Art. 3 ─ Se só pelo mérito da vida pode alguém adquirir o poder das ordens.

O terceiro discute-se assim. ─ Parece que só pelo mérito da vida pode-se adquirir o poder da ordem.

1. Pois, como diz Crisóstomo, nem todo sacerdote é santo, mas todo santo é sacerdote. Ora, é pelos méritos da nossa vida que nos tornamos santos. Logo, também o sacerdote. E com muito maior razão os que tem outras ordens.

2. Demais. ─ Na ordem natural estão colocados em grau superior os que mais próximos estão de Deus e mais lhe participam da bondade, como diz Dionísio. Ora, quem tem o mérito da santidade e da ciência por isso mesmo se torna mais próximo de Deus mais lhe participa da bondade. Logo, por isso mesmo recebe um grau da ordem.

Mas, em contrário. ─ A santidade pode ser perdida depois de adquirida. Ora, a ordem, uma vez recebida, não pode mais ser perdida. Logo, a ordem não consiste no mérito mesmo da santidade.

SOLUÇÃO. ─ A causa deve ser proporcionada ao seu efeito. Por onde, assim como Cristo, de quem mana a graça para todos os homens, há de ter a plenitude dela, assim os ministros da Igreja, a quem não incumbe dar a graça, mas só os sacramentos dela, não são constituídos em nenhum grau da ordem só pelo fato de terem a graça, mas por participarem de algum sacramento dela.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Crisóstomo toma a palavra sacerdote no seu sentido etimológico, como significando o que dá o sagrado. Ora, assim, qualquer justo pode ser chamado sacerdote, por dar a outrem o socorro dos sacramentos. Mas, no caso vertente não tomamos esse vocábulo no seu sentido etimológico. Pois, essa palavra sacerdote foi aplicada a significar quem confere os dons sagrados na dispensa dos sacramentos.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Na ordem natural uns seres se tornam superiores a outros em grau quando, pela sua forma, podem agir sobre estes. E assim, por isso mesmo que tem uma forma de maior nobreza, são constituídos em grau mais elevado. Ora, os ministros não são prepostos aos fiéis afim de lhes conferir seja o que for por santidade própria, porque isso só Deus pode fazer; mas como ministros e como uns instrumentos desse efluxo, que vem da cabeça para os membros. Por isso o símile não colhe quanto à dignidade da ordem, embora seja exato quanto à conveniência dela.