Arquivo de outubro de 2015

Pena de morte e aborto em nova perspectiva

Postado por Admin.Capela em 29/out/2015 - Sem Comentários

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Entre os católicos, e com grande repercussão na mídia, o assunto momentoso é o relatório final do Sínodo sobre a família e a anunciada reforma dos dicastérios da cúria romana encarregados da defesa dos valores da família e da vida humana.

 Observa-se que há um desejo de que a promoção dos referidos valores se dê em uma nova perspectiva. Seria relegada a segundo plano uma abordagem filosófica ou teológica dos problemas. Agora, a Igreja procuraria ver os sinais dos tempos, os novos rumos trilhados pela humanidade, na tentativa de descobrir sempre os elementos positivos de todas as realidades complexas vividas pelo homem moderno, as circunstâncias, as influências, os condicionamentos etc. É mais ou menos aquilo que dizia o padre Danielou S.J. nos anos cinquenta: “A velha teologia com sua metafísica racionalística e suas categorias abstratas está fora da vida e do real. Devemos hoje renová-la, sintonizando-a com as aspirações da consciência moderna, que quer mais psicologia do que metafísica, mais história do que teorias, mais adesão à existência concreta do que abstração conceitual. ” (Apud Cerruti S.J. A caminho da verdade suprema v. II, p. 370, RJ, 1968). Vale a pena recordar, como exemplo dessa nova perspectiva, o repúdio por parte da hierarquia à atitude coerente do então arcebispo de Olinda e Recife D. José Cardoso Sobrinho quando declarou a excomunhão latae sententiae aos envolvidos no caso de aborto de uma menina violentada em sua diocese.

Ora o grande sinal dos tempos modernos, tido como altamente positivo pela igreja pós-conciliar, é o estabelecimento da democracia em todas as partes do mundo. A democracia seria a única forma de governo compatível com a dignidade da pessoa humana. Acontece, porém, que a democracia, observando todas as formalidades do direito constitucional moderno, vai pouco a pouco, através de todos os estados, assegurando como direitos universais, intangíveis, o aborto, a eutanásia, o “casamento” homossexual.

De maneira que os teólogos e filósofos adeptos da nova teologia de um Danielou só podem estar admirados  pensando com os seus botões: Será que a Igreja não deve abordar de outra forma a questão da vida e da família?

Com efeito, tenho a impressão de que Francisco I está mais empenhado em combater com muito mais rigor a pena capital nos poucos países que ainda a aplicam do que em erradicar a praga do aborto, da eutanásia e do casamento homossexual. Ele chegou a declarar que a Igreja precisa refletir sobre os motivos ou razões que têm levado as democracias ocidentais a dar tutela jurídica à “família homoafetiva”. E disse que o aborto é uma questão científica e não teológica ou metafísica. Sem dúvida, parece em sintonia com o discurso moderno das feministas sobre a saúde da mulher e os direitos reprodutivos.

O papa João Paulo II em sua encíclica Evangelium vitae, de 25 de março de 1995, em que afirma a inviolabilidade de vida humana desde o primeiro instante da concepção, liga, infelizmente, o combate ao aborto à campanha abolicionista da pena capital, não elucida bem o tema da dignidade humana, bem como não desmascara a malícia da democracia moderna. Ora, a Igreja não pode condenar, sob pena de grave contradição em seu magistério, a pena de morte, sempre tida pela doutrina constante e imutável como lícita. E quanto à dignidade da pessoa humana, cumpre distinguir, como fazia mons. Lefebvre em sua acurada crítica à Dignitatis Humanae do Vaticano II (e com base na Suma Teológica de Santo Tomás), uma dignidade radical e uma dignidade terminal. É o que, em outros termos, argumenta Santo Tomás na explicação da licitude da pena de morte: o delinquente, em certos casos, como que se despoja da sua natureza racional e se reduz a uma besta-fera. Ademais, há no documento de João Paulo II, como decorrente de uma equivocada noção da dignidade humana e da falta de noção da gratuidade do sobrenatural, uma negação implícita do limbo.

No que concerne à democracia, João Paulo II, na referida encíclica, diz que deve ser tida como um positivo sinal dos tempos, fazendo apenas uma ressalva: o valor da democracia depende dos valores que defende ou espezinha. Na verdade, João Paulo II, a meu ver, queria que a democracia moderna secularizada se transformasse numa democracia  interconfessional que promovesse a defesa dos valores morais, ainda que desvinculados do Reino Social de Cristo. Justamente o contrário do que ensinava São Pio X na Notre charge apostolique, a encíclica em que condena a democracia cristã de Marc Sangnier: ” não há verdadeira civilização sem civilização moral nem civilização moral  sem  Religião verdadeira.”

  De fato, na democracia  interconfessional preconizada por João Paulo II os democratas favoráveis à legalização do aborto poderão dizer que têm muito em comum com os católicos seguidores dos sinais dos tempos. Estão juntos na abolição da pena de morte, estão juntos no combate à “homofobia”, estão juntos no combate à intolerância, ao integrismo e ao fundamentalismo. Portanto, a democracia que autoriza o aborto, por compaixão da pobre mulher coagida pelas circunstâncias, a tomar uma decisão tão dolorosa, não seria tão ruim. E seria preciso estudar as razões que a têm levado a legalizar o aborto.

Em conclusão destas reflexões, devo dizer que, realmente, espero que haverá (aliás, já está em curso) uma mudança de atitude da Igreja diante dos problemas referentes à defesa da família católica e da vida humana. Não haverá uma mudança substancial da doutrina, mas um discurso em novo estilo. Quer dizer, aquela visão benévola de todas as religiões como busca de Deus se estenderá agora à pastoral familiar, usando antes o remédio da compreensão e da misericórdia que a condenação dos erros. Seja-me permitido para ilustrar esta triste realidade contar o que me disse um conceituado pró-vida, que, durante muitos anos, foi responsável de Human Life International junto à Santa Sé. Referindo-se àqueles encontros “ecumênicos” promovidos por João Paulo II com diversas religiões e outras organizações anti-abortistas, disse-me: “Na verdade, a Igreja está sozinha nessa batalha. Na hora decisiva, na hora do “vamos ver”, todos os outros recuam, abrem exceções, etc.” Hoje há outra perspectiva…

Anápolis, 29 de outubro de 2015

Igreja descentralizada ou “individualizada”?

Postado por Admin.Capela em 22/out/2015 - Sem Comentários

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Tenho acompanhado com interesse, como é natural, o desenrolar do Sínodo sobre a Família. Devo dizer, no entanto, que nada do que leio a respeito me surpreende ou preocupa. Tendo vivido sob os pontificados de Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI, só posso estar convencido de que tudo o que bispo de Roma hoje diz, defende e promove nada mais é do que consequência necessária do que disseram e fizeram seus predecessores citados. De modo que a única surpresa desagradável para mim é ver alguns ditos tradicionalistas escandalizados com Francisco I. como se ele ousasse temerariamente romper com a solidez doutrinária da Igreja pós-conciliar.

Ora, sabe-se que Paulo VI não estava intimamente persuadido do valor dos ensinamentos da encíclica Humanae Vitae, tanto assim que deixou que se questionasse por alguns anos a doutrina da Igreja sobre a paternidade responsável e nomeou bispos que a contradiziam abertamente.

João Paulo II, com sua visão personalista, acentuava os preceitos da ordem moral mais como decorrentes de uma exigência da natureza humana do que propriamente uma lei divina imposta ao homem. Seus ensinamentos sobre a moral familiar e a ética sexual estão, em geral, em harmonia com a tradição da Igreja, embora, em alguns pontos, discrepem, como, por exemplo, a questão da hierarquia de fins do matrimônio e do casamento misto. Mas nomeou bispos que não ensinavam a doutrina tradicional e fez, na maioria dos casos, vista grossa.

O bispo Ratzinger, antes de ser eleito papa, levantou a questão da comunhão dos recasados e depois, como papa, seu ensinamento mais chocante em matéria de ética sexual foi a defesa do uso do preservativo pelos prostitutos. Ademais , foi um ardoroso apologista da liberdade de consciência. Há um famoso discurso dele que diz que, se tivesse de brindar à autoridade e a consciência, brindaria primeiro à consciência e depois à autoridade.

No momento, só me acodem à memória estes exemplos, que, certamente, poderiam multiplicar-se. Bastam, porém, para provar que Francisco I tem toda razão de dizer que apenas quer levar ao pleno cumprimento as disposições do Vaticano II. A muita gente causou raiva Bergoglio ter citado a intenção de João Paulo II de encontrar uma nova modalidade de exercício do ministério petrino para resolver os “desafios pastorais” do mundo contemporâneo.  À mesma classe de gente desagrada o fato de Francisco  I querer solucionar, de forma pragmática, sem muita especulação teológica, as dificuldades que vê no dia-a-dia da Igreja nas dioceses e paróquias espalhadas pelo mundo afora. Como se também nesse ponto Francisco divergisse dos seus ilustres predecessores da Igreja pós-conciliar. Ora, ninguém de boa fé me contestará que, embora fossem mais mais cultos e profundos na teologia,  Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI não eram absolutamente modelos de rigor doutrinário. Pelo contrário. Não obstante citações de São Tomás e do magistério de Pio XII, exerceram sua autoridade guiados pela nefasta nova teologia condenada pela Humani generis, de Pio XII.

A mim me parece hoje que a proposta de uma Igreja descentralizada que confiaria aos bispos e conferências episcopais a missão de encontrar para os diversos problemas pastorais soluções inspiradas no magistério da Igreja nada mais é que um sofisma. Porque, de fato, na imensa maioria das paróquias hoje o que prevalece é a soberania da consciência individual. O que ocorre na realidade é que Igreja apenas acompanha, anima, conforta, consola, aconselha os fiéis que a procuram, mas não há um exercício efetivo de uma autoridade. Cada um toma a decisão que quer. Isto está conforme o ensinamento de Francisco: cada um tem sua concepção de bem e deve segui-la. Neste ponto também Bergoglio se mostra em continuidade com João Paulo II, na medida em que parece influenciado pelo personalismo de Scheler que diz que o homem é o lugar único da divinização e que é um grave equívoco querer construir a ética sobre o dever ser normativo e não sobre sobre o dever ser ideal. (Cf. A filosofia contemporânea ocidental, I. M. Bochenski, Herder, SP, 1962). Na minha modesta opinião, é isto o que explica as diversas declarações e pronunciamentos  procedentes do Sínodo, no sentido de reduzir a doutrina moral da Igreja a um “ideal” a ser proposto e não uma norma a ser imposta.

Portanto, não se trata, na verdade, de uma descentralização, mas do reconhecimento, por parte da própria Igreja,  dos limites de sua ação no mundo moderno. Trata-se, realmente, de reconhecer que a imensa maioria dos católicos brinda primeiro a sua própria consciência e depois à autoridade.

Por último, que resultará do Sínodo? Creio que, se Francisco I vir que não triunfa a estratégia da “descentralização” (aliás, curiosamente contestada até por adeptos da inovações pastorais), redigirá depois um documento bem vago, bem misericordioso, em que reiterará mais uma vez sua doutrina da soberania da consciência individual. Igreja descentralizada não, mas individualizada, democratizada, roussseauniana, de um povo soberano e sacerdotal. Uma igreja em que o culto de Deus e o culto do homem dizem coexistir em paz.

Anápolis, 22 de outubro de 2015.

Fotos da Capela – Outubro 2015

Postado por Admin.Capela em 20/out/2015 - Sem Comentários

A humilhação da Colômbia, uma lição para todos nós

Postado por Admin.Capela em 15/out/2015 - Sem Comentários

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Quem ama a Hispano-América, outrora o Continente da esperança herdeiro das tradições da Contra-Reforma e da cultura barroca, não pode estar insensível diante das últimas notícias que nos chegam da Colômbia.

Realmente, entre as calamidades dos nossos dias sobressai a humilhação do país irmão que nos serve de advertência. As últimas notícias sobre os resultados dos diálogos em vista de um “acordo de paz” entre o governo de Bogotá e os criminosos comunistas do narcotráfico realizados em Havana informam que o referido acordo deverá culminar com uma reforma constitucional.

A serem verdadeiras essas notícias, não há outra conclusão que se possa tirar dos fatos senão que desapareceu completamente da mente dos líderes políticos modernos qualquer noção de justiça, prudência e dignidade. Com efeito, as notícias dizem que, além da reforma constitucional, está prevista uma anistia não só dos crimes “políticos” (o narcotráfico a serviço da revolução marxista na América!) mas outrossim dos crimes conexos (por exemplo, o porte ilegal de armas e o seu contrabando a serviço da mesma revolução!).

Estão patentes as consequências de tamanha impunidade, ou melhor, de tão grande prêmio e galardão conferidos a  bandidos agora tratados como “políticos”. Que se pode esperar de uma sociedade governada por tais “políticos” senão que somente os homens de bem serão perseguidos como intolerantes e reacionários porque querem que haja justiça e o crime seja devidamente reprimido e os traficantes condenados até à pena capital se assim o exigir o bem comum e a segurança do Estado? Mas não será apenas a perseguição dos homens de bem e a marginalização das boas famílias, toda a juventude da nação ficará ainda mais vulnerável a total corrupção moral vendo os bandidos elevados a categoria de lideranças sociais convidadas a participar de uma arena política. Ademais, que autoridade moral tem Havana para servir de árbitro de um conflito sócio-político? Sabe-se que figuras notáveis da chamada social democracia sul-americana estão por detrás promovendo esse conchavo entre “políticos” e traficantes travestidos em heróis da guerrilha marxista, como os senhores FHC e Ricardo Lagos do Chile. Desejaria saber se o bispo de Roma também não terá dado sua contribuição.

O exemplo deplorável da Colômbia vem comprovar uma lição da história da civilização: quando uma sociedade inteira se corrompe em praticamente todas suas instituições, para ela não haverá mais remédio a ser-lhe aplicado dentro da legalidade. No caso da Colômbia, bem como no do Brasil, não podemos esperar mais uma “saída” dentro da “lei”, ou uma reforma política (e/ou) constitucional segundo os princípios do direito político moderno ou as lições de ilustres constitucionalistas. A democracia produziu todos os seus frutos podres, levou a sociedade à beira da morte. De modo que, se não houver uma reação ao veneno da democracia, a nação morrerá literalmente.

O que nos resta (e para isso devemos preparar-nos) é o acirramento da crise, a confusão geral, enfim, o caos. Será o preço a ser pago, o castigo merecido. Se rezarmos e fizermos penitência, poderemos, quem sabe, obter da Divina Misericórdia a graça de nos enviar um homem providencial que nos liberte de tais misérias como as da Colômbia e as do “feminismo político” do Brasil e da Argentina, varra do cenário político essas mulheres mal-amadas, horrorosas, infelizes e ineptas que só chegaram ao poder porque realmente vivemos num deserto de homens que não querem mais ser pais, chefes de família e governantes de suas nações. É por causa dessa subversão total que emergem essas tipas Cristina Kirchner e Rousseff e um país, tão nobre como a Colômbia, chega à desagregação. Em outros tempos, quando havia ordem, essas damas ocupariam o seu devido dentro da sociedade, desempenhariam suas funções, poderiam ser úteis às suas famílias, mas jamais seriam guindadas a um cargo para o qual têm nenhuma qualificação e competência.

Gloriosa Santa Teresa de Jesus, em vossa festa, rogo-vos que impetreis do Divino Rei a graça de restaurar nossas famílias suscitando nelas o espírito de fé, o amor das virtudes e da ordem social cristã, a fim de que venhamos a ter no futuro homens de escol, uma autêntica aristocracia católica que expurgue do nosso meio toda sordidez da democracia moderna, esse terrível embuste satânico urdido nas lojas da judeu-maçonaria inimiga da Santa Igreja.

Anápolis, 15 de outubro de 2015.

Festa da Gloriosa Santa Teresa de Jesus.