Arquivo de julho de 2015

Do báculo modernista à cruz “foice e martelo” de Francisco

Postado por Admin.Capela em 10/jul/2015 - Sem Comentários

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

O sacrílego presente ofertado pelo presidente da República da Bolívia ao bispo de Roma causou perplexidade e revolta entre os católicos, não só porque a foice e o martelo são o símbolo do comunismo, o regime político diabólico que perseguiu os católicos com mais crueldade do que a antiga Roma pagã, mas sobretudo porque o mimoseado com o esdrúxulo regalo, segundo informou o porta-voz do Vaticano, não manifestou nenhum desagrado.

A Roma dos césares perseguia os cristãos porque estes eram intolerantes, não aceitavam a política ecumênica do império que punha nos nichos do panteão todos os deuses da gentilidade (os católicos pós-conciliares não seriam molestados pela Roma dos césares), ao passo que o comunismo tentou a ferro e fogo apagar do coração do homem qualquer crença em Deus e na vida eterna, bem como destruir todas as instituições sociais da cristandade, sobretudo a família e a propriedade privada.

Como bem sabemos, as mais diversas seitas gnósticas e satanistas sempre se distinguiram pelo gosto perverso de profanar a cruz, enquanto a Igreja e seus filhos sempre a exaltaram e se refugiaram sob a sua poderosa proteção. E nós brasileiros somos, com orgulho, filhos da Terra da Santa Cruz.

Contudo, cumpre dizer que, infelizmente, desde o Vaticano II, com sua fracassada reforma litúrgica, a santa cruz passou a ser objeto de trabalhos “artísticos”, não só de inegável mau gosto, mas de manifesta intenção de escárnio da fé. O mais deplorável desses trabalhos “artísticos” foi o famoso báculo de Paulo VI, utilizado por João Paulo ao longo de todo seu pontificado, aposentado por Bento XVI e restabelecido adrede por Francisco.

Com efeito, não se pode negar o propósito de escárnio da fé nestas modernas representações da cruz, pois há altos dignitários eclesiásticos que declaram que está ultrapassada a crença em um sacrifício redentor da cruz. A cruz representaria apenas o sofrimento, a opressão, de que o homem moderno, mais maduro e consciente de suas próprias forças, certamente se libertará. De modo que se deve representar a cruz, não como o instrumento da salvação do mundo, como libertação do pecado e do poder do diabo (não se crê mais neste ser mitológico segundo o modernismo), mas como o mal a ser vencido pela revolução do homem moderno emancipado de qualquer autoridade humana ou divina.

Lembro-me de que há uns trinta anos houve um grande evento no Brasil, semelhante ao Encontro Mundial dos Movimentos Sociais promovido pelo Vaticano na Bolívia, em que centenas de católicos das famigeradas comunidades eclesiais de base, na presença de bispos, celebraram o ritual “Pisoteio da Cruz”. Para gente desse jaez, do drama do calvário a única lição que se deve tirar é o grito de Cristo “Meu Deus, meu Deus, porque me desamparastes”, interpretado como um grito de desespero a fim de que o homem se convença de que do céu não se deve esperar nada, mas só lutar (a praxis) para revolucionar o mundo. As palavras do Redentor “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” não têm sentido, porque não crêem na existência da alma imortal e muito menos na vida eterna.

No episódio recente do encontro entre o bispo de Roma e o cacique bolivariano, o que me pareceu lamentável foi verificar mais uma vez a falta de informação de muitos católicos sobre o pontificado de João Paulo II, considerado por eles como um modelo de conservadorismo e ortodoxia em contraposição ao revolucionário e libertário pontificado de Francisco.

Ora, sabe-se perfeitamente que a encíclica social Laborem exercens de João Paulo II emprega categorias marxistas para analisar o mundo moderno. Isto foi dito pelo prof. Buttiglione, da Pontifícia Universidade Lateranense de Roma. A  referida encíclica exalta tanto o trabalho como se isto não fosse uma espécie de idolatria e condena o capital como se apenas este fosse uma idolatria instigada pelo diabo. Pois eu digo que a idolatria do trabalho pode rebaixar e infelicitar mais o homem do que a idolatria do dinheiro à medida que lhe impede o necessário ócio (não a preguiça) para a contemplação e o aprimoramento do espírito.E não foi apenas o professor Buttiglione, mas também o redator da edição polaca do Osservatore Romano, Pe. Boniecki, amigo pessoal de João Paulo II, disse que a encíclica Laborem exercens está mais próxima do pensamento de Marx que ao de Leão XIII. Ademais, sabe-se que João Paulo II não queria censurar Leonardo Boff e só o fez porque Ratzinger lhe disse que renunciaria a seu cargo se o processo contra o teólogo da libertação  ficasse em vão.

Não bastasse tudo isso, tanto João Paulo II quanto Ratzinger se esforçaram por operar uma síntese entre a tradição católica e a modernidade e nisto se mostraram adeptos do método dialético e de um conceito  de verdade evolutiva.

Realmente, se não fosse assim, Francisco não teria canonizado João Paulo II e não teria restaurado o seu báculo que tem um crucificado próprio das seitas gnósticas medievais.

Portanto, pode-se falar de uma relação de causa e efeito entre o espantoso báculo dos papas da Igreja Conciliar e a cruz “foice e martelo” regalada ao bispo de Roma. E não nos iludamos: este novo modelo de cruz será colocado nos altares “Novus Ordo” de muitas igrejas que adotam a nova teologia da misericórdia revolucionária!

Anápolis, 11 de julho de 2015.

Festa dos sete irmãos mártires filhos de Santa Felicidade, de Santa Secunda e Santa Rufina, virgens e mártires.

Para que a Mística não termine em política

Postado por Admin.Capela em 04/jul/2015 - Sem Comentários

[Editorial do blog “Radicati nella fede” – Ano VIII, nº 6 – Junho 2015; original italiano: < http://radicatinellafede.blogspot.it/2015/05/perche-la-mistica-non-finisca-in.html >]

Mudará alguma coisa na Igreja? Veremos o fim da crise modernista? Veremos o retorno de toda a Igreja à sua Tradição?

Humanamente deveríamos responder que não.

Há muito tempo essa crise prossegue para que seja humanamente previsível um renascimento. A presença dos católicos segundo o gosto do mundo é tão extensa, e a Tradição tão humanamente exígua, que tudo leva, de acordo com um cálculo humano, ao desânimo.

Por isso, segundo uma previsão humana, podemos dizer que não veremos o retorno à Tradição.

No entanto, nós oramos e trabalhamos todos os dias para que a Tradição volte a ser patrimônio comum de toda a Igreja. Atuamos a Tradição para isso, atuamo-la para que todos voltem a ela e a Igreja se livre do veneno modernista na sua doutrina e na sua pastoral.

Seria lógico abraçar a Tradição, passar à Missa antiga, só por gosto pessoal? Que sentido teria atuar a Tradição sem desejar que ela volte a reinar sobre toda a Igreja?

Mas esse desejo, humanamente infundado, como é que não será uma utopia?

Não será uma utopia irrealizável porque está em jogo a potência de Deus. É Deus que conduz a história, é a sua onipotência; “a Deus nenhuma coisa é impossível” [Lc 1,37].

Caríssimos, é preciso evitar a tentação do naturalismo prático, que pode reinar também naqueles que se dizem católicos segundo a Tradição.

O naturalismo prático, quando pensa nas vicissitudes da história, do mundo ou da Igreja, faz a mesma coisa, ou seja, leva em conta, principal e exclusivamente, as forças humanas em ação. Na teoria, pode ainda dizer que Deus tudo pode; mas esse poder nunca entrará na lógica das suas escolhas e ações.

É devastador, quando esse naturalismo prático entra na ação dos católicos; ele os faz agir segundo o possível humano, e não segundo o possível de Deus.

São muitos aqueles que amam a Tradição e que a percebem correspondente à verdade da fé, mas que depois agem não conforme a verdade, senão conforme o cálculo humano do possível e realizável! Dizem: “Como é verdadeira e bela a Tradição da Igreja, mas – depois acrescentam – já não se pode voltar ao seu glorioso passado; logo, sejamos prudentes e contentemo-nos com alguma coisa menor, realizável agora”. Para esses católicos, o possível e o realizável não se apoiam na Verdade de Deus, mas no factível humano.

Não há lugar para a graça nos seus cálculos; são naturalistas.

Não há lugar para Deus, não há lugar para o milagre; o qual é, na verdade, a normalidade da História.

Os católicos, aqueles verdadeiros, em dois mil anos, não pensaram nem agiram assim.

Reconheceram a Verdade de Deus, desejaram-na para a sua vida, afadigaram-se e lutaram para que o mundo a reconhecesse e acolhesse. Para isso o Cristianismo se difundiu no mundo inteiro.

Apoiaram a sua ação na verdade da graça e da onipotência de Deus, não calcularam humanamente o realizável.

Os mártires fizeram assim.

Eles, que são os santos por excelência, morreram para afirmar a verdade de Deus, confiando que um dia Deus teria completado a obra. Morreram sem ver o triunfo da fé; morreram seriamente, numa solidão habitada somente por Deus, deixando para Deus o futuro. Viveram da única preocupação séria, que é a de santificar o presente na fidelidade absoluta a Nosso Senhor Jesus Cristo.

O que dizer de todos aqueles cristãos – pensemos nos cristãos do Japão, que resistiram por séculos fiéis ao Senhor, com um pai-nosso e uma ave-maria, sem sacramentos, transmitindo a sua fé aos filhos, deixando para Deus o futuro, convictos de que um dia um missionário voltaria com os sacramentos que salvam – fiéis a Deus no presente, sem cálculo humano, deixando para Deus o êxito do seu testemunho?

Caros amigos, também nós devemos fazer assim, fiéis a Deus no presente, guardando a Tradição, que é a própria natureza do Catolicismo, e deixando para Deus o futuro. É a única posição razoável.

É aqui, numa posição radicalmente antinaturalista, convicta do poder da graça, que tem sentido e valor o nosso sacrifício, unido ao de Cristo.

A alternativa é fazer confusão: querer um pouco de Tradição, compactuando continuamente em mil conluios na igreja e em casa, consentindo com o pecado ou com o erro que nos circunda, subtraindo-nos ao sacrifício da admoestação, dizendo-nos que não podemos pretender tudo. Tantos fazem assim: um pouco de Tradição e muita concessão às modas do momento, deixando para Deus a responsabilidade do testemunho. É exatamente o contrário do que é preciso fazer: o nosso testemunho deve ser total, deixando para a graça de Deus os frutos.

É preciso não ser católicos naturalistas. O naturalista é tolo e míope, diz que crê em Deus e depois tira d’Ele o senhorio sobre a realidade e o tempo.

É preciso ser místicos, ou seja, católicos. Os místicos veem Deus à obra e partem desse ponto.

É preciso permanecer místicos, enquanto ao nosso redor a mística termina em política. Também em política eclesiástica.