Conselhos de um pai aos próprios filhos

Postado em 01-02-2021

Caros filhos,

Comecei a perguntar-me como se comportariam em relação à minha memória se um dia Deus me chamasse. Então quis formular nesta carta alguns conselhos para vocês. Dou-me conta de que é uma responsabilidade muito grande, pois, como dizia Sófocles, não há pior inimigo que um mau conselho. Mas os conselhos do pai de vocês, que lhes quer o bem, nascem da adesão aos “valores eternos” que elevaram a civilização ao cume, são os “valores cristãos”.

A primeira coisa que quero dizer-lhes é que a vida é uma batalha: Militia est vita hominis super terram. Agrade-lhes ou não o combate será parte integrante da vida de vocês: será em primeiro lugar um combate espiritual contra as tentações e as mentiras deste mundo, e em segundo lugar um combate material, para defender a sua vida, a sua família e os frutos do seu trabalho.

Não se abatam se o mundo empregar contra vocês forças incalculáveis, o príncipe deste mundo nos detesta e nos inveja porque ele já está condenado, enquanto nós estamos destinados às alegrias eternas. Recordem-se sempre de que o auxílio divino está mais próximo que a  porta de casa!

Orgulhem-se sempre dos valores que o pai de vocês lhes transmitiu, ainda que outros não os compartilhem e queiram crer desesperadamente que a vida funciona melhor sem Deus. Esses tais estão dominados pelo “pensamento único”, vivem no recinto da “lógica inoculada” onde falam e agem de modo padronizado, porque só assim podem obter espaço e aceitação junto a seus semelhantes.

Não se intimidem diante daqueles que zombam da fé de vocês; fazem-no porque esta representa uma censura ao mal deles, ao comportamento deles, e gostariam de trocar as próprias dúvidas pela confiança de vocês em Deus.

Apreciem o silêncio. As almas infelizes precisam de barulho para desviar o olhar para a infelicidade delas.

“Quem não quer trabalhar não coma” dizia São Paulo. Por isso, trabalhem honestamente, mas atentos a não se deixar explorar; aprendam a utilizar as ferramentas de trabalho porque, como dizia Santo Tomás, “não existem ofícios baixos, existem homens baixos”.

Sejam humildes: “Uma carroça de boas obras puxada pela soberba conduz ao inferno, enquanto uma carroça de pecados conduzida pela humildade chega ao paraíso” (São Gregória de Nissa).

Sejam disciplinados, com uma vontade firme e viril sem esquecer que não se pode ter tudo de uma só vez. Cumpre programar o futuro, escolher, decidir e depois passar à ação.

Lembrem-se de que a regra de São Paulo para o matrimônio é o único “algoritmo” confiável: “as mulheres sejam submissas aos maridos, como ao Senhor. Os maridos amem suas mulheres como Cristo amou a Igreja entregou-se a si mesmo a ela”.

Vivam sua vida sem estar condicionados à opinião dos outros ainda que sejam seus chefes, obedecendo somente àquilo que é conforme a lei perfeita do Evangelho: “Todas as perturbações do coração vêm do desejo desmedido de agradar aos homens e do temor de desagradar-lhes” ( Imitação de Cristo ).

Recordem-se da Santa Missa: “Seria mais fácil que a terra se regesse sem o sol que sem a Santa Missa”. Mas não se esqueçam de que a verdadeira Missa é a Tridentina e não a moderna. A Igreja moderna encerra em si todos os erros condenados no Syllabus ( Pio IX) e na Pascendi ( Pio X ).

Vi perder a fé a muitas pessoas e depois resvalar na indiferença, na insatisfação e inquietação. Não se iludam, as provas que o Senhor lhes reserva se podem superar só com o auxílio divino!

Aprendam a compreender desde logo que o sistema político, econômico, mediático em que vivemos vai completamente contra as leis de Deus. Nunca como agora estão reduzindo os espaços vitais e a serenidade em mil modos, fazendo alavanca sobre nossas mentes com falsas necessidades contingentes, com imposturas e compromissos, ou até mesmo apresentando-nos orientações desleais como úteis à nossa proteção.

Prestem atenção porque esse sistema é muito astuto, é feito para orientá-los para o lado mau: fará empurrar a atenção de vocês contra o ângulo agudo dos símbolos do bem-estar, todos os dias lhes fará topar com aquilo que o mundo mostra como desejável e como símbolo do sucesso. Quem é arrastado pelo mecanismo acaba por perder a alma: as promessas de felicidade que se mudam pelo avesso são o mais antigo truque de Satanás.

Altos níveis sociais, poder, dinheiro e glória são a recompensa que recebem aqueles que aceitaram trabalhar para a causa do poder mundano. Mas não se deixem enganar: a pirâmide social é destinada a manter-nos escravos das necessidades induzidas por aquele que domina o mundo.

Saibam que o mundo do trabalho é um círculo infernal. A competição econômico-social que se realiza no trabalho é imposta do alto e serve para manter as massas empenhadas na carnificina sobre o osso monetário. Cada incumbência laborativa se torna especulação defensiva: mors tua vita mea; nesse ambiente a gente só pode tornar-se pior.

Não se deixem atemorizar pela “selva dos sem Deus”. Jesus disse “Não vos deixarei órfãos”.

Cuidado com quantos, por inveja e maldade, tentarão destruir-lhes a fé através do uso de motivações em aparência dificilmente opináveis. Empenham-se em levantar objeções contra a verdadeira religião e nunca contra as falsas! Vi tropeçar diante das argumentações desses tais a muitas pessoas.

Vão dizer-lhes que Jesus era apenas um homem e que não há diferença entre Ele e os fundadores dos impérios e as divindades de outras religiões. As mentes superficiais vêem esta semelhança, mas na realidade entre o catolicismo e qualquer outra religião há uma diferença infinita. Porque também eu quando jovem me deixei arrastar pelas correntes falsas, quero dirigir-lhes algumas palavras sobre este ponto.

O espírito de Cristo supera qualquer homem, entre Ele e qualquer outro no mundo não pode haver um possível termo de comparação. A sua faculdade persuasiva não pode ser explicada em um contexto humano. A história da sua vida, a profundidade do seu dogma, o seu reino, a sua vitória sobre os séculos e as civilizações, tudo é um prodígio. A sua religião provém de uma inteligência que não pode ser uma inteligência humana.

Com que autoridade ensina aos homens a rezar e impõe, sem uso de força, a sua doutrina sem que ninguém possa contradizê-lo!

A sua originalidade produz máximas que são únicas. Jesus não se apóia sobre nenhuma das nossas ciências, procede através de milagres e persuade com um apelo ao coração. Por isso não tem necessidade de impor a ninguém estudos preliminares nem conhecimentos de algum tipo: para Ele a religião consiste em crer. De resto as ciências e a filosofia não servem para a salvação da alma.

Para o cristão bastam o bom senso, o coração puro e o espírito reto, porquanto o cristianismo não é uma ideologia, mas uma regra que guia todas as ações, os pensamentos e os momentos da vida do homem.

Por isso Ele dirige-se só à alma e com Ele a alma reconquistou a própria soberania e toda a ramificação da especulação filosófica e científica recupera o justo papel conforme se submete à fé em Deus.

Nem a natureza, nem a história, nem os homens têm nada que possa ser posto  no nível que seja comparável a Jesus. No Evangelho tudo é extraordinário e acima da mente humana. É um livro único no qual o espírito experimenta uma beleza inexistente alhures.

Quem alguma vez foi capaz de realizar essa revolução?

Tudo que concerne a Cristo revela sua natureza divina, ao passo que tudo que concerne aos homens, também aos grandes personagens da história, revela a sua natureza  terrena. A obra desses personagens foi limitada à vida deles, a influência deles na história não se prolongou além da vida deles.

Cristo depois da sua morte continuou a conquistar o mundo. Os povos passam, os tronos caem, mas a Igreja continua.

Quem é comparável a Ele?

Maomé é digno de crédito só quando se apóia na Bíblia e no sentimento inato da fé em Deus. Quanto ao resto, o Corão é um sistema de dominação política imposto com a força da espada. Nele, a ambição do homem é exaltada ao mesmo tempo que são estimuladas todas as paixões e a sensualidade. Maomé quer levar o árabe ao gozo de todos os sentidos permitidos nesta vida e prometidos na futura. Deste modo obteve o consentimento do povo. Mas a sensualidade ao fim destrói o indivíduo e os povos se se torna o objetivo da existência deles.

Cristo não teve jamais ambições terrenas, estava ligado só à sua missão transcendente. Se tivesse querido teria podido tornar-se um chefe político e conquistar um poder e um controle absoluto sobre os seres humanos, justamente o que queriam os judeus. Mas Jesus foi o primeiro que ousou atacar abertamente a interpretação errônea das Sagradas Escrituras declarando que as suas vitórias eram espirituais, eram vitórias sobre os vícios dos homens. Não empregou jamais o seu carisma divino para submeter, mas para elevar espiritualmente todos os homens.

A inquietação do homem é tal que só pode aplacá-la o mistério maravilhoso do cristianismo. A religião católica é a única capaz da concórdia. É verdade que impõe dogmas, mas quem não reconhece nenhum dogma, nenhuma doutrina, é aquele que desmente ou refuta amanhã aquilo que diz crer hoje.

Certamente, para crer naquilo que diz Cristo é preciso ter fé, isto é, é preciso crer nele como verdadeiro  Deus e verdadeiro homem. Não é tão difícil se se pensa em todos os milagres realizados durante a sua vida e também depois em seu nome. Se se crê nele, todo o resto deriva com precisão algébrica. O cristianismo satisfaz não só o coração mas também a razão daqueles que aceitaram crer. Os crentes, portanto, descobrem que com a fé todas as dificuldades se superam.

Até a ciência confirma os detalhes contidos nos Evangelhos através de numerosos estudos feitos sobre o Sudário. As datações radiocarbônicas dos anos 80 foram uma tentativa da maçonaria de falsificar a idade do tecido, mas os últimos estudos como o realizado por Enea di Frascati em 2012 demonstram sem nenhuma dúvida a autenticidade do Sudário, e dão evidência que o mecanismo de formação da imagem corpórea é devido à “desmaterialização” de um corpo que se torna “mecanicamente transparente”com relação ao lençol. Aquilo que nós cristãos chamamos “Ressurreição”.

Jesus é o personagem mais extraordinário de toda a história: não tinha servos e o chamavam Senhor; não tinha exército e os reis o temiam; não tinha vencido batalhas militares e não obstante isso conquistou o mundo; não cometeu delito e foi crucificado; morreu e ao terceiro dia ressuscitou e agora vive e continuar a acompanhar-nos.

Caros filhos, eu e a mãe de vocês tentamos ser bons genitores, mas os genitores ideais não existem (exceto São José e Nossa Senhora). Certamente, vocês sofreram erros dos seus pais, assim como deles receberam tanto amor. Cumpre ver e não negar os limites e os erros dos próprios genitores para não repeti-los. Espero que estes conselhos lhes sejam úteis no caminho da vida de vocês. Deus os abençoe e proteja!

Abraço-os com amor.

Vosso Pai.

Si si no no, 15 de outubro de 2020.