Caso teológico – pastoral – Apoio às Mulheres Separadas que optaram por permanecer fieis ao Sacramento do Matrimônio e por isso não contraíram segunda união.

Postado em 24-12-2008

Ao escrever estas linhas, pretendo alertar especialmente ao Clero Diocesano  das muitas dificuldades porque passa uma mulher que vive desta maneira.

Vivo há 21 anos esta condição e quero deixar claro que não pretendo defender o meu caso , e sim lutar por esta causa.

Colocarei algumas das experiências tristes que vivenciei ao longo destes anos e também as queixas e mágoas de outras mulheres com as quais tive convivência.

Importante frisar que a participação do leigo que vive no mundo, contribui para a compreensão das realidades vigentes, atualizando sempre a Igreja sobre a discussão de temas importantes, não deixando assim nada abandonado ou esquecido.

É como leiga que participa e ama a Igreja que pretendo  abrir o meu coração.

Penso que a  Igreja se despersonaliza quando concede benefícios para aliviar as consciência.

Ela deve ser misericordiosa e acolhedora como Jesus o foi, porém não frágil a ponto de se perder.

As pastorais devem sempre seguir a linha da Igreja Romana para não perder o foco levando em conta demasiadamente o momento histórico, correndo assim o risco de se desvirtuar perdendo a unidade.

 

Porque quero defender esta causa

A maioria especialmente das mulheres que vivem esta situação de opção pela VIDA CELIBATARIA na fidelidade ao sacramento do matrimonio, que o recolhessem como indissolúvel, não encontram nas paróquias a que pertencem o apoio e a solidariedade de que necessitam.

Não há nem espaço, nem reconhecimento pelas dores do abandono e muito menos pelos esforços de viver nos dias de hoje uma vida casta pela qual não optou.

Importante saber que estas mulheres não tem vocação religiosa. Nasceram e são chamadas para serem esposas e mães, sendo que por muitas vezes assistem a falência de seu maior projeto que é o de constituir uma família.

Na maioria das vezes estas mulheres tem culpa sim no processo de separação, principalmente nos dias de hoje onde elas não são tão heróicas quanto as mulheres cristãs do passado, mas a grande maioria delas não quer ver a sua família desestruturada.

Não existe pastoral que cuide destas pessoas. Elas assistem o apoio que as paróquias oferecem nos casos em que se busca uma segunda união, sendo esta uma tentativa da nossa Igreja de correr atrás das ovelhas perdidas, oferecendo retiros específicos para estes casais ou mesmo concedendo cargos de ministros nas suas paróquias e deixando de lado completamente estas outras.

Muito pelo contrário o que se ouve dentro das igrejas e muitas vezes por parte até de pessoas atuantes nas pastorais é a desconfiança e a curiosidade por saber o motivo que leva alguém a viver desta forma não sendo raro ouvir esta pergunta: ”porque você não se casou de novo?”.

Isto mostra a ignorância religiosa ou mesmo indiferença pelo sacrifício e dor por que passa esta pessoa que tem um casamento e uma vida de família desfeita.

Se a igreja pretende investir na família, primeiramente tem que rever algumas posturas bastante comuns tais como não ter olhos ou espaço no sentido de valorizar aqueles que oferecem a Cristo e à Igreja a fidelidade ao sacramento do matrimônio nas suas vidas.

Os filhos permanecem unidos e a família embora truncada com a ausência do pai, prossegue quando a esposa não vê só sua realização como mulher ou como profissional, mas luta e vive a maternidade responsável, mantendo a família sob um mesmo teto vivendo no amor, na paciência e na dor solidária.

Inúmeras pessoas entram com o pedido de nulidade de seu matrimônio para contraírem uma segunda união na esperança de serem felizes novamente e deparam com uma nova decepção e arrependimento.

É preciso valorizar alegria de viver o caminho estreito ficando muitas vezes só, por amor a Deus e obediência à Igreja, uma vez que esta opção sempre leva à felicidade maior porque Deus assim o quis e por isso necessita destas pessoas para a construção do seu Reino

 

Porque eu fiz esta opção

Tive formação católica desde criança e sempre conheci a posição da Igreja a respeito da matéria

O fiz por pura obediência a Deus e a Igreja.

Sempre achei que tinha que viver o que acreditava por mais difícil que fosse. (coerência).

Tive apoio integral de minha família com respaldo emocional e afetivo.

Tive apoio de amigos que conheci na renovação carismática (em 88 o movimento estava no auge). Estas pessoas não mediam esforços em me ouvir, me aconselhar, rezando sempre por mim e demonstrando o amor de Cristo através deles.

Tive um diretor espiritual excelente do Opus Dei que me estimulava a ter uma atitude heróica diante do mundo e ao mesmo tempo levantava minha auto-estima mostrando o amor do Pai e me dizia que este talvez fosse este o meu caminho de santificação, o que me moveu em grande parte a decidir por esta estrada.

Muitas vezes me inspirei nos sacerdotes jovens que abriram mão de tudo para servir à Cristo. Eu não havia optado por tal desprendimento, mas ao observar especialmente estes sacerdotes fieis me inspirei na coragem deles para inovar numa postura nem um pouco resignada, porém atuante e contraditória no mundo de hoje.

Mas acima de qualquer coisa, contei com a graça de Deus. Nunca antes, nem mesmo agora senti de forma tão concreta o amor do Pai e Sua doce proteção. Este amor era tão sensível, tão real que se manifestava em pequenos milagres no cotidiano da minha vida. Assim Ele se mostrava presente e eu não me sentia só.

Nunca fui uma mulher forte e é por isso que a graça de Deus se fez tão presente em minha vida de forma tão explícita. Nesta ocasião sempre repetia as palavras de São Paulo: “tudo posso naquele que me fortalece”.

Comecei a ler a Sagrada Escritura e pedi a Deus que me fizesse compreender a Sua vontade na minha vida, e na Palavra encontrava um reforço para as minhas convicções.

 

Textos que li e que responderam às minhas inquietações

“é por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repudio das mulheres; mas no começo não foi assim. Ora eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimonio falso, e desposa uma outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério.” (Mateus 19, 7).

“todo aquele que rejeitar sua mulher, dê-lhe carta de divorcio. Eu, porém vos digo: todo aquele que rejeita a sua mulher, a faz tornar-se adúltera, a não ser que se trate de matrimonio falso; e todo aquele que desposa uma mulher rejeitada comete um adultério” (Mateus 5, 31).

“aos casados mando (não eu, mas o senhor) que a mulher não se separe do marido. E, se ela estiver separada que fique sem se casar, ou que se reconcilie com seu marido. Igualmente o marido não repudie a sua mulher” (s. Paulo aos coríntios 7-10à 11).

“quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultero contra a primeira. E se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete adultério.” (marcos 10-11).

 “todo o que abandonar sua mulher e casar com outra, comete adultério; e quem se casar com a mulher rejeitada comete adultério também” (Lucas 16-18).

 E. “assim a mulher casada está sujeita ao marido pela lei enquanto ela vive; mas, se o marido morrer, fica desobrigada da lei que a ligava ao marido. Por isso, enquanto viver o marido, se se tornar mulher de outro, será chamada de adultera. Porém morrendo o marido, fica desligada da lei, de maneira que, sem se tornar adúltera, poderá casar-se com outro homem”. (s.Paulo aos romanos 7 – 2e3)

 

Como se sente uma mulher que fez esta opção

Muitas mulheres que conheci e que viveram também esta situação mas que não tinham o apoio afetivo da família e espiritual da Igreja sucumbiram numa espécie de profunda depressão.

Uma delas que por muitos anos tentei ajudar tornou-se viciada em jogos, bebia e fumava muito, hoje está doente, fazendo hemodiálise e a espera de um rim para transplante. Esta senhora teve todo o apoio financeiro do  ex marido, mas de nada valeu para curar a dor da rejeição.

Outra senhora que conheci de família bastante católica começou sua procura de Deus de forma alucinada, querendo encontrar uma resposta para sua solidão. Andou por todos os movimentos religiosos da Igreja Católica, tumultuou bastante pois na verdade não queria o amor de Deus, mas o carinho e compreensão das pessoas. Acabou virando esotérica e participa de retiros com gurus e a ultima vez que a vi, achei que estava bastante perturbada.

Uma terceira não conseguiu superar o trauma apesar de ser também muito católica e contar com a ajuda de muita gente. Até hoje se sente infeliz e está sempre seduzindo as pessoas para elevar sua auto estima.

São muitos os casos que conheço de mulheres que se sentem desta maneira:

  1. Excluídas da sociedade pois a maioria dos eventos são para casais e uma mulher sozinha sempre se sente mal, mesmo que seja bem acolhida.
  2. Excluídas da proteção da lei que rege o direito de família por que hoje quando há uma separação o juiz diz a esta mulher que ela é forte, jovem e que vá trabalhar mesmo que nunca tenha trabalhado, ficando para a outra muitas vezes todos os benefícios de que ela esposa antes usufruía.
  3. Excluída da maioria dos movimentos da Igreja: Equipe de Casais, Casais que trabalham nas Pastorais da Igreja em cursos de noivos etc.

Estas mulheres têm que ter uma postura muito austera na Igreja – Paróquia, pois ainda temem os comentários que surgem quando elas têm uma relação mais cordial com o pároco.

O Pároco por sua vez deve se acautelar com estas mulheres carentes que muitas vezes encontram no Sacerdote o homem completo cujo apoio e admiração buscavam nos seus maridos.

Qual seria a solução para estes casos?

É complicado para o sacerdote e é arriscado para a mulher rejeitada, como pode a Igreja trabalhar com isto.

No meu ponto de vista a Igreja deve:

  1. Mencionar a existência destas pessoas e coloca-las num patamar de dignidade e não de infelizes que precisam de compreensão de toda a comunidade.
  2. Não sugerir de imediato que seu casamento deve ser nulo para que elas busquem no Tribunal Eclesiástico esta declaração de nulidade e tentem uma nova relação na qual provavelmente serão tão infelizes quanto antes, pois muitas vezes o problema está nelas mesmas.
  3. Mencionar a importância de viver com respeito esta condição, pois são como as “Viúvas do Antigo Testamento”, amadas e amparados por Deus. São as viúvas de marido vivo dos novos tempos.

Depois de conhecida pelo povo de Deus esta personagem quase sempre camuflada em beata ou amarga como “Mulher Digna”, só então sugiro uma Pastoral Para Mulheres Fieis ao Sacramento do Matrimônio.

Esta Pastoral deverá ser dirigida por uma senhora leiga, bem formada que viva esta situação e que esteja disposta a dar  seu tempo,  sua experiência e seu amor às demais.

O pároco dará um suporte nesta pastoral e até poderá ser eventualmente o diretor espiritual, mas nunca aquele que trata diretamente com ela.

 

Agora que conheci o Regnum Christi

Agora trabalhando no “CENTRO SACERDOTAL BOM PASTOR” que é um apostolado do Regnum à serviço do clero, comecei a focar meus olhares para o clero diocesano e para as paróquias que freqüentei ao longo desta caminhada.

Sinto-me na obrigação de alertar para mais este pequeno detalhe:

Nós leigos encontramos muitas vezes mais apoio espiritual por parte de sacerdotes de variados movimentos religiosos do que num pároco ou vigário de uma paróquia.

Penso e aqui vai a minha indagação: Seria o excesso de trabalho burocrático e a necessidade de se ordenar sacerdotes  tão urgente que esta matéria como outras estaria num segundo plano ?

Como Igreja eu falo no sentido de alertar e não é claro de cobrar: Há uma necessidade urgente da Igreja de rever certos critérios para deixar de ser tão relativista no que se refere a moral.

Ela deve ser é claro, sempre cheia de misericórdia, não tão radical quanto no passado, pois Cristo sempre foi amor e compreensão, mas nem tão frouxa como tem sido nos nossos tempos onde ela se despersonaliza e muitas das vezes perde a noção de pecado.

Dizem alguns que as seitas crescem porque a Igreja Católica é muito exigente. Muito pelo contrário como podemos observar eles são ultra radicais e trocam a nossa Igreja que por muitas vezes exige  pouco de seus fiéis.

Trabalhar no Centro Sacerdotal me levou a ter um olhar mais amplo da  Igreja, pois não foco somente na Igreja que vive à minha volta isto é: Meu diretor espiritual, as Igrejas que escolho para assistir a missa etc Observo um pouco mais longe. Olho para as paróquias e  párocos e tenho vontade de falar como membro leigo, desta realidade.

 

Conclusão

Quando conheci o REGNUMCHRISTI comecei a me encantar com esta busca do equilíbrio que foi a figura do Cristo que viveu o amor no sentido pleno e a obediência ao Pai acima de tudo.

Amor…misericórdia….obediência

Ser radical no amor, na obediência.

Ser compreensiva com o pecador .

A Igreja é um legado de Cristo e me senti imbuída da ânsia de lutar por esta Igreja ainda peregrina em busca da perfeição.

Luto e sofro por ela desde menina e foi este o motivo que me levou a falar sobre este caso que parece tão particular, tão sem importância, mas que na verdade acaba refletindo no comportamento da família que é um dos maiores bens a ser preservado e protegido pela própria Igreja de Cristo.

Nos dias de hoje a posição da mulher é em grande parte responsável por muitos desatinos da sociedade e cabe à Igreja ir aos poucos modificando estes conceitos, sem radicalismo, sem opressão, mas com firmeza.

O código civil brasileiro concede às concubinas o mesmo direito das esposas legítimas. Foi tirado da “antiga esposa” todo o privilegio que tinha por ser mãe e esteio da família.

Foi a própria mulher que lutou por isso e hoje vive a frustração de se confundir com qualquer  namoro eventual de seu marido, por que a lei segue os “usos e costumes” e  sua moral só foca o comportamento do homem naquele momento histórico.

É preciso resgatar a Dignidade da mulher e daí vem a importância das paróquias no sentido de valorizar as mulheres que lutam por viver desta maneira.

Só valorizando a postura destas mulheres, a Igreja coerente conseguirá valorizar o casamento novamente e por conseqüência a família.

Não há outro caminho.

Não há outra lógica.

Termino minhas palavras com os dizeres do Padre Marcial Maciel LC – junho de 1985:

“… para alguns, o matrimônio não é mais que um contrato social, para outros é um estado de vida em que ambos compartilham totalmente sua vida, sua pessoa e seu destino; mas para o católico, o matrimônio é muito mais (…), é caminho de santidade porque dentro dele se vive para amar sem egoísmos e sem interesses pessoais (…)”

 

Meu nome é  Maria de Almeida Prado Costa.

Namorei 5 anos.

Fiquei casada 13 anos.

Tive 5 filhos.

Estou separada  21 anos.

 

Agradeço à Deus por todos os dias da minha vida e por tudo de maravilhoso que Ele me concedeu ao longo destes anos”.