A agonia do Ocidente na visão de pigmeus e gigantes

Postado em 08-01-2013

Tornou-se hoje lugar comum  falar em decadência do Ocidente e ascensão da Ásia. Principalmente nesta temporada do ano, após tantas dificuldades em 2o12, as análises e comparações entre as duas partes da Terra se multiplicam com os mais variados prognósticos.

Gilles Lapouge, há poucos dias, publicou uma matéria com informações e números chocantes sobre a crise dos países da zona do euro. Ele referiu-se a um processo de desindustrialização da Europa em geral, com exceções (temporárias?) da Alemanha e da Inglaterra, por ser esta, ainda, importante centro financeiro. Elogiou a Islândia que preferiu enfrentar com altivez os seus próprios problemas a submeter-se às rédeas da pastora alemã e dos tecnocratas de Bruxelas. Diz Lapouge que a Europa, que nos últimos anos, em parceria com os EUA, era o centro do mundo, cede o lugar para Ásia e para o Oriente se voltam todos os olhares. E conclui sua análise manifestando sua esperança de que a Europa, retomando suas energias, vença esse desafio e reverta o quadro.

Por sua vez, Marc Hujer (de Der Spiegel) traça um quadro tenebroso da situação financeira dos EUA, falando da falência de um país que não aproveitou os anos de prosperidade para manter sua infraestrutura. Diz que as cidades dos EUA afundam em dívidas, mencionando especialmente o município de San Bernardino, onde faltam recursos até para pagar as pensões dos funcionários.

Não se nega a importância do fator econômico para a análise da realidade do mundo em que vivemos. Mas o que me parece inaceitável e cientificamente contestável é ater-se ao aspecto econômico e ignorar a dimensão moral do problema. Lendo todas essas matérias citadas, não se encontra uma palavra sequer sobre a crise da família, o baixo índice de natalidade, o envelhecimento da população, a desorientação da juventude, a invasão islâmica etc. Ora, todas essas coisas têm grande incidência sobre a crise financeira. Sabe-se, por exemplo, que um dos nossos grandes problemas, a baixa qualidade da mão de obra, não resulta tanto da falta de qualificação técnica quanto da falta de educação e má formação moral. E isto não ocorre só no Brasil. Enfim, vivemos o mal do economicismo. Nenhuma preocupação com os valores espirituais. Nenhum sinal de apreço pelas nossas raízes culturais. Tudo não passa de produto que deve circular pelo mercado global.

Tudo isso me fez lembrar as palavras de dois grandes pensadores católicos do século XIX, o Pe. Emmanuel André, autor de um precioso opúsculo La Sainte Eglise, entre outras obras de grande valor, e o visconde de Bonald, autor da célebre Théorie du pouvoir  politique et religieux. No citado opúsculo, o padre Emmanuel André faz uma penetrante reflexão sobre a história da Igreja e o drama do fim dos tempos e diz que, por um castigo infligido pela Providência Divina à apostasia das antigas nações da Cristandade, o Ocidente entraria em declínio e a Ásia teria uma ascenção. Diz o Pe. Emmanuel:

Les races latines sont vouées á execer dans le monde une influence catholique, ou bien à abdiquer. Leur mission est de servir à diffusion de l’Evangile; et leur existence politique est liée à cette mission. Du jour où elles y renonceraient par l’apostasie complète, elles seraient annihilées; et l”Antéchrist, surgissant probablement en Orient, les foulerait facilmentent aux pieds. E, em nota ao pé de página, acrescenta o padre André: C’est la tradition des premiers âges de l’Eglise, consignée dans Lactance, qu’ un jour l’empire du monde retournera en Asie: Imperium in Asiam revertetur (Clovis, 1997).

Em conclusão de suas reflexões sobre esse drama da história da Igreja, diz o padre André que incumbe aos cristãos agir no campo político para levar os governos a restabelecer as tradições cristãs, fora das quais não há se não decadência para as nações européias e, especialmente, para a pobre França.

Já o visconde de Bonald, em obra publicada em 1843, diz  que “A juger de l’avenir par le passé, les dechiremens effroyables qu’eprouva l’empire Romain par les inondations successives des Barbares, et sa dépopulation presque universelle, se répéteraient sur la malheureuse Europe: les mêmes peuples qui se faisaient appeler les fleaux de Dieu, viendraient la punir d’avoir oublié la Divinité, comme ils la punirent alors d’en avoir défiguré l’idée.” (Librairie D’Adrien le Clere, 1843).  E para corroborar sua tese Bonald cita o insuspeito Rousseau que diz algo no mesmo sentido.

Hoje, se temos de ler jornais da grande imprensa liberal para  manter-nos  informados, não podemos contentar-nos com essas leituras. É lamentável ver católicos assimilando o conteúdo de jornais e semanários órgãos da judeu-maçonaria, como se fossem oráculos sagrados. Infelizmente, temos de ler os jornais, repito, mas é absolutamente necessário julgar as informações veículadas à luz dos princípios eternos, dos ensinamentos dos grandes mestres da filosofia perene. Do contrário, seremos arrastados pela correnteza desse rio poluído  e pestífero da modernidade.

Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa

Anápolis, 8 de janeiro de 2013