A saborosa vitória de Trump

Postado em 10-11-2016

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Como sacerdote católico tradicionalista (Os verdadeiros amigos do povo são tradicionalistas, dizia São Pio X), em princípio monarquista (não um monarquista parlamentarista liberal), jamais fui um admirador dos EUA, mas tampouco jamais compartilhei a opinião da esquerda que considera os EUA o império do mal que vive da exploração das outras nações.

Minha antipatia pelos EUA foi sempre por outras razões. Deveu-se às suas origens históricas: uma nação nascida do que houve de pior na revolução religiosa do século XVI: as piores seitas heréticas da criminosa Inglaterra que tinha condenado à morte Santo Tomás Morus, Maria Stuart e milhares de católicos sacerdotes e leigos. Um reino corrompido não só pela heresia mas pelos gravíssimos erros filosóficos do nominalismo, do sensualismo, do contratualismo que tiveram  nefastas consequências no campo da moral, da política e geraram enfim uma visão do mundo completamente oposta à visão católica tradicional do que deva ser a verdadeira ordem política.

Minha antipatia deveu-se também à maneira brutal como os hereges colonizadores e seus descendentes trataram os índios e os negros. Um chileno bom observador das sociedades americana e brasileira me disse que há muitos anos atrás pôde comparar o negro americano e o negro brasileiro e concluiu que o negro brasileiro, apesar da pobreza do Brasil, estampava mais alegria e serenidade que o negro americano. E eu lhe disse que sem dúvida era mais uma diferença entre a cultura católica e a cultura protestante.

Os EUA, na minha opinião, sempre encarnaram e promoveram, ao longo da sua história, esses erros e males, ainda que não tivessem chegado ao ponto de aderir completamente ao espírito ateu do iluminismo mais exaltado, como bem o mostrou Alexis de Tocqueville em De la démocratie en Amérique. E justamente por não terem absorvido as idéias mais radicais do iluminismo os EUA ficaram mais ou menos preservados da mentalidade revolucionária francesa do século XVIII, ao menos no que esta tinha de mais visceralmente anticristão.

De maneira que os EUA sempre me pareceram uma nação que ficou na metade do caminho do processo revolucionário moderno. E por isso suas principais lideranças políticas não puderam jamais compreender como na Europa e em outras partes do mundo ocidental, sobretudo nas nações católicas, havia forças políticas contra-revolucionárias muito boas que mereciam ter recebido apoio dos EUA. Por exemplo, está provado que os EUA podiam, no final de primeira guerra mundial, ter impedido a dissolução do Império Austro-Húngaro e, consequentemente, ter impedido os desastres posteriores no leste europeu. Os EUA foram também contra o grande estadista católico português Antonio de Oliveira Salazar, que lutava para não deixar que os domínios ultramarinos de Portugal caíssem na escravidão comunista. Tudo isto para não falar da  proverbial incompetência dos EUA na condução dos negócios políticos ao final da segunda guerra. E a própria revolução cultural dos nossos dias, forjada pela equivocadamente chamada Escola de Frankfurt, na verdade foi cozinhada e temperada nos EUA.

É verdade que os EUA receberam inúmeros imigrantes católicos que puderam melhorar em boas condições de trabalho suas próprias vidas e a de suas famílias, ajudando assim, também, o crescimento dos EUA. Tanto assim que já no século XIX o papa Pio IX reconheceu que a Igreja tinha de valer-se da liberdade religiosa garantida pela constituição norte-americana para propagar a fé. E igualmente Pio XII incentivou muito o apostolado dos jesuítas nos EUA. Oxalá os católicos tradicionalistas dos EUA se multipliquem e venham a transformá-los na maior potência católica (de verdade) do mundo. Se essas famílias católicas devem ser gratas aos EUA, estes também o devem ser a elas, como, aliás, reconheceu o presidente recém-eleito.

De modo que, embora no meu coração não tenha muito carinho pelos EUA pelos motivos expostos (no meu coração entram o velho Portugal, a Espanha de Filipe II, a Áustria dos Habsburgos e a França do Ancien Regime), devo dizer que saboreei muito a vitória do sr. Donaldo Trump e por ela rezei a Nossa Senhora de Guadalupe.

Realmente, tenho esperança de que o Sr. Trump, justamente pelo ódio que despertou não só na cúpula do seu partido republicano mas em toda a grande mídia e entre os “intelectuais” da subcultura moderna, possa redimir os EUA dos seus  erros cometidos no campo da política internacional. Tenho esperança de que, em primeiro lugar, promova os valores morais, religiosos, familiares, a defesa de vida inocente no ventre materno, combata o feminismo execrando, a ideologia do gênero e ouras aberrações que eram a bandeira da sua adversária. Espero também que ele mantenha boas relações com o presidente da Rússia Vladimir Putin, não só reconhecendo a anexação da Criméia e enfraquecendo a OTAN no Leste Europeu, a fim de obrigar a UE a assumir o ônus de uma defesa injustificada, mas sobretudo unindo-se a Putin na defesa dos cristãos da Síria ameaçados pelo Estado Islâmico. Espero igualmente que Trump contenha as pretensões e a arrogância da ONU que teve a petulância de dizer que ele constituía um perigo para a paz mundial.

Enfim, apesar de meu coração não ser ianque, me alegro imensamente com a vitória do Sr. Donaldo Trump, não tanto pela esperança que despertou entre os bons, quanto pela desolação dos maus que estão espumando de ódio através da grande mídia.

Anápolis, 10 de novembro de 2016.

Santo André Avelino