Art. 1 — Se na celebração deste sacramento Cristo é imolado.

O primeiro discute-se assim. — Parece que Cristo não é imolado na celebração deste sacra­mento.

1. — Pois, diz o Apóstolo: Cristo, com uma só oferenda, fez perfeitos para sempre aos que tem santificado. Ora, essa oferenda foi a sua imolação. Logo, Cristo não é imolado na celebração deste sacramento.

2. Demais. — A imolação de Cristo foi feita na cruz, na qual, como diz o Apóstolo, se entregou a si mesmo por nós outros, como oferenda e hóstia a Deus em odor de suavidade. Ora, na celebração deste mistério Cristo não é crucifi­cado. Logo, não é imolado.

3. Demais. — Como diz Agostinho, na imolação de Cristo, sacerdote e hóstia se identificam. Ora, não se identifica o sacerdote com a hóstia na celebração deste sacramento. Logo, a cele­bração deste sacramento não é a imolação de Cristo.

Mas, em contrário, Agostinho: Cristo imo­lou-se uma vez em si mesmo e, contudo todos os dias é imolado no sacramento.

SOLUÇÃO. — Por duas razões se diz que a celebração deste sacramento é a imolação de Cris­to. – Primeiro, porque, como diz Agostinho, cos­tumamos dar às imagens o mesmo nome que têm os seres representados por elas, assim, con­templando um quadro ou uma parede pintada, dizemos – aquele é Cícero, aquel’outro é Salús­tio. Ora, a celebração deste sacramento, como dissemos, é uma imagem representativa da paixão de Cristo, que é uma verdadeira imola­ção. Por isso Ambrósio diz: Em Cristo foi ofe­recida uma só vez a hóstia, eficaz para produzir a salvação eterna. Por que, pois, a oferecemos nós todos os dias? Para recordar a morte de Cristo. – Em segundo lugar, quanto ao efeito da paixão; pois, por este sacramento tornamo-nos participantes dos frutos da paixão do Senhor. Por isso uma certa oração dominical secreta diz: Quantas vezes se celebrar a comemoração, outras tantas se renovará a obra da nossa redenção. Quanto, pois, à primeira razão, poderíamos dizer que Cristo foi imolado mesmo nas figuras do Testamento Velho. Por isso diz o Apocalipse: Aqueles cujos nomes não esta escritos no livro da vida do Cordeiro, que foi imolado desde o princípio do mundo. Mas, quanto à segunda, é próprio à celebração deste sacramento que Cris­to seja nele imolado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­Como Ambrósio diz no mesmo lugar, uma só é a hóstia, que Cristo ofereceu e nós oferecemos, e não muitas, porque Cristo foi oferecido uma vez só; pois, este sacrifício é a representação da­quele; e assim como o que é oferecido em toda parte é um só corpo e não muitos, assim também o sacrifício é um só.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Assim como a celebração deste sacramento é a imagem representativa da paixão de Cristo, assim o altar é repre­sentativo da sua cruz, na qual Cristo imolou o seu próprio corpo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Pela mesma razão também o sacerdote representa a imagem de Cristo, em cujo nome e por cujo poder pronun­cia as Palavras da consagração, como do sobre­dito se colhe. E assim, de certo modo, sacerdote e hóstia se identificam.