Êxtase e vigília de João Paulo II

Postado em 07-11-2018

Pondo ordem em vários recortes de jornal que enchem nossas pastas, encontramos uma nota publicada no quotidiano  “A verdade”, datada precisamente de 19 de novembro de 2017, assinada por Francesco Borgonovo. A referida nota traz uma entrevista exclusiva de Mons. Mauro Longhi, o qual narra uma visão noturna tida pelo papa João Paulo II em férias nos dias de março e abril de 1993, sobre as montanhas do Gran Sasso na região de Montecristo. Um fato que chamou nossa atenção e ora propomos ao leitores de Si Si No No, por tudo que nela há de surpreendentemente paradoxal.

Mons. Longhi não se reporta a um relato, mas assegura ter tido notícia, como uma confidência, diretamente do próprio João Paulo II durante uma repousante caminhada matutina. Apresentemos o núcleo mais significativo da visão como mons. Longhi assegura tê-la recebido.

João Paulo II narra:

“Guarda estas palavras, porque são palavras de um papa. Conserva-as para aqueles que tu encontrarás na Igreja do terceiro milênio. Vejo a Igreja afligida por uma chaga mortal. Mais profunda, mais dolorosa, mais mortal se comparada com as deste milênio. Chama-se islamismo. Invadirão a Europa. Vi as hordas provenientes do Oriente. Invadirão a Europa, a Europa será um celeiro, velhas relíquias, penumbra, teias de aranha. Recordações de família. Vós, Igreja do terceiro milênio, devereis conter a invasão. Mas não com as armas, as armas não bastarão, com a vossa fé vivida com integridade”.

Acrescenta o monsenhor que o papa elencou os países pelos quais se devia temer, mas na entrevista não são citados.

Comentário do articulista: “Em 1993 teria sido mais difícil imaginar uma situação como a atual”.

Réplica nossa: estranho que fosse difícil 1) porque já em Poitiers (732), já em Lepanto (1571), já em Viena (1638) o Islão tentou escravizar a cristandade; 2) porque isto significavam as ameaçadoras “profecias” do falecido presidente argelino Houari Boumediènne que, em 1972, previu a invasão islâmica do terceiro milênio feita por jovens, mulheres e crianças; 3) porque outras vozes respeitáveis haviam prevenido a Europa quanto ao perigo iminente, entre as quais ida Magli e Oriana Fallaci.

Mas o tema da nossa intervenção não é tanto investigar sobre como e quando intervir para conter o fluxo massivo de clandestinos islâmicos quanto descobrir a contradição que explode entre Wojtyla “extático” e Wojtyla desperto. Sim, porque no que concerne a esta trágica história tudo é estridente na conduta de João Paulo II que, a distância de 24 anos, nos vem apresentado como aquele que havia advertido, o qual, se ainda fosse vivo, poderia dizer-nos “Bem que vos avisei!”

Contudo, contudo… João Paulo II é o mesmo que acordado:

1 – Aos 11 de dezembro de 1984 mandou um representante seu para assistir ao lançamento da pedra fundamental da primeira mesquita de Roma – a maior da Europa – aprovando assim a falsa religião do Islão que nega a Santíssima Trindade, a Divindade de Cristo e persegue os cristãos;

2- Organizou, em outubro de 1996, em Assis, o primeiro festival multi-religioso, convencido, como afirmou no discurso aos cardeais aos 22 de dezembro, que qualquer oração autêntica – e portanto também a oração islâmica, budista, animista, induísta, luterana, anglicana, hebraica – é movida pelo Espírito Santo que está presente, de maneira misteriosa, no coração de cada homem, renegando, deste modo, o salmo 95 – palavra de Deus – que, no versículo 5, afirma “omnes dii gentium daemonia” – todos os ídolos dos pagãos são demônios;

3- Em uma audiência “ecumênica”aos 12 de dezembro de 1986, concedida ao grande mufti da Síria, Ahmed Kaftaro, importante autoridade muçulmana, houve por bem confessar: “Todos os dias leio um trecho do Corão”;

4- Em visita ao Sudão – fevereiro de 1993 – terminou o seu discurso dando a bênção em nome de Alá, com a fórmula “Baraka Allah as-Sudan” (Alá abençoe o Sudão) – L’Osservatore Romano 15 de fevereiro de 1993 – exprimindo o reconhecimento ao governo sudanês por tanta estima demonstrada para com a Igreja católica, não recordando João Paulo II que, de maio de 1983 a 1993, tinham sido massacrados, por aquele regime, mais de 1 milhão e 300 mil sudaneses, entre os quais milhares de cristãos católicos;

5 – Reconheceu valor salvífico a todas as religiões cujos fundadores – Maomé, Buda, Lao Tse, Zoroastro, Confúcio – “realizaram, com a ajuda do Espírito de Deus, uma mais profunda experiência religiosa” (O.R. 10 de setembro de 1998), pondo Jesus, Filho de Deus e segunda Pessoa da Trindade, no mesmo plano dos falsos e pagãos profetas, anunciador de uma sua pessoal “experiência”.

6- Diante de uma delegação cristão-islâmica iraquiana, aos 14 de maio de 1999, beija o Corão que, conforme ele mesmo revelou, é um livro que lê diariamente;

7- Aos 13 de abril de 2000 recebe em audiência privada o jovem soberano e chefe espiritual do Marrocos islâmico, Mohamed VI, filho do falecido rei Hassan II, saudando-o como descendente direto do profeta Maomé”;

8- Aos 6 de maio de 2001 – o primeiro papa em tal circunstância – visita a mesquita de Omar, rezando com as autoridades locais islâmicas;

 

Estes são os atos “ecumênicos” documentados e incontestáveis, que mostram a dupla personalidade de João Paulo II, um papa que, enquanto, no êxtase noturno, teve uma visão da horda islâmica e nos exorta a ser vigilantes, na vigília diurna, lhe abre as portas da Europa. E não se deve dizer que a suposta visão – ou, talvez, mais provavelmente um sentimento de culpa que se materializou sob a forma de uma visão noturna – se verificou pouco antes de sua morte, de maneira que se possa considerar como uma tardia mas eficaz tomada de consciência e de autêntico pedido de perdão que se soma aos precedentes pedidos que ele, em nome da Igreja, havia feito: mea culpa pelas iniquidades com que a Esposa de Cristo se havia manchado, no curso da sua história: as cruzadas, ditaduras, antissemitismo, inquisição, escravidão, mafia, racismo, guerras de religião, conflitos com a ciência, humilhação da mulher, shoah…

E por que agora a testemunha, mons. Longhi, se decide a revelar esta advertência a distância de 24 anos, quando a invasão é em pleno fluxo, incontrolável? Quer fazer-nos crer que o “santo” papa vaticanosecundista, com esta sua revelação, gozava do dom de profecia? E se assim fosse, porque a confiou a uma só pessoa e não à comunidade católica? E por que, conquanto conhecesse antecipadamente os desenvolvimentos de um fenômeno, inicialmente migratório, que se revelou depois uma verdadeira invasão, calou-se continuando a dispensar diplomas e atestados de credibilidade e de verdade ao Islão? Santidade, para que partido jogastes?

Com qual fé devemos resistir às hordas? Com uma igual à sua, saudável à noite e enferma de dia, que se assemelha à covardia, à hipocrisia, ao oportunismo ou, deveríamos dizer, à apostasia?

E assim, eis-nos invadidos, imbeles, seduzidos pelo melaço do acolhimento, na teia pegajosa de um bergoglismo que, com atos de uma traição à Iscariotes, está entregando nas mãos dos inimigos a pequena grei de Cristo.

Exsurge, Domine!

L.P.

SI SI NO NO, 30 de setembro de 2018