Art. 6 — Se a caridade é a maior das virtudes teologais.

(IIª. lIae , q. 23, a. 6).

O sexto discute-se assim. — Parece que a caridade não é a maior das virtudes teologais.

1. — Pois, como a fé reside no intelecto, e a esperança e a caridade na potência apetitiva, como já se disse1, resulta que a fé está para a esperança e a caridade, como a virtude intelectual para a moral. Ora, aquela é maior que esta, como do sobredito resulta2. Logo, a fé é maior que a esperança e a caridade.

2. Demais. — O resultado de uma adição é maior que o adicionado. Ora, parece que a esperança é como que adicionada à caridade, pois pressupõe o amor, como diz Agostinho3, porque torna mais intensa a tendência para a coisa amada. Logo, é maior que a caridade.

3. Demais. — A causa tem prioridade sobre o efeito. Ora, a fé e a esperança são causas da caridade, conforme a glosa de Mateus 1, que diz que a fé gera a esperança e a esperança, a caridade. Logo, a fé e a esperança são maiores que a caridade.

Mas, em contrário, diz a Escritura (1 Cor 13, 13): Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três virtudes; porém a maior delas é a caridade.

SOLUÇÃO. — Como já dissemos4, a grandeza específica da virtude depende do objeto. Ora, como são três as virtudes teologais referentes a Deus, como objeto próprio, uma não pode ser considerada maior que outra por ter um objeto maior, mas por estar mais próxima dele. E deste modo, a caridade é a maior de todas. Pois, as outras implicam, por essência, uma certa distância do objeto, porquanto a fé versa sobre o que não vemos, e a esperança sobre o que não temos. Ao passo que o amor de caridade recai sobre o que já possuímos, pois o amado está, de certa maneira, no amante; e, pelo afeto, este é levado a unir-se àquele; e por isso, diz a Escritura (1 Jo 4, 16): aquele que permanece na caridade permanece em Deus, e Deus nele.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A fé não está para a esperança e a caridade como a prudência para as virtudes morais. E isto por duas razões. — A primeira é que as virtudes teologais tem um objeto superior à alma humana, ao passo que a prudência e as virtudes morais versam sobre o que é inferior ao homem. Ora, o amor do que é superior ao homem é mais nobre que o conhecimento. Pois, o conhecimento se completa pela presença do objeto no sujeito conhecente, enquanto que o amor, pela tendência do amante para o amado. Ora, o superior ao homem é mais nobre em si mesmo do que pelo modo que nele existe, pois aquilo que em outrem existe, existe ao modo deste. O contrário sucede com o inferior ao homem. — A segunda é que a prudência modera os movimentos apetitivos, dependentes das virtudes morais. Ora, a fé não modera o movimento apetitivo tendente para Deus, que pertence às virtudes teologais, mas somente mostra o objeto. Ora, o movimento apetitivo para o objeto excede o conhecimento humano, conforme aquilo da Escritura (Ef 3, 19): a caridade de Cristo, que excede todo entendimento.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A esperança pressupõe o amor d’aquilo que esperamos alcançar, que é o amor de concupiscência, pelo qual mais nos amamos a nós mesmos, quando desejamos o bem, que qualquer outra coisa. Ao passo que a caridade implica o amor de amizade, ao qual nos leva a esperança, como já dissemos5.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A causa perficiente tem prioridade sobre o seu efeito, mas não a causa dispositiva. Do contrário, o calor do fogo seria mais forte que a alma, à qual ele dispõe a matéria, o que é evidentemente falso. Assim, pois, a fé gera a esperança, e esta, a caridade, enquanto uma dispõe para a outra.
1. Q. 62, a. 3.
2. Q. 66, a. 3.
3. Enchir. (cap. VIII).
4. Q. 66, a. 3.
5. Q. 62, a. 4.