Art. 3 — Se além da soberba e da avareza, há outros pecados especiais chamados capitais.

(II Sent., dist. XLII, q. 2, a. 3; De Malo, q. 8, a. 1).

O terceiro discute-se assim. — Parece que além da soberba e da avareza não há outros pecados especiais chamados capitais.

1. — Pois, a cabeça está para os animais, como a raiz, para as plantas, conforme diz Aristóteles; porque as raízes se assemelham à boca. Se portanto a cobiça é considerada raiz de todos os males, só ela, e nenhum outro pecado, deve ser tida como vício capital.

2. Demais. — A cabeça está numa certa ordem relativa aos outros membros, enquanto dela derivam, de algum modo, para todos eles, o sentido e o movimento. Ora, o pecado assim se chama por implicar privação da ordem. Logo, não exerce função capital; e portanto, não se devem admitir nenhuns pecados capitais.

3. Demais. — Chamam-se capitais os cri­mes expiados com pena capital. Ora, certos pecados, em cada gênero deles, são punidos com essa pena. Logo, os vícios capitais não são vícios especificamente determinados.

Mas, em contrário, Gregório enumera cer­tos vícios especiais a que chama capitais.

SOLUÇÃO. — Capital vem de cabeça. Ora, esta propriamente é o membro principal e dire­tivo de todo o animal. Por isso, chama-se me­taforicamente, cabeça a tudo o que é princípio e diretivo; e também os homens, que dirigem e governam, são chamados cabeças. Por onde, de um modo, a denominação de vício capital vem de cabeça, em sentido próprio. E nesta acepção chama-se pecado capital o punido com a pena capital. Mas não é neste sentido que tratamos agora dos pecados capitais, mas con­sideramos aqui o pecado capital como derivado de cabeça, em outra acepção, a saber, a metafórica, significando que ele é o princípio ou o diretivo dos outros pecados. E assim chama-se vício capital aquele donde os outros nascem, e principalmente quanto à origem da causa final que é a origem formal como já se disse (q. 72, a. 6). Por onde, o vício capital não só é o princípio dos outros, mas também os dirige e de certo modo os chefia. Pois sempre a arte ou o hábito, a que pertence o fim, tem o principado e o império sobre os meios. Por isso Gregório compara esses vícios capitais com os chefes dos exércitos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A denominação de capital vem de cabeça. E implica uma certa derivação ou participação da cabeça, como tendo alguma propriedade desta e não como sendo a cabeça, em sentido literal. Por isso chamam-se capitais não só os vícios que desempenham a função de origem primeira, co­mo a avareza, denominada raiz, e a soberba, denominada início; mas também os que desempenham a função de origem próxima de vá­rios pecados.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O pecado carece de ordem pelo afastamento que causa, pois, por aí é um mal; e na verdade, segundo Agos­tinho, o mal é a privação do modo, da espécie e da ordem. Quanto ao que busca, contudo, o pecado implica um certo bem e, por este lado é susceptível de ordem.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A objeção colhe quanto ao pecado capital, enquanto assim cha­mado por causa do reato da pena. Ora, não é neste sentido que agora dele tratamos.