O homem pinguim

Postado em 28-07-2021

Autor: Pe. Francesco Maria Putti

[Original italiano: < http://www.sisinono.org/j3/anteprime-2012/52-anno-2014/237-anno-xxxx-n%C2%B021.html >]

A história da humanidade demonstra que o “rei” do universo conhecido não aproveita a experiência dos outros e repete mais os mesmos erros de sempre do que as virtudes daqueles que o precederam.

A descoberta de uma lei física ou química, ocasionada amiúde por uma metodologia racional de pesquisa com adequados e inúmeros experimentos – e mais ainda pelo acaso durante os mesmos experimentos –, faz o homem acreditar que é o senhor da natureza naquele determinado campo, enquanto apenas descobre o que já havia desde antes, além de descobrir a utilidade ou relativa defesa que pode tirar disso em determinados momentos, lugares e tempos.

A limitação própria do homem é evidenciada por tudo, mas não é por ele aceita, mesmo ele percebendo que capta os efeitos, mas não as causas das coisas, cujo “porquê” lhe escapa.

Assim, pois, o homem tem a ciência, ou seja, um conjunto de cognições obtidas por reflexão e raciocínio em torno das coisas criadas, mas nunca a sabedoria, que “é a cognição das coisas nas suas razões mais íntimas e nas suas causas mais remotas” (Santo Tomás); a ciência colhe o efeito, enquanto a sabedoria se situa na causa criadora, ou seja, em Deus, e o homem que refuta essa realidade não tem outra solução senão exaltar o próprio “eu”.

Como o pinguim que poderia, se fosse um ser racional, considerar-se um homem ao se ver à distância no espelho, assim pode o homem acreditar ser um deus unicamente ao se ver à distância no espelho do próprio “eu”.

A inteligência de um homem (inclusive a de um grande homem) é justamente definida “inteligência deficiente”, pois é condicionada pelo seu próprio físico, aliado a um sistema nervoso, ambos carentes ou saturados de alguma substância química “x” ou “y” conhecida ou não. De maneira que a inteligência perfeita em todas as áreas não é do homem; para tê-la, deveria não ser condicionado pelo próprio corpo e pela natureza das coisas externas, de cuja presença sofre sem poder dominá-la, mas deveria ainda mais não ser condicionado pelo próprio “eu”.

Existe, ao invés, uma inteligência comum que se aproxima do suficiente em toda atividade humana. Esse é o homem no seu estado natural; assim nasceram os filhos de Adão e Eva depois da queda original, assim nascemos nós, assim nascerão os futuros homens.

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O que pode modificar o homem para o bem, seja no crescimento seja no tempo, não é a tecnologia etc., mas os sãos princípios; não aqueles ditados pela ciência do homem cheio do próprio “eu”, mas aqueles ditados pela sabedoria de Deus.

A sabedoria de Deus é imutável e, enquanto Criador do homem e de toda a natureza que o circunda, é a única que possa indicar ao homem o caminho seguro e certo para alcançar o seu fim, não somente na ordem da vida eterna, mas também na ordem da vida terrena. Ao se comprometer e assim se descartar o caminho seguro indicado pela sabedoria, nasce a confusão na natureza do homem decaído; o caminho na ordem espiritual é confundida com o caminho terreno e vice-versa; consequentemente, nasce e prospera a confusão das ideias; o bem é confundido com o mal e vice-versa.

É coisa antiga que haja semeadores de cizânia dentre aqueles que, por si mesmos e por outros, querem descartar Deus para fazer triunfar o próprio “eu”, mas que também dentre os filhos… de Deus haja semeadores de cizânia, quem descarte Deus e quem busque o triunfo do próprio “eu” é absolutamente repugnante.

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É repugnante porque são homens que conhecem a lei de Deus e se declaram amigos, inclusive ministros de Deus, mas não hesitam, com palavras e gestos, com seus compromissos, em entristecer a casa de Deus, que é a Igreja; essa mesma Igreja que é guardiã, com plena autoridade, da Revelação, da sua exata interpretação, dos sacramentos, da moral etc.

Tais pessoas, que se autoexcluem da vida da Igreja militante, praticamente menosprezam a autoridade da Igreja em seus ensinamentos, feitos para o bem de toda a humanidade, e querem substituí-los com os ensinamentos do próprio “eu” guiado pela própria inteligência “deficiente”, pois se consideram possuidores livres e absolutos… do Espírito Santo, daquele mesmo Espírito Santo que não reconhecem presente nos ensinamentos e disposições da Igreja.

Na ordem da natureza, a experimentação corrobora a descoberta e obriga a aceitá-la, e assim é na ordem espiritual, ou seja, o Espírito Santo corrobora o ensinamento da Igreja, e a Fé na presença certa do Espírito Santo obriga a aceitá-lo.

Mas para o homem-pinguim, que se vê “deus” no espelho do próprio “eu”, não é assim! Se não ousa declarar-se deus, declara-se oficialmente possuidor de um Espírito Santo em contínuo contraste com o da Igreja.

O demônio tem bons motivos para descansar; já há quem o substitui com a mesma plenitude de propósitos.