Art. 2 ─ Se a coroa é uma ordem.

O segundo discute-se assim. ─ Parece que a coroa é uma ordem.

1. – Pois, nos atos da Igreja, o espiritual deve corresponder ao corporal. Ora, a coroa é um sinal material que a Igreja usa. Logo, parece que lhe há de corresponder uma significação espiritual. Portanto o fato de se receber a coroa imprime caráter e é ela uma ordem.

2. Demais. ─ Assim como a confirmação e as outras ordens são conferidas só pelo bispo, assim também a coroa. Ora, a confirmação e as outras ordens imprimem caráter. Logo, também a coroa. Donde, a mesma conclusão que antes.

3. Demais. ─ A ordem implica um certo grau de dignidade. Ora, um clérigo, só pelo fato de o ser, é constituído num grau superior ao povo. Logo, a coroa, que o torna clérigo, é uma ordem.

Mas, em contrário. ─ Nenhuma ordem é dada senão com a celebração da missa. Ora, a coroa pode ser conferida mesmo sem missa. Logo, não é uma ordem.

2. Demais. ─ Na cotação de qualquer ordem, faz-se menção do poder conferido. Ora, tal não se faz na cotação da coroa. Logo, não é ordem.

SOLUÇÃO. – Os ministros da Igreja são separados do povo para poderem nascer ao culto divino. Ora, no culto divino há certas funções cujo exercício supõe poderes determinados; e para isso é conferido o poder espiritual da ordem. Outras funções há porém exercidas em comum por todo o colégio dos ministros, como cantar os louvores divinos. E para essas não é necessário em nada o poder da ordem, mas só uma certa destinação a esse ofício. E isso se dá pela coroa, a qual, pois, não é uma ordem, mas um preâmbulo para ela.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ A coroa corresponde, em si mesma, algo de espiritual, como ao sinal corresponde a causa significada. Mas isso não é nenhum poder espiritual. Por isso a coroa não imprime nenhum caráter, nem é ordem.

RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Embora a coroa não imprima caráter, contudo destina quem a recebe ao culto divino. Eis porque essa destinação deve fazer-se pelo mais elevado dos ministros, que é o bispo, o qual também abençoa as vestes, os vasos e tudo o mais destinado ao culto divino.

RESPOSTA À TERCEIRA. ─ O clérigo, só pelo ser, já se acha num estado mais elevado que o leigo; mas não tem por isso o grau mais elevado de poder, que a ordem requer.