Arquivo de julho de 2016

Dominus flevit super Galliam

Postado por Admin.Capela em 15/jul/2016 - Sem Comentários

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

A data não podia ser mais significativa: o fatídico 14 de julho, data comemorada só pelos inimigos de Deus e da Igreja, ou pelos idiotas úteis que ainda não compreenderam a perversidade da Revolução Francesa, marco inicial do direito político moderno, da farsa da democracia, da rebelião da soberania popular contra a autoridade legítima que governa conforme a Lei de Deus e não conforme os caprichos dos demagogos revolucionários.

14 de julho de 1789 não foi apenas um presságio das calamidades que se precipitariam; foi também uma advertência, para que os franceses (e todos os povos que viam na França a filha primogênita da Igreja e a imitavam) voltassem a trilhar o bom caminho da tradição, os ensinamentos da Igreja e dos Santos e combatessem e condenassem com firmeza os erros e heresias dos filósofos modernos e dos ideólogos do Iluminismo.

Infelizmente, a advertência não foi ouvida. Os anos passaram-se, sucederam-se os séculos. A mão poderosa de Deus feriu a humanidade por causa dos seus pecados e crimes: sobreveio a Revolução Comunista de 1917. Os erros da Rússia espalharam-se pelo mundo afora. Milhões de mortos inocentes. Sobreveio o nazifascismo. Regiões imensas do mundo gemem sob um regime totalitário que, em nome dos princípios revolucionários modernos, em nome da Liberdade, da Igualdade, da Fraternidade, declara guerra ao homem criado por Deus e tenta construir um novo homem, um homem sem Deu, um homem inimigo de Deus, um homem que quer ser um deus.

Em fins do século XX, a humanidade, embrutecida pelo materialismo, dopada pelas drogas e pela pornografia, a humanidade corrompida pela revolução cultural da Escola de Frankfurt que se difunde a partir da grande potência norte-americana, comemora a queda do Muro de Berlim, achando que a partir de então viveria no paraíso de uma democracia universal, onde os homens viveriam como bem entendessem, cada um com seus próprios valores, sem nenhuma preocupação em saber se há uma verdade objetiva, uma lei moral de ordem superior.

E pior ainda: depois da queda do Muro de Berlim, principalmente sob o influxo das diretrizes de Bruxelas, foi ficando patente que as lideranças da Nova Ordem Mundial, por meio de um multiculturalismo e de um falso ecumenismo (por desgraça, promovido pelo próprio Vaticano), estavam empenhadas em sepultar a antiga civilização cristã, apagar qualquer instituição, sobretudo a família monogâmica fundada por um homem e uma mulher, que lembrasse os antigos princípios da Santa Igreja, que tinham sido o fundamento da Velha Europa e das outras nações por ela geradas na América e noutros continentes.

No limiar do século XXI a humanidade recebe outro aviso doloroso vindo do céu: o atentado terrorista de 11 de Setembro de 2001 e, logo depois, uma grande crise financeira castiga inúmeros países, gerando desemprego, afligindo os chefes de família, frustando os mais jovens.

Não obstante todos esses avisos, todos esses presságios de que coisas ainda piores  estavam por vir, a humanidade continuou impenitente e surda, desafiando o seu Criador, desprezando a graça divina, tripudiando sobre os ensinamentos religiosos de que se tinha abeberado em seu berço. E cheia de orgulho pareceu dizer que nada a abalava e que tudo voltaria ao normal porque desde que o mundo é mundo não há nada de novo debaixo do sol, mas apenas alarmismo de falsos profetas de catástrofes.

E hoje, depois de Charlie Hebdo, depois do atentado do cabaré Bataclam, depois deste espantoso presságio de 14 de julho de 2016, parece que as lideranças mundiais da Democracia Satânica Universal, que declarou gerra à religião e a tudo que é sagrado e santo, gritam: nós amamos o caos, nós queremos o caos em escala mundial, nós odiamos a ordem, a hierarquia, a verdade, a lei divina; nós continuaremos pelo mesmo caminho do relativismo, do multiculturalismo; e mais: vamos perseguir e eliminar quem ousar defender um retorno à ordem tradicional. Nós vamos declarar guerra ao Reino Unido que ousou afastar-se de nós. Nós queremos que a desolação da Síria, passando pela Turquia, a antiga Porta, chegue ao coração da Europa.

Jonatham Cahn, em O Presságio – o antigo mistério que guarda o segredo do futuro do mundo, exagerando muito, diz que os EUA são o novo Israel, o povo eleito e abençoado por Deus no mundo moderno, o qual povo prospera e é feliz na medida em que é fiel à Lei de Deus e é castigado quando dela se afasta. Apesar do seu exagero, apesar de ser um absurdo dizer que os EUA são o novo Israel de Deus (o novo Israel é a Santa Igreja), tem um grande valor pedagógico o quadro traçado por Cham, mostrando como as grandes calamidades sofridas pelos EUA nos últimos anos foram realmente uma consequência da repugnante decadência de costumes de grande parcela da população norte-americana.

Se se pode dizer em sentido impróprio que alguma nação é o novo Israel de Deus é a França enquanto filha primogênita da Igreja, a França dos Cruzados, a França dos grandes Santos, a França de Mons. Lefèbvre, o santo bispo que combateu o modernismo e, por ter denunciado com intrepidez a islamização da sua pátria, foi por seus pérfidos governantes maçônicos, condenado como racista e incitador do ódio.

É por tudo isso e por muito mais que se poderia dizer é que, lembrando-me do Evangelho  do IX domingo depois de Pentecostes, o adapto à França: Dominus flevit super GalliamNão ficará pedra sobre pedra. Não conheceste o tempo da tua visitação. Tu condenaste os profetas que te enviei: um São Luis Maria Grignion de Montfort, uma Santa Margarida Alacoque, um Mons. Lefèbvre.

Anápolis, 15 de julho de 2016.

Festa de Santo Henrique Imperador

Alter Christus

Postado por Admin.Capela em 15/jul/2016 - Sem Comentários

Não sou sacerdote, sou apenas christifidelis laicus, um cristão católico, batizado, crismado, que se confessa e comunga. Não sou tampouco um leigo “engajado” como se costuma dizer hoje. Tenho, porém, uma ideia alta, sublime, do sacerdote, a mesma que tem Jesus, como se revela no Evangelho e nas epístolas de São Paulo, particularmente na Epístola aos Hebreus. Esta ideia é contradita por certos padres de hoje que não pregam mais Jesus nem sequer aos pequenos e aos doentes, que consideram a missa uma coisa aborrecida a ser evitada o máximo possível, que, pelo seu modo de viver e falar, dão a fundada impressão de não crer em mais nada.

Esses padres já perderam a sua identidade sacerdotal mais autêntica e, como disse um jovem amigo meu muito lúcido, não sendo mais leigos e tampouco vivendo como sacerdotes, são personagens a estudar.

Conheço um ex-padre que a cada chegada de um novo bispo à sua diocese, vai perguntar-lhe: “Mas quem sou eu? Um padre ou um leigo?”, até um dia em que um bom cônego, que se manteve firme na fé de sempre, lhe disse: “Você é um cretino!”

Diante da pergunta: “Que é o sacerdote?”, sou inclinado a citar os sacerdotes santos, tais como o Cura d’Ars (São João Maria Vianney), São João Bosco ou o bem-aventurado Edward Poppe ou o venerável Pio XII, ao lado de tantos outros.

Lendo-lhes as biografias, aparece claramente quem é o sacerdote, assim como o quis Jesus Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote.

Tudo parte de Jesus, o qual, sendo Sacerdote, ofereceu-se a si mesmo como hóstia (= vítima). “Ofereceu-se porque o quis” (Is. 53, 7); Eu dou a vida….ninguém ma toma…tenho o poder de dá-la e retomá-la de novo” (Jo. 10. 18).

Ele ofereceu-se sobre a cruz em adoração ao Padre, em expiação do pecado de cada homem – do pecado original até o fim do mundo – para libertar-nos do inferno e da morte eterna, para merecer-nos a vida divina da graça, isto é, a nossa elevação à ordem sobrenatural e abrir-nos o paraíso.

Só Jesus é Sacerdote, como só Ele é vítima; quis, entretanto, ter necessidade de ministros, de continuadores do seu Sacrifício até o fim dos séculos. Antes da sua paixão e morte, na última ceia com os seus apóstolos, instituindo a Eucaristia, sua Presença real no meio de nós, deixou à Igreja o seu Sacrifício e ordenou aos seus mesmos apóstolos e aos seus sucessores que o perpetuassem (Lc. 22, 19-20; I Cor. 11, 23-29).

E é por isso que todos os sacerdotes sobre a Terra, ordenados antes de tudo para tornar presente na Eucaristia Jesus vivo e verdadeiro (sacerdos propter Eucaristiam), são e devem ser em primeiro lugar totalmente cristo-teocentricos, quer dizer, concentrados e enraizados em Jesus Sumo e Eterno Sacerdote, fonte, arquétipo, modelo e paradigma de todo sacerdócio, para o culto e glória de Deus.

O sacramento da ordem sagrada imprime no ser de quem o recebe um novo ser, uma nova realidade ontológica: o caráter sacerdotal, como profunda configuração e assimilação com Cristo, Sacerdote e Vítima. Não é só uma configuração metafórica, mas real, na qual a forma de Cristo se imprime na alma e a “cristifica” até as suas mais íntimas fibras.

O próprio Jesus, por conseguinte, obra realmente no seu ministro: é Jesus que batiza, que absolve, prega e conduz as almas e o mundo à comunhão de vida com Deus na graça santificante até ao paraíso.

Jesus e o seu sacerdote são uma unidade inseparável no púlpito, na cátedra, no batistério, no confessionário e, de um modo ainda mais extraordinário, no altar.

Eis, o sacerdote verdadeiro é um “alter Christus”. Esta é a grandeza e o fascínio sublime de todo sacerdote que vive o seu sacerdócio. Todavia, infelizmente, hoje a “fumaça de Satanás entrou na Igreja de Deus, como reconhece o mesmo Paulo VI, e cumpriu-se a triste “profecia” feita em 1938 pelo cardeal Eugênio Pacelli, o futuro Pio XII:

“Há de vir o dia em que o mundo civilizado renegará o seu Deus, em que os homens da Igreja duvidarão, como Pedro duvidou à noite da prisão de Jesus. Serão tentados a crer que o homem se tornou deus, que Seu Filho é apenas um símbolo, uma filosofia como tantas outras, nas igrejas os cristãos buscarão em vão a lâmpada vermelha onde Jesus os espera e hão de perguntar-se como a Madalena que gritou diante da tumba vazia: “onde o puseram?”

Eis, Homens da Igreja, nós, pobres leigos, sempre mais estarrecidos ante o que fazeis, interrogamo-vos, como profetizou o cardeal Pacelli-Pio XII: “Jesus, o único Salvador, Aquele que deve ser a única razão da vossa vida, do vosso Sacerdócio, Jesus, onde o pusestes?”

Hoje, estamos diante de um tremendo esfacelamento, porque no lugar de Deus e de Seu Filho Jesus Cristo, único Salvador se pôs o homem: os seus problemas econômicos e sociais, o seu bem-estar, os seus valores verdadeiros ou pretensos, o homem – não mais Jesus Cristo – como medida de todas as coisas.

Com efeito, hoje, da parte daqueles que percebem que Jesus tem algo de decisivo a dizer à humanidade contemporânea para o presente e para o futuro, e de todos aqueles que, havendo-o já descoberto, não podem mais viver sem Ele, levanta-se a pergunta sempre mais incisiva: “Jesus, onde o pusestes?

Conhecemos em outros tempos (e ainda hoje) sacerdotes exemplares, completamente crisocêntricos: vivem de Jesus e dão Jesus às almas; ainda que com seus limites humanos, são “outros Jesus”.

“Não há no mundo – dizia o Santo Cura d’Ars – ninguém maior que o sacerdote. Se encontrasse um anjo e um sacerdote, primeiro saudaria  o sacerdote e depois o anjo. Porque só o sacerdote pode dar Jesus às almas e conduzir-nos ao paraíso.”

Esta, portanto, é a missão mais alta – a mais sublime – que exista sobre a Terra: tornar-se, ser “alter Christus”.

Pelo vosso Sacrifício, ó Jesus, sobre o Calvário e sobre o altar, por intercessão de Maria Santíssima, Mãe e Rainha dos vossos  sacerdotes, pelo exemplo e oração dos sacerdotes exemplares e santos, dai-nos ainda hoje, chamando-os entre os rapazes e jovens, sacerdotes deste jaez, desta estirpe. E, por meio deles, dai-vos a vós mesmo a nós. Nada mais.

Candidus

(Traduzido de Sì Sì no no 31 Marzo 2016)

DECET ROMANUM PONTIFICEM (Bula de excomunhão de Martinho Lutero)

Postado por Admin.Capela em 08/jul/2016 - Sem Comentários

PAPA LEÃO X

“DECET ROMANUM PONTIFICEM”

(3 de janeiro de 1521)

Bula de excomunhão de Martinho Lutero

Pelo poder que lhe foi conferido por Deus, o Romano Pontífice foi designado para administrar penas espirituais e temporais, segundo corresponda respectivamente a cada caso. O propósito disso é a repressão dos maliciosos desígnios de homens extraviados, que foram tão seduzidos pelo seu degradado impulso de fins perversos que esqueceram o temor de Deus, puseram de lado com desprezo decretos canônicos e mandamentos apostólicos, ousaram formular novos e falsos dogmas e introduziram o mal do cisma na Santa Igreja de Deus ― ou apoiaram, ajudaram e aderiram a tais cismáticos, os quais fazem comércio rasgando a túnica do nosso Redentor e a unidade da verdadeira fé.

Portanto, compete ao Pontífice, por temor de que a barca de Pedro pareça navegar sem piloto ou remador, tomar severas medidas contra tais homens e seus sequazes e, mediante o aumento de medidas punitivas e outros oportunos remédios, fazer com que esses mesmos homens prepotentes, dedicados como são a fins perversos, juntamente com os seus apoiadores, não enganem a multidão dos simples com as suas mentiras e mecanismos enganadores, nem os arrastem juntos na adesão ao seu erro e à sua própria ruína, contaminando-os com o que equivale a uma contagiosa doença.

Corresponde também ao Pontífice, depois de ter condenado os cismáticos, para evitar uma ainda maior perdição e confusão deles, mostrar e declarar pública e abertamente a todos os fiéis cristãos como são tremendas as censuras e penas às quais tal culpa pode levar, para que, por meio de tal declaração pública, aqueles possam, com contrição e remorso, voltar a si, fazendo retratação irrestrita das conversações proibidas, da amizade e, sobretudo, da obediência a tais réprobos excomungados, de maneira que possam evitar os castigos divinos e qualquer grau de participação nas condenações deles.

I. [Aqui, S.S. Leão X recapitula o teor da Bula “Exsurge Domine”, de 15/6/1520, mediante a qual denunciou os erros de Lutero; o texto integral pode ser encontrado em < http://agnusdei.50webs.com/exsdom1.htm >.]

II. Fomos informados de que, após essa precedente missiva ter sido exposta em público e ter transcorrido o intervalo ou intervalos nela prescritos ― e, com a presente, notificamos solenemente a todos os fiéis cristãos que esses intervalos transcorreram e estão transcorridos ―, muitos daqueles que tinham seguido os erros de Martinho Lutero tomaram conhecimento da nossa missiva e das suas advertências e injunções; o Espírito de um salutar conselho levou-os de novo a si, confessaram eles os seus erros e abjuraram a heresia conforme nossa instância e, voltando à verdadeira fé católica, obtiveram a bênção de absolvição que os mensageiros estavam autorizados a conceder; e, em diversos estados e localidades da Alemanha, os livros e escritos do mencionado Martinho foram publicamente queimados, como tínhamos mandado.

Nada obstante ― e dizer isto nos dá grave dor e perplexidade ―, o próprio Martinho, o escravo de uma mente depravada, teve desprezo em revogar e renegar os seus erros no intervalo prescrito e em nos enviar uma única palavra de tal revogação, como por Nós paternalmente solicitado, ou em vir pessoalmente até Nós; ao invés, como uma pedra de tropeço, não temeu escrever e pregar coisas piores que antes contra Nós, esta Santa Sé e a fé católica, e levar outros a fazerem o mesmo.

Agora é solenemente declarado herege; e assim também os demais, qualquer que seja a sua autoridade e grau, que não tiveram cuidado algum com a sua própria salvação, mas publicamente e perante os olhos de todos os homens se tornam sequazes da perniciosa e herética seita de Martinho; e aqueles que deram a ele aberta e publicamente ajuda, conselho e favor, encorajando-o na sua desobediência e obstinação, ou dificultando a publicação da nossa citada missiva. Tais homens incorreram nas penas estabelecidas naquela missiva e devem ser tratados legitimamente como hereges e evitados por todos os fiéis cristãos, como diz o Apóstolo [Epístola a Tito 3,10-11].

III. O nosso objetivo é que esses homens sejam legitimamente considerados na mesma esteira de Martinho e dos demais réprobos hereges e excomungados, e que, na hipótese de terem aderido com a mesma obstinação ao pecado do referido Martinho, compartilhem também das suas penas e seu próprio nome, trazendo em todos os lugares o título de “luteranos” e as penas que isso acarreta.

As nossas instruções precedentes eram bem claras e eficazmente divulgadas, e, ao se observarem de forma estrita os nossos presentes decretos e declarações, não faltará nenhuma prova, aviso ou citação. Os nossos seguintes decretos são emitidos contra Martinho e os demais que o seguem na obstinação do seu propósito depravado e execrável, assim como contra aqueles que o defendem e protegem com escolta militar e não temem apoiá-lo com recursos próprios ou de qualquer outra forma, e têm a pretensão de lhe oferecer e custear ajuda, conselho e favor. Os seus nomes, sobrenomes e graus ― por mais elevada e fulgurante que seja a sua dignidade ― desejamos que se considerem incluídos nestes decretos com o mesmo efeito que se estivessem elencados individualmente e listados na sua publicação, a qual há de ser promovida com uma energia à altura da força do seu conteúdo.

Sobre todos estes, decretamos as sentenças de excomunhão, de anátema, de nossa perpétua condenação e interdito, de privação de dignidades, honras e propriedades sobre eles e seus descendentes, de declarada inidoneidade para os próprios bens, de confisco dos seus bens e de traição; nestas e nas demais sentenças, censuras e penas que são infligidas pelo direito canônico aos hereges e que estão estabelecidas na nossa missiva supracitada, decretamos terem incidido todos esses homens para sua condenação.

IV. Acrescentamos à nossa presente declaração, pela nossa autoridade apostólica, que os estados, territórios, campos, cidades e lugares em que esses homens temporariamente viveram ou que tiveram a ocasião de visitar, juntamente com as suas posses ― cidades a possuir catedrais e sedes metropolitanas, mosteiros e outras casas religiosas e lugares sagrados, privilegiados ou não privilegiados ―, todos e cada um são colocados sob o nosso interdito eclesiástico; enquanto durar esse interdito, nenhuma pretensão de indulgência apostólica deve valer para permitir a celebração da missa e dos demais ofícios divinos (com exceção dos casos permitidos pela lei e, também ali, por assim dizer, a portas fechadas e excluídos aqueles sob excomunhão e interdito).

Prescrevemos e ordenamos que os homens em questão sejam em toda a parte denunciados publicamente como excomungados, réprobos, condenados, interditados, privados de bens e incapazes de possuí-los. Sejam eles rigorosamente evitados por todos os fiéis cristãos.

V. Queremos tornar conhecido de todos o mesquinho comércio que Martinho, os seus sequazes e os demais rebeldes estabeleceram, pela sua temeridade obstinada e sem vergonha, sobre Deus e sua Igreja. Queremos proteger o rebanho de um animal infeccioso, para que a sua infecção não se espalhe para as ovelhas saudáveis. Por isso, damos o seguinte mandado a todos os patriarcas, arcebispos, bispos, prelados de igrejas patriarcais, metropolitanas, catedrais e colegiadas, e religiosos de todas as ordens ― inclusive as mendicantes ― privilegiadas ou não privilegiadas, onde quer que se encontrem: que, em virtude do seu voto de obediência e sob pena de sentença de excomunhão, se assim for exigido para a execução destes decretos, anunciem publicamente e façam anunciar por meio de outros nas suas igrejas que esse mesmo Martinho e a sua facção são excomungados, réprobos, condenados, hereges, endurecidos, interditados, privados de bens e incapazes de possuí-los, e dessa forma elencados na execução destes decretos. Três dias serão concedidos: pronunciamos advertência canônica e concedemos um dia de pré-aviso sobre a primeira advertência, outro na segunda, mas, no terceiro, execução peremptória e definitiva da nossa ordem. Isso terá lugar no domingo ou em algum outro dia de festa, quando uma grande multidão se reúne para o culto. Seja alçado o estandarte da cruz, soem os sinos, acendam-se as velas e, após algum tempo, sejam apagadas, lançadas ao chão e pisadas, e pedras sejam lançadas três vezes, e observem-se as demais cerimônias de costume. Os fiéis cristãos, todos e cada um, sejam intimados estritamente a evitar esses homens.

Quiséramos uma outra vez contrastar o referido Martinho e os demais hereges que mencionamos, e, ainda, os seus adeptos, sequazes e partidários: desde já, mandamos a todo e cada um dos patriarcas, arcebispos e todos os demais prelados, em virtude do seu voto de obediência, que, sendo eles precisamente encarregados de dissipar cismas com a autoridade de São Jerônimo, devem, na atual crise, como lhes obriga o seu ofício, erguer uma muralha de defesa para o seu povo cristão. Estes não devem calar-se, como cães mudos que não podem latir [Isaías 56,10], mas incessantemente clamar e levantar a voz da pregação, fazendo com que seja anunciada a palavra de Deus e a verdade da fé católica contra os artigos condenados e heréticos citados acima.

VI. A todos os reitores de igrejas paroquiais, aos reitores de todas as ordens, mesmo as mendicantes, privilegiadas ou não privilegiadas, em virtude do voto de obediência, designados que são pelo Senhor para ser como as nuvens, que espalham chuvas espirituais sobre o povo de Deus, mandamos, nos mesmos termos, que não tenham medo de dar a maior publicidade à condenação dos artigos acima mencionados, como lhes obriga o seu ofício. Está escrito que o amor perfeito expulsa o medo. Que cada um de vós assuma o encargo desse meritório dever com completa devoção; mostrai-vos tão escrupulosos na sua execução, tão zelosos e solícitos em palavras e atos que, por meio dos vossos trabalhos, com o auxílio da divina graça, venha a esperada colheita e, pela vossa devoção, vós não somente ganheis aquela coroa de glória que é a recompensa devida a todos os que promovem a defesa da fé, mas também obtenhais de Nós e da Santa Sé o elogio irrestrito que a vossa diligência merece.

VII. No entanto, uma vez que seria difícil entregar a presente missiva, com as suas declarações e avisos, a Martinho em pessoa e aos outros declarados excomungados, por causa da força da sua facção, a nossa vontade é que a afixação pública desta missiva nas portas de duas catedrais ― ambas metropolitanas, ou uma catedral e uma metropolitana dentre as igrejas da Alemanha ―, por meio de um mensageiro nosso naqueles lugares, tenha uma força vinculante tal que Martinho e os demais que mencionamos devem mostrar-se condenados em todos os pontos peremptoriamente, como se a missiva tivesse sido levada ao seu conhecimento e apresentada a eles pessoalmente.

VIII. Também seria difícil transmitir esta missiva em cada lugar onde a sua publicação pudesse ser necessária. Daí a nossa vontade e decreto legítimo de que cópias suas, seladas por prelado eclesiástico ou por um dos nossos mensageiros anteriormente referidos, e autenticadas pela mão de notário público, tenham a mesma autoridade da proposição e exibição do próprio original.

IX. Nada obste a nossa vontade em constituições apostólicas, em decretos, na nossa já referida missiva precedente ou em quaisquer outros pronunciamentos em contrário.

X. Ninguém em absoluto pode infringir esta nossa decisão escrita, declaração, preceito, injunção, designação, vontade, decreto ou temerariamente contrariá-los. Se alguém se atrever a tentar tal coisa, saiba que incorrerá na ira de Deus Todo-Poderoso e dos Bem-Aventurados Apóstolos Pedro e Paulo.

Dado em Roma, junto de São Pedro, em 3 de janeiro de 1521, no oitavo ano do nosso pontificado.

PAPA LEÃO X