as diversas ciências contemporâneas. Aliás, o papa Leão XIII, na famosa encíclica Aeterni Patris, de 1879, em que recomenda um retorno ao estudo de Santo Tomás, diz que, se na antiga escolástica houver alguma coisa inconciliável com o avanço da ciência moderna, não seja  tal ensinamento reproposto. A propósito de semelhante problema o respeitado professor de filosofia, Henrique Cláudio de Lima Vaz SJ, em seu auto-retrato filosófico, conta que em seu tempo de seminário havia uma interessante disciplina voltada justamente para esse escopo de investigar os pontos de contato entre a filosofia e a ciência moderna.

Da minha parte, posso dizer que, dirigindo os seminários da disciplina Síntese Filosófica, que visa precisamente a estabelecer um confronto entre a filosofia perene e as correntes modernas de pensamento, pude observar em um trabalho apresentado por um aluno que Santo Tomás, aplicando ao problema da união corpo e alma no homem a teoria do hilemorfismo, não só dá uma reposta muito mais satisfatória que o dualismo cartesiano, mas também se coaduna com as investigações mais recentes da neurociência, que tanta empolgação tem causado. Com efeito, embora rejeitando o emprego do conceito clássico de “alma” como princípio vital e forma substancial que assegura ao homem a sua unidade e seu único ato de ser, e apesar de um emprego impróprio do conceito de consciência em lugar de alma, vários neurocientistas, não obstante ressaibos de materialismo, querem dizer quase a mesma coisa que disse Santo Tomás na explicação do homem com base na unidade substancial entre corpo e alma. Se tiverem boa vontade, esses cientistas, estudando Santo Tomás, hão de concluir que o sistema nervoso superior não pode explicar cabalmente a consciência humana, mas é preciso admitir uma forma substancial.

Entretanto, não é apenas a obra de Santo Tomás de Aquino que se apresenta de uma atualidade espantosa, mas também sua vida santa e admirável constitui uma lição atualíssima. Tendo vivido no século XIII, em uma sociedade estamental, pertencente à alta nobreza, foi educado, como se sabe, por monges beneditinos. Naqueles tempos, a vida religiosa abraçada dentro de mosteiros (que eram feudos rendosos) ou nas aristocráticas congregações de cônegos regulares podia reverter em benefício e prestígio de toda estirpe. Por isso, a decisão de Santo Tomás de ingressar em uma ordem mendicante, a Ordem dos Pregadores, fundada por São Domingos Gusmão, a qual era ainda vista com certa desconfiança, foi um ato de virtude do nosso santo e frustrou interesses mesquinhos de alguns de seus familiares. Em nosso mundo de hoje, mais que nunca dominado pela ambição de bens materiais, a vida santa  do Doutor Angélico, inteiramente dedicada à busca e ao ensino da sabedoria, deve ser meditada e imitada.

Muito mais poderia ser dito sobre santo Tomás. Que o seja por quem tem mais competência. Ficam aqui estas mal traçadas linhas à guisa de breve panegírico e como um testemunho de quem tenta abeberar-se nas fontes límpidas do Doutor Comum da Igreja para manter a integridade da fé. Não é à toa que a Igreja determina, no cânon 252 do Código de Direito Canônico, que os estudos teológicos sejam desenvolvidos à luz da doutrina de Santo Tomás ( S. Thoma praesertim magistro). Sem a luz do tomismo, toda a teologia, inclusive o magistério eclesiástico, perde seu rigor e precisão, reduzindo-se a um discurso livre em que cada um dirá o que quer.  Não é à toa tampouco que o papa Leão XIII, querendo, nas pegadas de seu predecessor Pio IX, restaurar sociedade segundo princípios cristãos, viu que tal empresa  era inútil sem a restauração da inteligência cristã e, por isso, escreveu a encíclica Aeterni Patris.

Anápolis, 10 de agosto de 2013.

Festa de São Lourenço, diácono e mártir.

A mãe cristã – recordando sua altíssima vocação

Postado por Admin.Capela em 08/ago/2013 - Sem Comentários

Mulher cristã, tu não nasceste para fazer obras mestras. As grandes obras da política, da guerra, da ciência, da literatura, da arte, não brotaram das tuas mãos, nem do teu engenho. Tudo isto é obra dos homens. Todavia, tu fizeste o que mais vale, formaste esses homens, não só porque os geraste com o teu sangue, mas também porque os modelaste com tua paciência e com teus encantos.

Esposa, Deus te criou para ajuda do homem. Casaste para auxiliar a teu esposo na grande obra de dar filhos a Deus, cidadãos à sociedade, fiéis à Igreja e eleitos ao céu.

Sê generosa com Deus; não lhe negues por egoísmo, por temor ao trabalho e à dor, os filhos que te quer dar. Eles serão tua coroa no céu.

Casaste para ajudar teu marido a salvar sua alma, sendo estímulo de sua religião e remédio de suas paixões. Ama-o e sê fiel a ele como a Igreja a Cristo; assiste-lhe com diligência e carinho como a teu companheiro inseparável e sustento de tua existência; obedece-lhe e respeita-o como a teu superior e cabeça; suporta-o com paciência; responde-lhe com mansidão, cala-te quando ele está enfadado; aconselha-o com prudência e sem cansá-lo; não lhe dês ocasião de ciumes com familiariades alheias. Respeita teus sogros, seus pais, como a teus pais; trata as tuas cunhadas, suas irmãs, como a tuas irmãs; promove a harmonia e união entre todos os de casa. Vive em paz com teus parentes e vizinhos.

Mãe, ajuda a teu marido na educação dos filhos. De ti depende, sobretudo, que teus filhos sejam bons cristãos, de ti, que estás sempre com eles; de ti, que és anjo da guarda deles, centro da vida deles, ímã de seus corações e que vales para eles mais que todos os mestres de escola. O que tu lhes ensinares não chegarão jamais olvidar.

Um grande político dizia certo dia: “Eu teria sido ateu se houvesse podido olvidar uma coisa: a recordação do tempo em que minha mãe tomava minhas mãozinhas com as suas e me fazia ajoelhar dizendo: Padre Nosso que estais nos céus.” Ensina-lhes a rezar, anima-os a frequentar os sacramentos, vigia suas companhias e diversões; tem sumo cuidado em que exista a devida separação entre filhos e filhas e pessoas de diferente sexo. Corrige-os com amor. Não os castigues com rancor.

Preocupa-te, sobretudo, com as tuas filhas: não dês asas à vaidade delas; obriga-as a aprender os labores de uam dona de casa; não tenhas tanta pressa em casá-las de maneira que não consideres a verdadeira vocação delas, fazendo-as infelizes nesta e na outra vida.

Grava em teu coração os mesmos desejos, e em teus lábios as mesmas palavras de Santa Branca de Castela para seu filho São Luís, rei da França: “Antes que em pecado quisera ver-te despojado das insígnias régias ou morto.”

Oração a Santa Mônica

Oh! esposa e mãe exemplar Santa Mônica! Vós provastes a alegria e a dificuldade da vida conjugal. Vós lograstes levar a fé a vosso esposo Patrício, homem de caráter difícil e libertino; vós derramastes tantas lágrimas e rogastes dia e noite pela salvação da alma de vosso filho Agostinho. Não abandonastes jamais vosso filho, nem sequer quando vos enganou e fugiu de vós. Intercedei por nós, grande modelo de esposa e mãe, para que a família que Deus me deu, e as famílias cristãs em geral, saibamos transmitir a fé e amar-nos sempre com amor sobrenatural. Santa Mônica, ajudai-nos a saber levar a nossos entes queridos na vida da graça, confortando-os nos momentos difíceis e consigamos da Santíssima Virgem, Mãe de Deus e nossa Mãe, poder chegar todos juntos à pátria eterna do céu. Amém.

Oração a Maria Santíssima

Oh! cheia de graça e bendita entre todas as mulheres, Maria! Estendei, vos rogamos, a mão de vossa maternal proteção sobre nós, vossas filhas, que nos aproximamos de vosso trono de Rainha como falanges dóceis a vossas indicações e decididas a realizar, com vosso auxílio, em nós mesmas e em nossas irmãs, o ideal da verdade e da perfeição cristã!

Em vós se fixam com admiração nossos olhos, ó Imaculada filha predileta do Padre, ó Virgem esposa do Espírito Santo, ó Mãe terníssima de Jesus! Obtende-nos de vosso Filho a graça de poder refletir em nós mesmas vossas excelsas virtudes em todas idades e condições!

Fazei que nos conservemos incontaminadas e puras nos sentimentos e nos costumes; doces, afetuosas, compreensivas, companheiras de nossos esposos; mães diligentes, vigilantes, zelosas para com nossos filhos; administradoras prudentes de nossos lares; cidadãs exemplares de nossa pátria; filhas fiéis da Igreja, prontas a deixar-nos guirar por ela no pensamento e na ação!

Ajudai-nos, ó nossa Mãe amorosíssima, a observar fielmente os deveres de nosso estado e fazer de nossas moradas centros de vida espiritual e de operante caridade, escolas de formação das consciências e jardins de todas as virtudes; assisti-nos para que também na vida social e pública saibamos ser exemplo de fé profunda, de prática cristã constante e firme, de incorrupta integridade e de justo equilíbrio fundado sobre os mais sólidos princípios religiosos!

Abençoai nossos propósitos e nossas fadigas, e assim como nos sentimos inspiradas por vós para empreendê-los, assim também nos seja concedido, por vosso auxílio, ver seus frutos abundantes no tempo e na eternidade! Amém.

Retrato de uma mãe

Mons. Ramón Ángel Jara

Há uma mulher que tem algo de Deus pela imensidade de seu amor, e muito de anjo pela incansável solicitude de seus cuidados; uma mulher que, sendo jovem, tem a reflexão de uma anciã e na velhice, trabalha com  o vigor da juventude; a mulher que se é ignorante descobre os segredos da vida com mais acerto que um sábio, e se é instruída se acomoda à simpilicidade das crianças; uma mulher que sendo rica, daria com gosto seu tesouro para não sofrer em seu coração a ferida da ingratidão; uma mulher que sendo débil se reveste às vezes da bravura do leão; uma mulher que, enquanto vive, não a sabemos estimar porque a seu lado todas as dores se esquecem, que, entretanto, depois de morta, daríamos tudo que temos para vê-la de novo um instante, para receber dela um só abraço, para escutar um só acento de sua voz. Desta mulher não me exijas o nome se não queres que empape de lágrimas o teu álbum, porque a vi passar em meu caminho. Quando crescerem teus filhos, lê-lhes esta página, e eles, cobrindo de beijos tua fronte, te dirão que um humilde viajante, em retribuição de suntuosa hospedagem recebida, deixou aqui para ti e para eles um bosquejo do retrato da mãe deles.

Disse São Pio X: “Dai-me mães realmente cristãs e eu transformarei o mundo.”

Não haverá salvação para a sociedade e para família, se a mulher não voltar a  ser verdadeiramente cristã!

Tradução do espanhol, com pequenas adaptações, do folheto publicado pela Parroquia del Santísimo Redentor, Diocese de San Bernardo, Chile, pelo Rev. Pe. Pedro Felix Salas Fernández