Os mártires coptas e o Angelus do meio dia

Postado em 20-02-2015

Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Quem ainda guarda íntegra a fé católica não pode ficar indiferente ao brutal suplício dos cristãos coptas na Líbia por obra dos fanáticos partidários do Estado Islâmico. Não se trata de deplorar a falta de tolerância ou de respeito “aos direitos humanos” ou a falta de consciência dos valores da democracia pluralista, que ainda não penetrou em algumas regiões do planeta.

Não cabe dizer que ocorreu um revivescimento de instintos primitivos da humanidade que pareciam completamente superados. Tampouco cabe dizer que o diálogo inter-religioso ainda não produziu seus frutos esperados e é preciso confiar que o tal diálogo, iniciado pelo Vaticano II, ainda há de brindar a humanidade com dias de paz por meio da confraternização de todas as religiões Não. Não se trata disso. Os defensores desse discurso humanista da ONU e da nova religião do homem é que devem ser hoje postos no banco dos réus como culpados e responsáveis por tal monstruosidade. Confiam no homem. E a Sagrada Escritura diz: “Maldito o homem que confia no homem.”

Diante do ocorrido em Trípoli, a atitude do católico deve ser outra. Por um lado, deve louvar a Deus por ainda dispensar aos seus filhos, em tempos de apostasia,  a graça do martírio.  E por outro lado, deve deplorar a cegueira dos nossos governantes, das nossas lideranças religiosas e políticas, que não se mostram à altura da gravidade da hora. Alguns, mesmo diante da morte dos coptas e do sofrimento dos seus parentes ameaçados, continuam pensando apenas nos seus interesses econômicos localizados na Líbia. Outros reagem imbecilmente empregando o discurso do politicamente correto.

Quando, no fim da Idade Média, ante a queda de Constantinopla em 23 de maio de 1453, o Papa Calixto III e São João de Capistrano pregaram uma cruzada contra o sultão Maomé II que investia contra Belgrado, não encontraram, infelizmente, entre os príncipes cristãos uma boa resposta ao apelo da cristandade que então esboroava. Somente a Dieta da Hungria respondeu com galhardia ao chamamento do Papa, encarregando o príncipe János Hunyadi de recrutar as forças necessárias para empreender a cruzada contra os turcos infiéis e insolentes. Houve então a triunfal batalha de Belgrado aos 22 de julho de 1456. E para perpetuar a memória de tão gloriosa gesta contra os turcos o Papa ordenou que doravante se soasse o Angelus em todas as igrejas; mas em sua origem o Angelus do meio dia tinha sido previsto pelo papa para chamar os católicos à cruzada. (Cf. Henry Bogdan, Histoire des Habsbourg – des origines à nos jours. Paris, 2005)

A propósito do apelo do Papa Calixto III e da pregação de São João de Capistrano, cumpre notar que, embora a mentalidade daqueles tempos já não se distinguisse pela nobreza do ideal das cruzadas dos séculos anteriores e os príncipes estivessem mais ocupados com suas ambições políticas e temporais, o Papa então cumpriu o seu dever e não foi em vão, porquanto lhe correspondeu o herói János Hunyadi.

Hoje, não temos ninguém. Nem Calixto III. Nem São João de Capistrano. Nem János Hunyadi. Nem os Habsburgos. Temos a democracia e os democratas. Temos Obama e outros inomináveis.

Em semelhante desolação, rezemos o Angelus do meio dia em honra dos coptas degolados por amor de Cristo na Líbia. Roguemos a Rainha das Vitórias que esmague todas as forças da democracia moderna, a nova religião da humanidade insuflada pela judeu-maçonaria, que remova da face da terra o laicismo, o liberalismo, e humilhe com suprema humilhação todos os inimigos da Santa Igreja. Ut inimicos Sanctae Ecclesiae humiliare digneris, te rogamus. Vindica sanguinem Saanctorum tuorum, qui effusus est. Ó Deus, os gentios entraram no que era vosso; poluíram o vosso Santo Templo.

Anápolis, 20 de fevereiro de 2015.

Em adenda: quando escrevi este artigo pensei que os cristãos martirizados eram católicos romanos. Soube depois que eram cristãos da Igreja Copta cismática do Egito. Em assim sendo, é preciso recordar o ensinamento do Papa Bento XIV: podem eles ser considerados mártires coram Deo neque coram Ecclesia. É inaceitável a proposta de um martirológio ecumênico. Santo Agostinho dizia que os donatistas e outros hereges e cismáticos não podiam ser venerados como mártires quando mortos pelos pagãos. No caso dos coptas, é claro que há uma circunstância muito atenuante: com efeito são antes herdeiros do que fautores de heresia e cisma.